A segunda fase do autor no teatro – considerada mais madura pelos críticos – se inicia com O pagador de promessas (1959). Sucesso de público e de críticas, a peça é responsável por tornar Dias um dos mais importantes dramaturgos de sua geração. Nesse período fértil, entre 1959 e 1969, ele cria algumas de suas grandes obras teatrais, que demonstram a capacidade de colocar sua visão de mundo e suas ideologias, bem como de explorar diferentes temas e gêneros teatrais.
Abaixo, listamos as principais obras deste período:
– A invasão (1960) estreou em 25 de outubro de 1962, no Teatro do Rio, com direção de Ivan de Albuquerque. A peça foi censurada em 1969, proibição que durou até 1978. Baseada em um fato real, apresenta um grupo formado por pessoas que perderam suas casas em uma enchente e, sem ter para onde ir, decidem ocupar uma construção abandonada;
– A revolução dos beatos (1961) foi encenada pela primeira vez em 17 de novembro de 1963, no Teatro Brasileiro de Comédia (São Paulo), com direção de Flávio Rangel. O espetáculo foi censurado em diversas ocasiões nos anos de 1964 e 1965. A peça, com trama em Juazeiro (CE), em 1920, aborda a influência religiosa para fins políticos;
– Odorico, o bem-amado (1962) estreou em 4 de maio de 1968, no Teatro Santa Isabel (Recife), com produção do Teatro de Amadores de Pernambuco e direção de Alfredo de Oliveira. Uma nova montagem aconteceu em 1970, no Teatro Gláucio Gill (Rio de Janeiro), sob direção de Gianni Ratto e com Procópio Ferreira no papel de Odorico Paraguaçu. A história apresenta o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, um político demagogo e corrupto que, com seus discursos inflamados e verborrágicos, ilude o povo da cidade fictícia. A peça foi levada para as telinhas com o título O bem-amado;
– O berço do herói (1963) – peça que serviu como base para a adaptação da telenovela Roque Santeiro – critica a construção de falsos heróis e a exploração de suas imagens. O enredo, situado em 1960, conta a história do cabo Roque, que desertou a Força Expedicionária Brasileira, mas, ao ser considerado morto, foi transformado em herói de guerra. Sua imagem é explorada por aproveitadores em sua cidade natal, Asa Branca, até que o mesmo aparece vivo. Dirigida por Antonio Abujamra, a primeira montagem foi proibida de subir ao palco do Teatro Princesa Isabel (Rio de Janeiro), já com o público na plateia, na noite de sua estreia em 22 de junho de 1965;
– O santo inquérito (1964) discute o direito de punir, perseguir e torturar exercido por qualquer pessoa ou sistema. Branca Dias, personagem central da trama, é acusada injustamente pela Inquisição e luta pela própria liberdade. A estreia do espetáculo ocorreu em 23 de setembro de 1966, no Teatro Jovem (Rio de Janeiro), com direção de Ziembinski e Eva Wilma no papel principal. Ganhou nova montagem em 1976 com direção de Flávio Rangel e as atrizes Isabel Ribeiro e Dina Sfat como Branca Dias. No ano seguinte, 1977, estreia em São Paulo com Regina Duarte no papel principal.
Sobre o desenvolvimento de Branca Dias, Dias Gomes comentou:
“Esta versão na qual eu me baseei, que é uma versão histórico-lendária de que ela teria existido na Paraíba, seria uma camponesa paraibana de origem judaica, cristã-nova, que teria sido perseguida pela Inquisição, presa, julgada e condenada à fogueira. Essa é a versão endossada pela peça, que é contestada por alguns historiadores. Mas essa é uma briga entre historiadores e folcloristas, eu sou um dramaturgo. A mim o que interessa não é a verdade histórica, é verdade humana”.
– Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (1968), espetáculo musical em parceria com Ferreira Gullar e musicado por Edu Lobo e Chico Buarque, foi produzido pelo Grupo Opinião e dirigido por José Renato em 10 de agosto do mesmo ano, no Teatro Leopoldina (Porto Alegre). A obra foi adaptada e encenada com o título de Vargas (1983), dessa vez com direção de Flávio Rangel e Paulo Gracindo, Isabel Ribeiro, Grande Otelo e Milton Gonçalves no elenco. Na peça, os autores usam a metáfora para abordar a luta de Getúlio Vargas no poder. O fato histórico é contado por meio do samba-enredo de uma escola de samba que, paralelamente, desenvolve a sua própria trama com a tentativa de golpe sofrida pelo presidente da agremiação.
Mestre de muitos gêneros, Dias escreveu 35 peças: tragédias, comédias, dramas, farsas e teatro musical. Depois de um período escrevendo para a televisão, retornou ao teatro com As primícias (1977). Entre suas últimas obras, Campeões do mundo (1979) acompanha um grupo de guerrilheiros que sequestram um embaixador americano durante a ditadura militar às vésperas da Copa do Mundo. A estreia ocorreu em 4 de novembro de 1988, com direção de Antonio Mercado e atuação de Leonardo Vilar. Sua última peça escrita foi Meu reino por um cavalo (1988).
Seus textos atingiram também repercussão internacional e foram traduzidos para vários idiomas, entre eles, inglês, espanhol, francês, alemão e italiano.