Na Fôrma do Brasil

D.C.

O Departamento de Cultura que tudo isto já está fazendo, com toda a sua autonomia municipal, cresce e quer crescer como a flor, como o perfume irradiante doutra criação mais básica, a Universidade de São Paulo. E, sendo municipal, o Departamento de Cultura cresce, e quer crescer, esculpido na fôrma do Brasil.

 

Mário de Andrade

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nomeação

Portaria nº 1094. São Paulo, 31/5/1935, que nomeia Mário como diretor do Departamento de Cultura | imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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Seção de vídeo

Gestor, Propositor, Inventor

Silvana Rubino é curadora desta Ocupação. Professora e doutora em ciências sociais pela Unicamp, pesquisa patrimônio histórico, política cultural e história da cultura, entre outros temas. Estudou a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), que teve participação de Mário de Andrade.

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estrutura do DC (1)

imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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estrutura do DC (2)

imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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estrutura do DC (3)

imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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ação cultural de criação

Na gradação entre tipos básicos de ação cultural, a proposta por Mário é classificada como ação cultural de criação (…). As pessoas retiram da obra o substrato para que possam participar do universo cultural e se aproximarem uma das outras. A obra estabelece a relação entre as pessoas. Nesse caso, não se usa o termo ‘clientela’ ou ‘público’ e sim somente pessoas. (…) Essa ação permite uma reflexão crítica das pessoas sobre sua realidade cultural, sobre si mesmas e sobre a sociedade. Ela não deve apenas relacionar as pessoas, é necessário que do relacionamento advenha um benefício social.

Valdemir Klamt, na dissertação “O Intelectual Mário de Andrade e suas Políticas Culturais”.

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são paulo quer-se bonita

Disseram-na fria e feita um dia, e São Paulo era feita encafuada nos seus grotões. Mas São Paulo quer-se bonita e higiênica para que o viajante não venha mais encontrar nela, apenas sapo, gripe e solidão. Os grotões transformaram-se em jardins cortados a meio pelas avenidas e pela sombra dos viadutos. Não ha mais sapo. Nos jardins encontrareis recintos fechados com instrutoras, dentistas, educadoras sanitárias dentro. São os parques infantis onde as crianças proletárias se socializam aprendendo nos brinquedos o cooperativismo e a consciência do homem social. 

Montado no Anhangabaú veríeis um teatro luxuoso que vivia fechado. Mas agora o edifício vibra de vida o dia inteiro. São corais, orquestras, trios, quartetos, são escultores no porão e cenógrafos do sótão enorme. As tradições ressurgem e os costumes do passado. São crianças tartamudeando em torno duma Nau Catarineta de vime, as melodias que seus pais esqueceram, e nos vieram de novo da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Mais além uma Discoteca ensaia suas primeiras gravações verdadeiramente científicas do nosso canto popular, funda seu gabinete de fonética experimental, enquanto à sombra dos arquivos uma atividade renovada restaura, traduz, publica manuscritos preciosos. Feito um polvo, as pesquisas sociais tudo abarcam com uma audácia incomparável que permitirá muito em breve à cidade de São Paulo conhecer-se em todas as suas condições, tendências e defeitos. Doutro lado uma biblioteca brasileira se especializa, na pretensão ambiciosa de tudo saber sobre o Brasil, enquanto as bibliotecas circulantes, as bibliotecas populares dão o rebate da leitura, levando o livro à casa dos homens sem vontade ou experiência, solicitando a colaboração do povo em jornais murais, dando a pena, a tinta, o conselheiro a quem queira escrever. Aqui, uma Rádio Escola se funda, além uma biblioteca infantil, mais distante um teatro dramático, e os campos de atletismo, e as piscinas públicas.

Todas estas iniciativas não poderão pretender jamais a uma gloriola no presente, sinão uma fecundidade futura. Tudo é novo, e muito está apenas nascendo. São Paulo é uma cidade dum dia, mas já agora os seus caminhos conjuntamente vão e vêm. O Departamento de Cultura que tudo isto já está fazendo, com toda a sua autonomia municipal, cresce e quer crescer como a flor, como o perfume irradiante doutra criação mais básica, a Universidade de São Paulo. E, sendo municipal, o Departamento de Cultura cresce, e quer crescer, esculpido na fôrma do Brasil. Já emissários seus internam-se por Mato Grosso, em busca de conhecimentos ignorados. Já do Rio lhe chegam decoradores e sambistas para as festas de Carnaval. Já do Recife lhe vêm receitas, melodias e instrumentos, de Minas e da Baía especialistas; ao mesmo tempo que da sua atividade partem para divulgação no mundo, a pedido do Ministério do Exterior, estudos especializados sobre o Brasil.

A grande cidade, até hoje indestinada em seus tão diferentes destinos, está por fim consciente da sua maravilhosa predestinação. Estuante de vida sempre, mas já agora dotada daquela lentidão essencial que desdenha o egoísmo do presente e arma um futuro que a ninguém pertence, São Paulo de Piratininga, a mais primorosa criatura dos Paulistas, renascida e festiva, glorifica o Brasil na volúpia de ser dele uma das forças mais perfeitas e uma das fontes mais fecundas.

Mário de Andrade

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ônibus-biblioteca (1)

Democratização do acesso à cultura (1937) | imagem: Benedito Junqueira Duarte/Casa da Imagem de São Paulo

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ônibus-biblioteca (2)

Democratização do acesso à cultura (1937) | imagem: Benedito Junqueira Duarte/Casa da Imagem de São Paulo

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todos ganham

Mário queria ampliar a experiência musical do público. Para isso, instaura um processo de popularização das artes eruditas pois entende que diferentes segmentos de uma população gostariam de ter acesso a elas. Mário não tinha a ideia de promover esses programas com o intuito mercadológico de atrair maior público consumidor para produtos culturais. Seus objetivos eram maiores e incluíam a idéia de que todos têm a ganhar com os valores culturais que estão imbutidos das artes eruditas.

Valdemir Klamt, na dissertação “O Intelectual Mário de Andrade e suas Políticas Culturais”.

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Programa do Teatro Municipal com arte de Tarsila do Amaral (1936) | imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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Programa do Teatro Municipal com arte de Tarsila do Amaral (1936) | imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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exoneração

imagem: Instituto de Estudos Brasileiros

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de mário a pati

Carta de Mário a Francisco Pati, a quem passa a direção do Departamento de Cultura, com a substituição de Fábio Prado por Prestes Maia na Prefeitura de São Paulo