Jards Anet da Vida

Jards em 1944, com 1 ano e 5 meses de idade | imagem: Acervo Pessoal

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quando eu nasci
um anjo louco
um anjo solto
um anjo doido,
veio ler a minha mão (…)
 

e eis que o anjo me disse
apertando a minha mão
entre um sorriso de dentes
vá, bicho,
 

DESAFINAR DO CORO DOS CONTENTES

“Let’s Play That” (Jards Macalé e Torquato Neto), do álbum Jards Macalé (1972)

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Jards Gomes da Silva, pai de Jards Macalé, foi tenente da Marinha de Guerra do Brasil | imagem: Acervo Pessoal

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mais velho e dava mais trabalho

De certa forma, o pai de Jards Macalé contribuiu para a formação do caráter transgressor do filho. Oficial da Marinha, o pernambucano Jards Gomes da Silva havia entrado na Escola de Marinheiros de Sergipe aos 15 anos. E o ambiente militar fez parte da criação do futuro músico antes mesmo de ele começar a frequentar o colégio da corporação. “Ele me levava pra passear no submarino. Não era pra qualquer garoto, não! Garoto de cinco, seis anos… Isso é especial”, conta. “Quando o submarino submergia na Baía de Guanabara, um marinheiro ficava me segurando – porque eu não alcançava o periscópio – pra que eu pudesse olhar o Rio de Janeiro.” 

A convivência com o pai não durou muito: aos 48 anos, quando o filho tinha por volta de 15, o então capitão de fragata Jards morreu vítima de leucemia. E, como a pensão que recebia da Marinha não era o bastante para criar os dois filhos – Jards e seu irmão caçula, Roberto –, dona Lygia teve de colocar o primogênito no Colégio Militar do Rio de Janeiro. “Eu fiquei no internato, por ser mais velho e dar mais trabalho, e meu irmão ficou no externato.”

[Trecho do perfil de Jards Macalé escrito pelo jornalista Paulo Terron para a publicação impressa desta Ocupação]

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Jards – aos 5 meses e 2 dias de idade – com seu pai, Jards Gomes da Silva. Tirada em 1943, a foto foi utilizada na capa do álbum O Q Faço É Música (1998) | imagem: Acervo Pessoal

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à meia-noite

Internato, claro, em tese: para Jards e a turma dele, que tinha gente como os futuros atores e humoristas Castrinho e Agildo Ribeiro, escapar daquele ambiente restritivo era algo corriqueiro. Durante as noites, usando arbustos como camuflagem, eles fugiam pelo Morro da Babilônia – que ficava atrás do refeitório do colégio – e caíam na praça Sáenz Peña para confraternizar com os amigos, tocar violão, namorar as normalistas, ir ao cinema – Confidências à Meia-Noite, filme de 1959 com Rock Hudson e Doris Day, era então “o máximo do erotismo”, segundo Jards.

[Trecho do perfil de Jards Macalé escrito pelo jornalista Paulo Terron para a publicação impressa desta Ocupação]

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Jards com sua mãe, Lygia Anet da Silva, e seu irmão, Roberto Anet da Silva, no parque da praia de Ipanema, em 1951 | imagem: Acervo Pessoal

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“(…) fui até Penedo, onde Macalé tem uma casa, fuçar nos seus arquivos. Naquele dia conheci sua linda e adorável mãe, dona Lygia, que nunca mais saiu da minha memória. Quando cheguei, ela estava cuidando do jardim e cantando, e de vez em quando conversava com um passarinho. Sua voz era linda e ela era toda especial: puro amor, alegria e simpatia. Ali, Macalé era Jardszinho. Hoje penso que é impossível desvendar Jards sem ter conhecido Lygia.”

[Trecho de “O Filho de Dona Lygia”, de Edson Natale. Leia o texto completo na seção Autobiografia Não-Autorizada

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Jards – ou “Jardszinho”, como era chamado pelos pais | imagem: Acervo Pessoal

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makalé

O quadrinista Lourenço Mutarelli produziu quatro ilustrações para a publicação impressa desta Ocupação, reinterpretando o músico como super-herói. Veja as outras criações de Mutarelli nas seções Gotham City e Com Muito Prazer. | imagem: Lourenço Mutarelli

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Seção de vídeo

Amores, amores, estudos à parte

Jards Macalé é músico, artista homenageado desta Ocupação.

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Jards em sua primeira comunhão | imagem: Acervo Pessoal

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você foi longe demais

“À noite, no Gantois, fui pedir a bênção de Mãe Menininha. Levado pela mão de Creuza, sua filha, beijo a mão da Mãe. Menininha, depois de ouvir meu nome, diz: ‘Mookualé’ quer dizer boa noite em iorubá. Me pergunta: Onde você esteve? Respondo que estive na Ponta da Areia (região onde fica o Terreiro dos Eguns Espíritos dos Mortos, terreiro delicado, perigoso, proibido). Ela diz: Você foi longe demais. Você vai sempre longe demais na sua CURIOSIDADE.”

(em “Romântico, xunaite e sem-grana”, publicado na Folha de S.Paulo em 11 de julho de 1982. As ênfases são nossas.)