O que são?
Cartemas (Por Antônio Houaiss)
– Elemento (qualquer elemento e mesmo cartão postal) é concebido como célula generatriz do cartema: ei-los, os cartemas de Aloisio Magalhães, poemas visuais, múltiplos rigorosamente (artesanal ou industrialmente).
(…)
– O cartema parece assim o termo final de um processo de montagem: colagem, bricolagem, cartemagem.
– Imagino ambientes humanos-cartemizados daqui em diante – na infinita diversidade de concrecitudes que poderão ser criadas. Imagino-as até, através de mudanças dimensivas da célula, de suas mudanças modulares e dos módulos, de mudança na aplicação das superfícies, não apenas parietais, mas tectórias, calceatórias, viárias, flutuantes …
– Aloisio fez a machina mundi e dá-a para a ventura de cada um – que passa a ser, daqui em diante, seu muito grato e obrigado.
*** O filólogo Antônio Houaiss (1915-1999) criou a palavra cartema para identificar o que Aloisio Magalhães estava fazendo em artes visuais a partir de 1970. Eram colagens, “bricolagens”, justapondo os múltiplos cartões-postais, a partir de 1970.
Pela justaposição criteriosa dessas pequenas imagens, Aloísio buscava traçar uma harmonia no desenho em busca de nova experiência plástica. Uma experiência que, vinda da montagem de cartões-postais, que pudesse também ser feita por qualquer pessoa.
“O desenho industrial me obrigou a ser mais pragmático, a ter contato mais direto com o meu meio social e a aceitar muitos limites. Hoje, quando faço os cartemas, eu ainda estou aceitando um limite: o do cartão-postal. Mas, assim como não acredito que a pintura esteja morta, não coloco abaixo de nada que faço minhas atividades como desenhista industrial. Acabei descobrindo que a cultura não é eliminatória, mas somatória”, disse ele em 1974, em entrevista ao Diário de Notícias (e republicada no livro Aloisio Magalhães – Encontros, organizado por João de Souza Leite, Rio de Janeiro, Azougue Editorial, 2014).
A partir das características de cada conjunto de cartões, foram feitas diversas séries de cartemas. Coloridos ou em preto e branco, com imagens brasileiras, novaiorquinas ou outras também internacionais.
“O cartão postal é uma unidade iconográfica muito importante em nossa época. Para que alguma coisa chegue a ser cartão postal é porque ela é algo marcante. Mas ai justamente entra o paradoxal. Por ser importante, ela se torna de tal forma banal que ninguém a vê mais. O que acontece com o cartema é que ele pretende vivificar a informação que contém o cartão postal. (…). Toda vez que você repete um elemento, duas coisas podem acontecer: ou fica redundante, monótono, e ninguém aguenta, ou se enriquece com a repetição e ganha ritmo próprio, como a música, por exemplo, que de poucos elementos você pode criar infinitas possibilidades musicais… ”, disse Aloisio Magalhães, desta vez em entrevista publicada no Correio da Manhã, em 1972.