Seção de vídeo
bate-papo com Laerte – parte 3
Roda de conversa com Laerte e três convidados: Maria Rita Kehl, Ivana Arruda Leite e Eloar Guazzelli (veja minibiografias abaixo).
Laerte é quadrinista e cartunista, homenageada nesta Ocupação.
Ivana Arruda Leite é escritora. Publicou quatro livros de contos, dois romances e quatro obras infantojuvenis, além de traduções, adaptações e antologias. Mantém o blog www.doidivana.wordpress.com.
Maria Rita Kehl é psicóloga e integrante da Comissão da Verdade. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise com o livro O Tempo do Cão – a Atualidade das Depressões. Colaborou com a Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo, a Veja e a IstoÉ, entre outras.
Eloar Guazzelli é quadrinista, ilustrador, artista visual e diretor de cinema para filmes de animação. Recebeu o Prêmio HQ Mix em 1994 na categoria Desenhista Revelação pelo livro Bamboletras e em 2007 por O Relógio Insano. Foi o primeiro colocado no 3º Concurso Folha de Ilustração e Humor, da Folha de S.Paulo. Também é professor no Istituto Europeo di Design, em São Paulo.
hugo/muriel
o que você quer, afinal?
muriel/hugo
?
muriel
muriel
Seção de vídeo
Corpo em Direção à Liberdade
Marília Coutinho, irmã de Laerte, é pesquisadora, professora e consultora. Pela Universidade de São Paulo (USP) é bacharel em ciências biológicas, mestra em ecologia química e doutora em sociologia da ciência – área em que é pós-doutora pelo Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, Estados Unidos. É atleta de levantamento de peso, campeã mundial em 2011 pela Global Powerlifting Alliance e recordista mundial de agachamento raw na categoria até 60 quilos. Saiba mais em www.mariliacoutinho.com.
Letícia Lanz: sexo, gênero e orientação sexual
No Brasil, é feita uma confusão sistemática entre os termos sexo, gênero e orientação sexual. O termo sexo, também conhecido como sexo biológico ou genital, refere-se essencialmente à genitália que cada indivíduo traz ao nascer. Gênero diz respeito às expectativas sociais de desempenho que cada ser humano deve atender tendo em vista o seu sexo genital. O gênero é uma construção social que varia intensamente de uma cultura para outra e de uma época para outra. Por definição, a nossa cultura, assim como toda a cultura ocidental, reconhece a existência de duas e apenas duas categorias de gênero: masculino e feminino ou homem e mulher. (…)
Embora sejam dois conceitos distintos, na prática diária é quase absoluta a identidade entre sexo e gênero: todo mundo acha que alguém já nasce homem ou mulher, contradizendo a afirmação de Simone de Beauvoir de que “ninguém nasce mulher, mas aprende a ser”. Em virtude da naturalização do sexo como fonte das construções sociais relacionadas a gênero, é comum as pessoas tomarem uma coisa pela outra no seu dia a dia. Mas é sempre importante lembrar que sexo refere-se tão somente às diferenças genéticas, fisiológicas e anatômicas entre a genitália do macho e da fêmea da espécie humana, enquanto gênero é um dispositivo de controle social instituído com base em normas de conduta culturais, políticas, jurídicas etc., endereçadas específica e respectivamente a machos e fêmeas biológicos em cada sociedade e época. Em síntese, cada cultura possui suas próprias normas quanto à forma como as pessoas devem se comportar com base em seu sexo genital de nascimento. A despeito das inúmeras pesquisas na área da biologia que já provaram o contrário, nossa cultura, por exemplo, continua acreditando que a agressividade masculina deriva da genética do macho quando, na verdade, o que se faz é treinar e incentivar os homens a ser mais agressivos que as mulheres desde a infância.
Orientação sexual está relacionada ao desejo erótico-afetivo: com quem se gosta de namorar e/ou fazer sexo. Embora seja um conceito inteiramente distinto dos anteriormente descritos de sexo e gênero, na cultura ocidental a orientação sexual é tida como um atributo umbilicalmente atrelado ao genital e, naturalmente, ao gênero atribuído em razão da genitália. Em outras palavras, quem nasce macho, ou seja, com um pênis, é naturalmente classificado como homem e tem de ter atração erótico-afetiva por mulher. Quem nasce fêmea, isto é, com uma vagina, é naturalmente classificada como mulher e tem de ter atração erótico-afetiva por homem. Nenhuma outra possibilidade de combinação entre sexo, gênero e orientação sexual é plenamente aceita e legitimada, ainda que seja tolerada no mundo atual.
Heteronormatividade é, portanto, um dispositivo totalitário e hegemônico resultante da aplicação das normas binárias de conduta de gênero existentes em nossa sociedade. Assim, podemos descrever sexo como aquilo que a pessoa traz entre as pernas, gênero como aquilo que traz entre as orelhas e orientação sexual como quem ela gosta de ter entre os braços.
Seção de vídeo
Alienação Corporal
Marília Coutinho, irmã de Laerte, é pesquisadora, professora e consultora. Pela Universidade de São Paulo (USP) é bacharel em ciências biológicas, mestra em ecologia química e doutora em sociologia da ciência – área em que é pós-doutora pelo Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, Estados Unidos. É atleta de levantamento de peso, campeã mundial em 2011 pela Global Powerlifting Alliance e recordista mundial de agachamento raw na categoria até 60 quilos. Saiba mais em www.mariliacoutinho.com.
Letícia Lanz: heteronormatividade
Heteronormatividade é, portanto, um dispositivo totalitário e hegemônico resultante da aplicação das normas binárias de conduta de gênero existentes em nossa sociedade. Assim, podemos descrever sexo como aquilo que a pessoa traz entre as pernas, gênero como aquilo que traz entre as orelhas e orientação sexual como quem ela gosta de ter entre os braços.
Quem transgride o dispositivo binário de gênero se torna obviamente gênero-divergente, sociodesviante. Por isso, a pessoa transgressora da conduta oficialmente estabelecida para o gênero em que foi classificada ao nascer se torna uma degenerada, palavra que significa literalmente “quem perdeu o gênero”. São muitas, imediatas e muito pesadas as sanções à pessoa cujo comportamento se desvia dos padrões oficiais. De maneira sutil ou ostensiva, ela passa a ser sistematicamente excluída do convívio com pessoas ditas normais, ou seja, as pessoas generadas (leia-se: obedientes, perfeita-mente enquadradas e submissas ao dispositivo de gênero). Dependendo de como a sociedade enxerga a natureza da sua transgressão, ela pode até passar a ser tratada como pervertida e depravada ou doente mental. Para transgressores de gênero, tudo que a sociedade reserva é o estigma, a marginalização, a exclusão, o limbo social.
Quantas pessoas transgêneras são privadas de praticar os ofícios para os quais se prepararam a vida toda? Esta não pode mais estar engajada na força militar porque “se operou”. Este não pode exercer o trabalho de psicólogo porque o Conselho não lhe permite a modificação do nome de registro.
E quant@s transgêneros não chegam a ter ofício porque são obrigad@s a deixar a escola para não ser massacrados por colegas transfóbicos em atos deploráveis de bullying, que acabam ficando por isso mesmo, uma vez que jamais são apurados pela direção da escola.
Paralelamente a esses sofrimentos expostos, há uma infinidade de pessoas transgêneras que vivem trancadas em seus armários, totalmente invisibilizadas, em estado de permanente angústia e sofrimento psíquico. Sentem-se totalmente impotentes de aliviar suas tensões existenciais, expressando livremente suas identidades transgêneras. Podemos dizer que são vítimas do medo que sentem de se transformar, elas próprias, nos personagens sofridos das histórias semelhan-tes que lhe foram narradas. O ganho de visibilidade com dignidade é uma conquista coletiva do mundo transgênero, que começa com cada um@ e termina com tod@s.
Seção de vídeo
Decisivo e Prazeroso
Angeli é quadrinista. Publicou na revista universitária Balão, organizada na USP por Laerte e por Luiz Gê. Quando editor dos quadrinhos da Folha de S.Paulo, foi o responsável por trazer Laerte às páginas do jornal. Ambos foram companheiros de trabalho na Circo Editorial, com Toninho Mendes e Glauco, entre outros.
deus
deus
deus
deus
deus
Seção de vídeo
O Mesmo Laerte
Rafael Coutinho, filho de Laerte, é curador desta Ocupação. Designer, animador, artista plástico e quadrinista, é um dos proprietários da editora independente e comic shop Narval Comix. Com Daniel Galera, produziu a graphic novel Cachalote (2010). Realizou curtas-metragens como animador e diretor (Aquele Cara, 2006), participou de publicações de HQ (Bang Bang, 2005) e integrou o grupo Base-V.