Labirinto

imagem: Laerte

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Autocaricatura exclusiva para a exposição | imagem: Laerte

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No labirinto do Minotauro

Não é muito fácil resumir em um texto curatorial o que você está prestes a ver aqui. O volume de trabalho produzido por (meu pai) Laerte reflete sua relação íntima de mais de 40 anos de vida, arte e desenho, assim como as transformações e os desdobramentos de muitos Laertes nos diferentes contextos do país. É com a visão nublada pelo envolvimento pessoal de filho que me volto para essa obra.

Os trabalhos mais conhecidos pelo público são os Laertes pirata, travesti, paulista, humorista de tiras nos principais jornais do país; inteligente e bem-humorado nas entrevistas. Quem nasceu antes dos anos 1970 talvez se lembre com mais força dos Laertes da militância sindical, da revista Balão, do Laerte da Gazeta Mercantil, da revista Placar e das revistas de banca da editora Circo. Os mais atentos conhecem o Laerte roteirista de materiais para televisão, teatro e cinema. Os mais íntimos, o da música clássica, pianista, pai de três filhos; amoroso e parceiro que produziu materiais variados, cinéfilo e ávido leitor; Laerte inseguro, cheio de dúvidas sobre a profundidade e a importância de seu trabalho em formatos e intensidade variados. E o Laerte de dores e de perdas profundas, de amores, casamentos e divórcios, de conquistas pessoais e de explosões internas silenciosas pouca gente viu.

Agora, pegue uma suposta linha cronológica e misture a um emaranhado de intrincadas relações, como um novelo de lã. Surge o guia invisível para percorrer o labirinto. Nas paredes, trabalhos escolhidos entre milhares. Cada caminho leva a uma compreensão do todo. Todos juntos não levam a lugar algum. Devolvem reflexões, a multiplicidade de Laertes e a sua própria natureza: dúvidas, avaliações cautelosas, sempre evitando armadilhas morais, preconceitos e maniqueísmos no julgamento do mundo.

Nas paredes está uma gama de temas e assuntos – ciência, cosmos, humor, sexo, história, morte, guerra e gatos. Há dias bons e ruins, fragilidade e agressão, o bom e o mau gosto, o gosto dos outros. Beethoven, Mozart, Henfil e Deus também.

Há, sobretudo, desenhos, em variados formatos e acabamentos, nos quais é evidente a desenvoltura e o prazer do artista em fazê-los, a intimidade com pincel, lápis, caneta, tinta e papel. Saltam aos olhos o vocabulário visual, o traço autoral do traço, o estilo, e como tudo isso se manifestou cedo.

O objetivo da mostra nunca foi a compreensão “total” do artista nem desfazer o novelo de lã. É uma edição ambiciosa dessa produção que mostra algo que nunca tive dúvidas: Laerte é vários e haverá outros.

Nesse labirinto que é a sua obra, existe uma criatura que ronda, tal como no mito do Minotauro. Inquietação ou angústia, um superego solto, uma entidade sem sexo, que acuada, ataca. Vive dentro do artista ou é parte dele. Exoesqueleto que o controla e o direciona. Pode ser o próprio Laerte, criatura entre nós. Ele, meu familiar pai, um monstro.

Rafael Coutinho
curador

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imagem: Rafael Roncato

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bate-papo com Laerte – parte 1

Roda de conversa com Laerte e três convidados: Maria Rita Kehl, Ivana Arruda Leite e Eloar Guazzelli (veja minibiografias abaixo).

Laerte é quadrinista e cartunista, homenageada nesta Ocupação.

Ivana Arruda Leite é escritora. Publicou quatro livros de contos, dois romances e quatro obras infantojuvenis, além de traduções, adaptações e antologias. Mantém o blog www.doidivana.wordpress.com.

Maria Rita Kehl é psicóloga e integrante da Comissão da Verdade. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise com o livro O Tempo do Cão – a Atualidade das Depressões. Colaborou com a Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo, a Veja e a IstoÉ, entre outras.

Eloar Guazzelli é quadrinista, ilustrador, artista visual e diretor de cinema para filmes de animação. Recebeu o Prêmio HQ Mix em 1994 na categoria Desenhista Revelação pelo livro Bamboletras e em 2007 por O Relógio Insano. Foi o primeiro colocado no 3º Concurso Folha de Ilustração e Humor, da Folha de S.Paulo. Também é professor no Istituto Europeo di Design, em São Paulo.

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Mais de 40 anos de Produção

Rafael Coutinho, filho de Laerte, é curador desta Ocupação. Designer, animador, artista plástico e quadrinista, é um dos proprietários da editora independente e comic shop Narval Comix. Com Daniel Galera, produziu a graphic novel Cachalote (2010). Realizou curtas-metragens como animador e diretor (Aquele Cara, 2006), participou de publicações de HQ (Bang Bang, 2005) e integrou o grupo Base-V.

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André Conti: Laerte é um artista sem auge

(…) Agora tente fazer o mesmo com Laerte. Tente travar um almoço de trabalho, discutir questões pontuais. Tente fazer sugestões. Tente responder friamente quando for questionado: o que você está achando?

Para ser sincero, estou achando o seguinte: você é o Laerte e eu não sou. Nós dois viveremos muito bem e teremos uma excelente relação profissional se os mesmos limites que se aplicam normalmente ao trabalho se aplicarem a essa conversa.

E aí eu falei, com plena consciência de que o estava constrangendo de forma irremediável. Abri a boca para comentar um detalhe na capa do livro que estávamos bolando e saiu assim: não há, nos quadrinhos, nas artes plásticas e, no fim do dia, em qualquer arte narrativa, alguém que esteja fazendo algo próximo ao que você faz. Não há artista tão difícil de definir, uma obra que tenha feito tanto em tão pouco espaço. Uma capacidade natural, que de fora aparece como sem esforço, de mudar os próprios rumos, de abandonar qualquer fórmula de sucesso em prol de uma irrevogável vontade de fazer o que bem entende.

Há artistas que se agarram a uma ideia boa durante toda a vida – pense em personagens como Garfield e Hagar –, ideias que Laerte tinha semanalmente e não hesitou em descartar. Há artistas que, compreensivelmente, se dão por satisfeitos quando operam uma revolução no meio em que trabalham – pense no que o próprio Laerte estava fazendo com os Piratas do Tietê nos anos 1980. É relativamente fácil para um artista fixar sua obra no auge e transformar esse auge na planície que vai explorar a vida inteira. Laerte é um artista sem auge. Não parece estar procurando planície alguma. Recusa o humor com a mesma facilidade que rimos de suas piadas. Recusa a metafísica com a mesma displicência que nos força a decifrar seus enigmas existenciais. É, na mesma medida, arredio, doce, acessível, hermético, óbvio e obscuro; perpetuamente um passo adiante de si, como se estivesse tentando alcançar algo que ele mesmo teima em adiar.

André Conti é jornalista, tradutor e editor. Trabalha na editora Companhia das Letras com literatura brasileira e quadrinhos.

[trecho do texto “Artista sem Auge”, que pode ser lido na íntegra na publicação impressa desta Ocupação]

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Irmão

Marília Coutinho, irmã de Laerte, é pesquisadora, professora e consultora. Pela Universidade de São Paulo (USP) é bacharel em ciências biológicas, mestra em ecologia química e doutora em sociologia da ciência – área em que é pós-doutora pelo Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, Estados Unidos. É atleta de levantamento de peso, campeã mundial em 2011 pela Global Powerlifting Alliance e recordista mundial de agachamento raw na categoria até 60 quilos. Saiba mais em www.mariliacoutinho.com.

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Amigo

Sérgio Gomes é jornalista e diretor da OBORÉ – empresa prestadora de serviços em comunicação popular da qual Laerte foi também fundador. Sérgio o conhece desde a faculdade, quando produziram a revista estudantil Balão. Saiba mais em www.obore.com.br.

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Displicência e Parceria

Angeli é quadrinista. Publicou na revista universitária Balão, organizada na USP por Laerte e por Luiz Gê. Quando editor dos quadrinhos da Folha de S.Paulo, foi o responsável por trazer Laerte às páginas do jornal. Ambos foram companheiros de trabalho na Circo Editorial, com Toninho Mendes e Glauco, entre outros.

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Simples, Prático e Objetivo

Toninho Mendes é jornalista, criador da Circo Editorial – editora de quadrinhos que durou de 1985 a 1995 e se tornou célebre com a publicação de Chiclete com Banana (Angeli), Geraldão (Glauco) e Piratas do Tietê (Laerte), entre outros nomes de destaque no HQ nacional. Hoje, Toninho mantém a editora Peixe Grande.

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Poético e Feroz

Zélio Alves Pinto é jornalista e artista visual. Ciça Alves Pinto é jornalista e quadrinista. (Minibiografias completas abaixo)

Zélio foi um dos fundadores do jornal O Pasquim e do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Quando jovens, Laerte e outros desenhistas se reuniam em seu ateliê, onde tinham acesso a referências artísticas na sua biblioteca e debatiam quadrinhos.

Ciça colaborou com o jornal O Pasquim e publicou tiras por 20 anos na Folha de S.Paulo. É autora de 22 livros (poesia, quadrinhos e infantojuvenis). O jovem Laerte frequentava sua casa para garimpar referências na biblioteca do artista visual Zélio Alves Pinto, seu marido.

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Trabalho no Limite

André Dahmer é quadrinista. Considera Laerte uma de suas maiores influências. Autor da série Malvados, com a qual se tornou conhecido, suas tirinhas chegaram a várias publicações, como Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Piauí e Carta Capital. Tem alguns livros publicados, como A Cabeça É a Ilha (2009).

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Inteligência e Grandeza

André Dahmer é quadrinista. Considera Laerte uma de suas maiores influências. Autor da série Malvados, com a qual se tornou conhecido, suas tirinhas chegaram a várias publicações, como Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Piauí e Carta Capital. Tem alguns livros publicados, como A Cabeça É a Ilha (2009).

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imagem: Rafael Roncato

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