os 40 anos

1975-1977

A seguir destacamos algumas acontecimentos da história do grupo.

O Grupo Corpo é fundado em 1975 pelos irmãos Pederneiras – Paulo, Rodrigo, Miriam e Pedro –, na casa onde nasceram, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

No ano seguinte, o grupo estreia o espetáculo Maria Maria, com música original assinada por Milton Nascimento, roteiro de Fernando Brant e coreografia do argentino Oscar Araiz.

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Momentos Marcantes

No vídeo: Paulo Pederneiras (diretor artístico do Grupo Corpo) e Rodrigo Pederneiras (coreógrafo do Grupo Corpo).

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1978-1981

Em 1978 o grupo inaugura sua nova sede em Belo Horizonte com a apresentação do espetáculo Cantares, primeira incursão do bailarino Rodrigo Pederneiras como coreógrafo da companhia. O balé conta com trilha especialmente composta por Marco Antônio Guimarães (1949-1986), violoncelista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e tido como um dos expoentes da cena instrumental mineira da época.

No mesmo ano a companhia realiza, com Maria Maria (1976), sua primeira turnê internacional, passando por sete países da América Latina, além de Paris, na França, e Lisboa, em Portugal.

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A criação do espetáculo Suíte Branca

No vídeo: Cassi Abranches (coreógrafa do Grupo Corpo), Rodrigo Pederneiras (coreógrafo do Grupo Corpo), Paulo Pederneiras (diretor artístico do Grupo Corpo) e Iracity Cardoso (diretora artística do Balé da Cidade).

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1982-1985

Considerado um marco na trajetória do grupo, o espetáculo Prelúdios – leitura cênica da interpretação do pianista Nelson Freire para os 24 prelúdios de Chopin – estreia em 1985.

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Corpo Escola de Dança

Macau Purri é diretora de ensaios do Grupo Corpo e uma das diretoras do Corpo Escola de Dança.

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1986-1989

O Grupo Corpo empreende um novo mergulho no repertório erudito brasileiro e trabalha com trilhas sonoras de grandes músicos e de compositores como Heitor Villa-Lobos, Sebastian Bach, Johann Strauss e Robert Schumann.

Em 1989, a companhia produz Missa do Orfanato, tradução cênica da composição homônima do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart – criada em 1768 para a consagração da Igreja do Orfanato, em Viena, na Áustria.

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Missa do Orfanato (1989)

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1990-1992

Com o espetáculo 21 (1992) – divisor de águas na história da companhia –, o grupo retoma a utilização de trilhas sonoras originais, o que passa a ser uma das características mais decisivas para a produção futura do grupo. Rodrigo Pederneiras cria passos e movimentos que se fundem às notas musicais e se desconectam completamente das estruturas rígidas do balé clássico. A coreografia é inspirada em combinações em torno do número 21, que também pauta os arranjos rítmicos de Marco Antônio Guimarães, diretor artístico do grupo de música instrumental Uakti

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1993

Em 1993 estreia Nazareth, espetáculo no qual Rodrigo Pederneiras teve a oportunidade de transitar mais plenamente entre o universo erudito e o popular.

A coreografia é inspirada no jogo de espelhamento proposto em contos e romances de Machado de Assis (1839-1908) e na obra de Ernesto Nazareth (1863-1934), figura seminal na formação da música popular no Brasil. Criada pelo compositor e professor José Miguel Wisnik, a trilha sonora permite que, a partir de uma sólida base clássica, o Grupo Corpo leve para a cena uma bem-humorada síntese da brejeirice e da sensualidade próprias das danças brasileiras de salão.

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Nazareth (1993)

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1994-anos 2000

O minimalismo de Philip Glass (Sete ou Oito Peças para um Ballet, 1994), o vigor pop e urbano de Arnaldo Antunes (O Corpo, 2000), o experimentalismo de Tom Zé (Santagustin, 2002, e, em parceria com José Miguel Wisnik, Parabelo, 1997), a africanidade de João Bosco (Benguelê, 1998), os versos metafísicos de Caetano Veloso e Wisnik (Onqotô, 2005), a modernidade de Lenine (Breu, 2007), a diversidade sonora de Moreno, Domenico e Kassin (Ímã, 2009) e as canções medievais de Martín Codax na releitura de Carlos Nuñez e Wisnik (Sem Mim, 2011) dão origem a espetáculos de características variadas – cerebral, cosmopolita, interiorano, primordial, existencialista, brutal, moderno, lírico – sem que se percam de vista os traços distintivos do Grupo Corpo.

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Sete ou Oito Peças para um Ballet (1994)

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Ímã (2009)

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2015

Para celebrar seu 40º aniversário, a companhia criou um programa duplo com dois espetáculos inéditos – Suíte Branca e Dança Sinfônica. Mas, diferentemente do que se pode pensar, as duas produções se associam não pelas semelhanças, e sim pelos contrastes. Se a primeira seduz pela casualidade e pelo frescor, a segunda é de uma beleza arrebatadora, emocional.

 

Suíte Branca é assinada pela coreógrafa Cassi Abranches, que durante 12 anos acompanhou o Grupo Corpo. Criada por Samuel Rosa, a trilha sonora sugere uma noção de leveza, com notas agudas de guitarra, psicodelia e referências à música mineira. No palco, uma página em branco, uma tela a ser preenchida. Os bailarinos parecem riscar um cenário que ora lembra papel, ora se assemelha a uma montanha ou a uma geleira. A beleza e a calma do branco também compõem o figurino – o tênis, a bermuda e a camiseta permitem e revelam a liberdade de movimentos proposta pela coreografia.

Em Dança Sinfônica a trilha sonora indica um olhar para o passado: criada por Marco Antônio Guimarães – um dos mais frequentes colaboradores da companhia –, foi gravada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Na coreografia Rodrigo Pederneiras utiliza trechos de processos criativos anteriores, que, recriados, ganham uma nova dramaturgia. Do figurino fazem parte o dramático vermelho-sangue e o luxuoso veludo.

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Suíte Branca

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Grupo Corpo, 40 anos: “pronqvamos?”

Por Thereza Rocha

Talvez possamos dizer que a dança, qualquer dança, fabula composições daquilo que o filósofo italiano Giorgio Agamben chama de “comunidade que vem” – uma comunidade, grosso modo, formada por singularidades, sem ideia ou ideal capazes de conferir unidade ao todo. Se isso faz algum sentido, então é necessário destacar logo em seguida que a hipótese se aplica ainda mais quando se têm em mente a dança cênica e, sobretudo, a dança contemporânea

Afinal, essa dança à qual se atribui um sinal de contemporaneidade como sobrenome – e cujo conjunto só pode ser enunciado tendo em vista uma noção de multiplicidade – não simplesmente fabula, mas também e principalmente inquire os meios e os desdobramentos éticos e políticos dessa fabulação. É sempre urgente lembrar que esses trabalhos se desenvolvem como questionamentos dançados: o corpo, no caso, pergunta ao seu tempo: “por que e para que eu me ponho a dançar?”.

Nesse cenário de singularidades, de multiplicidade, destaca-se no campo da dança contemporânea brasileira uma companhia que adotou as ideias de grupo e de corpo como nome. Como diz o diretor artístico Paulo Pederneiras no site do coletivo, “o Grupo Corpo não tem nome de ninguém: é como grupo que conseguimos ter uma identidade”.

A aposta em uma numerosa companhia centrada na figura de um(a) coreógrafo(a)-diretor(a) que dá a ela seu próprio nome – algo que ocorreu com bastante frequência ao longo de 40 anos de dança contemporânea no Brasil – talvez esteja em franco declínio. E o mesmo vale para companhias que atuam como uma espécie de emblema de uma só e mesma língua, uma só e mesma nação, uma só e mesma modernidade. O Grupo Corpo é um emblema de brasilidade – palavra detestável em seu ufanismo e em sua certeza de pertencimento – tão somente por compor a cada obra não um esquema do (nosso) futuro, mas uma suposição dos espaços-tempos ainda e sempre por vir.

A longevidade e a genialidade características da trajetória da companhia são raras na dança contemporânea brasileira; e o 40º aniversário do coletivo – além de jogar ainda mais luz sobre essa extraordinariedade da “instituição” Grupo Corpo – pode ser também uma chance de nos aproximarmos, cautelosa e delicadamente, da ordinariedade mais costumeira desse corpo de grupo.

E talvez seja mesmo isso o que diz o título do espetáculo com o qual a companhia comemorou os 30 anos de atividade. “Onqotô” é uma espécie de tradução para o “mineirês” da expressão “onde é que eu estou” e traz para a palavra escrita a prosódia marota que se esconde na sintaxe complexa das obras desse grupo de dança. Perguntar-se “onqotô?” é ao mesmo tempo e inevitavelmente perguntar-se “pronqovô?”. E é possível que agora, aos 40 anos de idade, a companhia ainda esteja se questionando: “pronqovô?” Mas, se é como grupo que o Corpo se autodefine e se suas composições são fabulações dançadas de nosso coletivo brasileiro, a pergunta mais acertada talvez fosse: “pronqvamos?”.

Thereza Rocha é pesquisadora de dança e dramaturgista de processos de criação. Doutora em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), é professora dos cursos de bacharelado e de licenciatura em dança da Universidade Federal do Ceará (UFC) e autora, com Marcia Tiburi, do livro Diálogo | Dança (Senac, 2012).