Pesquisadora

O dinamismo de Aracy Amaral se evidencia pela profusão de livros e catálogos publicados, resultantes de suas incansáveis pesquisas na área de artes visuais. Se essas leituras são obrigatórias para especialistas, outros públicos também podem usufruir de seus escritos, redigidos sempre com linguagem direta e acessível. Para além disso, os leitores juvenis podem tirar proveito de livros de arte especialmente dirigidos a eles – e as crianças, de livros de histórias imaginadas.

Entre alguns dos principais livros de Aracy Amaral estão: Tarsila sua Obra e seu Tempo (2010), Arte e Sociedade no Brasil (2005), Arte Para Quê? A Preocupação Social na Arte Brasileira (2003), Artes Plásticas na Semana de 22 (1998), A Hispanidade em São Paulo (1981) e Blaise Cendrars no Brasil e os Modernistas (1970).

Em tempo! A pesquisadora foi responsável pelo primeiro levantamento sistemático da obra da pintora Tarsila do Amaral, que se desdobrou em livros, exposições, trabalhos acadêmicos e textos jornalísticos. Quando Tarsila faleceu, Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema sobre a pintora e o dedicou a Aracy.

Aracy Amaral, sentada em sofá criado pela arquiteta Zaha Hadid, no Museu MAXXI, em Roma, ca. 2015 | foto: Ruth Taransantchi/reprodução | acervo pessoal Aracy Amaral

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Brasil Tarsila

A Araci Amaral

Carlos Drummond de Andrade

Tarsila
descendente direta de Brás Cubas
Tarsila
princesa do café na alta de ilusões
Tarsila
engastada na pulseira gótica do colégio de Barcelona
Tarsila
medularmente paulistinha de Capivari reaprendendo
o amarelo vivo
o rosa violáceo
o azul pureza
o verde cantante
desprezados pelo doutor bom gosto oficial.

Tarsila radar tranquilo
captando em traço elíptico
o vazio da rua de Congonhas com um cachorro e uma
[galinha servindo de multidão
a mudez da rua de São João del Rei com duas meninas
[no cenário operístico de casas e igreja
o silêncio do desvio ferroviário
o sono da cidade pequena onde as casas são boizinhos
[espalhados em presépio.
(Tarsila, Oswald e Mário revelando Minas aos mineiros
[de Anatole.)
Tarsila acordando para o pesadelo
de assombrações pré-colombianas tão vivas agora
[como outrora
abaporu das noites na fazenda
bichos que não existem? mas existentes
cactos-animais, pedras-árvores,
monstros a expulsar de nossa mente
ou a recolher para melhor
seguir nosso traçado preternatural.
Tarsila mágica,
meu Deus, tão simples,
alheia às técnicas analíticas de Freud
e desvendando
as grutas, os alçapões, as perambeiras
da consciência rural,
expondo ao sol
a alegria colorida da libertação.

Tarsila relâmpago
de beleza no Grande Hotel de Belo Horizonte em 24
acabando com o mandamento das pintoras feias
Quero ser em arte
a caipirinha de São Bernardo
A mais elegante das caipirinhas
a mais sensível das parisienses
jogada de brincadeira na festa antropofágica.

Tarsila
nome brasil, musa radiante
que não queima, dália sobrevivente
no jardim desfolhado, mas constante
em serena presença nacional
fixada com doçura,
Tarsila
amora amorável d’amaral
prazer dos olhos meus onde te encontres
azul e rosa e verde para sempre.

 

Poema de Carlos Drummond de Andrade dedicado a Aracy Amaral e intitulado “Brasil/Tarsila”; publicado no jornal Tribuna da Bahia, Salvador, em 21 de janeiro de 1973 | crédito: Agência Riff

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“Um traço que chama bastante atenção na Aracy é essa disponibilidade incessante e interminável para atualizações. É inacreditável a curiosidade que ela tem pra tudo.”

Paulo Portella

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A PESQUISADORA

Paulo Portella, artista visual e educador, André Toral, pesquisador, artista visual e filho de Aracy, Ana Maria Belluzzo, professora e curadora, e Regina Teixeira de Barros, curadora e professora, falam sobre o lado investigadora de Aracy Amaral e comentam sobre a contribuição de suas pesquisas para a história da arte brasileira e da América-Latina.

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"Tem um outro lado bem importante da Aracy que é a contribuição dela para uma inserção do Brasil numa ideia de América-Latina"

Regina Teixeira de Barros

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A Hispanidade em São Paulo – da Casa Rural à Capela de Santo Antônio – uma das obras mais importantes de Aracy Amaral – foi lançada em 1981 e investiga a influência da arquitetura hispano-americana nas construções paulistas.

Neste mapa você conhece alguns dos pontos arquitetônicos da América Latina apontados por Aracy para sustentar sua hipótese no livro. A autora segue a rota iniciada por Mário de Andrade nos anos 1920, ampliando territórios e descobertas e comprovando a influência hispano-americana na arquitetura colonial em São Paulo.

Como ação decorrente do programa Ocupação Aracy Amaral, o Itaú Cultural promove a reedição do livro, atendendo a um desejo da autora da pesquisa: revisitar o tema e apresentá-lo com nova roupagem.

A publicação estará em breve à venda pela Editora 34.

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Artigo “O Brasil no contexto latino-americano”, de Aracy Amaral, publicado na Folha de S. Paulo em 6 de abril de 1975 | acervo do jornal