Seção de vídeo
A linguagem e a estética
No vídeo: Iracity Cardoso (diretora artística do Balé da Cidade) e Paulo Pederneiras (diretor geral e artístico do Grupo Corpo).
Maria Maria (1976)
Primeiro espetáculo do grupo, ficou em cartaz por dez anos e foi apresentado em 14 países. Maria Maria conta com trilha sonora original composta por Milton Nascimento e roteiro de Fernando Brant. O balé narra uma história de libertação por meio da figura de uma mulher forte e lutadora.
coreografia: Oscar Araiz | música: Milton Nascimento
Prelúdios (1985)
Depois de Último Trem (1980), comandado pelo mesmo trio de Maria Maria (1976) – Oscar Araiz, Fernando Brant e Milton Nascimento –, em 1981 Rodrigo Pederneiras passa a ser coreógrafo residente da companhia, investindo em coreografias menos lineares e mais abstratas. A trilha sonora conta com a interpretação do pianista Nelson Freire para os 24 prelúdios do compositor polonês Frédéric Chopin, “Opus 28”.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Frédéric Chopin (interpretação de Nelson Freire)
Missa do Orfanato (1989)
A partir da composição homônima do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart – criada em 1768 para a consagração da Igreja do Orfanato, em Viena –, a companhia dá continuidade ao casamento entre música erudita e dança contemporânea. O conjunto de bailarinos se transforma em uma massa de desamparados e infelizes, que revela, mais do que a glória divina, a miséria da condição humana. O cenário remete a uma catedral degradada pelo tempo e o figurino, de roupas simples e envelhecidas, completa a atmosfera religiosa. Marcante na história da companhia, foi essa produção que proporcionou ao grupo seu primeiro grande patrocínio.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Wolfgang Amadeus Mozart
21 (1992)
Com este balé o grupo volta a utilizar uma trilha sonora original – durante praticamente uma década a companhia se valeu de composições de grandes músicos, como Heitor Villa-Lobos, Robert Schumann e Frédéric Chopin. As trilhas compostas especialmente para os espetáculos passam a ser uma das características mais decisivas para a produção futura do grupo. Partindo da melodia elaborada por Marco Antônio Guimarães, Rodrigo Pederneiras cria passos e movimentos que se fundem às notas musicais e se desconectam completamente das estruturas rígidas do balé clássico. A coreografia é inspirada nas combinações em torno do número 21, que pauta os arranjos rítmicos de Guimarães, diretor artístico do grupo de música instrumental Uakti.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Marco Antônio Guimarães
Parabelo (1997)
A trilha original de Tom Zé e José Miguel Wisnik mistura a rabeca nordestina à zabumba e ao canto das lavadeiras, numa combinação que remete com clareza às raízes da cultura popular. O processo de construção conjunta permitiu que Rodrigo Pederneiras criasse uma coreografia considerada por ele como a mais brasileira e regional, que esbanja jogo de cintura e marcação de pé. O cenário e o figurino caminham no mesmo sentido e ressaltam as cores, os ex-votos e outros ícones de inspiração sertaneja.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Tom Zé e José Miguel Wisnik
Benguelê (1998)
Centrado nos ritmos afro-brasileiros, o espetáculo explora o maracatu, o candomblé e o congado. O músico João Bosco foi o responsável pela trilha sonora, composta de 11 temas criados especialmente para o balé e de recriações de músicas como “Chorinho 1×0”, de Pixinguinha, e “Tarantá”, canção típica do folclore brasileiro. Ora festivos, ora ritualísticos, os movimentos da coreografia sugerem danças tribais que evocam e exaltam o passado africano e suas profundas raízes na cultura brasileira.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: João Bosco
O Corpo (2000)
Talvez este seja o trabalho do grupo em que a harmonia entre o corpo, a iluminação e a música se faça sentir de maneira mais impactante. Na cenografia, spots de luz apagam e acendem de acordo com a frequência de cada som, e cada um dos movimentos precisos e violentos dos bailarinos acompanha os timbres metálicos – e também a cintilação – da música eletrônica criada por Arnaldo Antunes. Inspirada no imaginário das metrópoles, a coreografia estrutura novas possibilidades de vocabulário, que vão da malemolência ao robótico.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Arnaldo Antunes
Lecuona (2004)
Depois de 12 anos trabalhando com trilhas criadas especialmente para cada obra – a partir de 1992, com o espetáculo 21, a prática tornou-se uma regra para o grupo –, a companhia interpretou composições do cubano Ernesto Lecuona (1895-1963). A coreografia é quase toda construída a partir de pas de deux – trecho do balé dançado geralmente por um bailarino e uma bailarina. Só há uma formação de grupo – a valsa final –, o que torna o espetáculo singular diante das demais produções da companhia. As canções da década de 1950 – sobre amores ardentes, ciúmes trágicos, rancores – norteiam a dramaticidade das cenas e dos passos.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Ernesto Lecuona
Onqotô (2005)
Onde é que eu estou? A pergunta – que em “mineirês” dá nome a este espetáculo – completa os questionamentos da investigação que Caetano Veloso e José Miguel Wisnik fazem na trilha sonora: qual é a origem do universo? As canções abordam tanto a teoria científica – segundo a qual ele teria surgido de uma grande explosão, o Big Bang – quanto a versão espirituosa de Nelson Rodrigues, que estabelece uma relação entre a concepção do cosmos e uma partida de futebol. A coreografia se desdobra em torno das cenas de origem e do sentimento de fragilidade inerente à condição humana. A simplicidade do espaço cênico sugere um buraco negro, o nada. Com esta produção, a companhia mineira comemorou o seu 30º aniversário.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
Triz (2013)
A palavra “triz” tem sua origem no vocábulo trikós, que em grego significa “pelo”, “cabelo” – daí a expressão “por um triz”. Quase, por pouco, prestes a. Apesar de deixar implícita a noção de mudança, fica clara a certeza de limite. Neste espetáculo, os bailarinos atuam em estado de tensão permanente, como se qualquer imprecisão pudesse ser fatal. Na trilha sonora, Lenine utiliza apenas instrumentos de corda e repete temas melódicos, subvertendo-os em diferentes momentos. Cerca de 15 quilômetros de cabo de aço compõem a cenografia e fazem alusão às músicas. O chão também aparece marcado, indicando fronteiras que podem ou não ser transpostas pelos bailarinos.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Lenine
Suíte Branca (2015)
Depois de dançar durante 12 anos as coreografias de Rodrigo Pederneiras, Cassi Abranches foi convidada pela companhia para assinar Suíte Branca. O espetáculo, assim como Dança Sinfônica (2015), marcou os 40 anos do grupo. Criada por Samuel Rosa, a trilha sonora sugere uma noção de leveza, com notas agudas de guitarra, psicodelia e referências à música mineira. No palco, uma página em branco, uma tela a ser preenchida. Os bailarinos parecem riscar um cenário que ora lembra papel, ora se assemelha a uma montanha ou a uma geleira. A beleza e a calma do branco também compõem o figurino. O tênis, a bermuda e a camiseta permitem e revelam a liberdade de movimentos proposta pela coreografia.
coreografia: Cassi Abranches | música: Samuel Rosa
Dança Sinfônica (2015)
Assim como Suíte Branca (2015), este espetáculo comemorou os 40 anos da companhia. Mas, ao contrário do que se pode pensar, as duas produções se associam não pelas semelhanças, e sim pelos contrastes. Se a primeira seduz pela casualidade e pelo frescor, a segunda é de uma beleza arrebatadora, emocional. Em Dança Sinfônica, a trilha sonora indica um olhar para o passado: criada por Marco Antônio Guimarães – um dos mais frequentes colaboradores –, foi gravada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Na coreografia, Rodrigo Pederneiras utiliza trechos de processos criativos anteriores, que, recriados, ganham uma nova dramaturgia. Do figurino fazem parte o dramático vermelho-sangue e o luxuoso veludo.
coreografia: Rodrigo Pederneiras | música: Marco Antônio Guimarães (executada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais)