Polêmica como Princípio

Polêmica como Princípio

Chamado de reacionário – o que em sentido típico indica alguém contrário a demandas progressistas –, Nelson absorveu o rótulo e o pôs como título de seu último livro, O Reacionário (1977), que reúne crônicas e memórias. Na orelha da edição de 2008, o resenhista diz: com isso, Nelson “resumiu toda a sua história de polemista, daquele que não teme ir contra a opinião geral”.

Essa conclusão é reafirmada pelo próprio Nelson. Em entrevista a Otto Lara Resende, Nelson definiu o que significava para si o termo “reacionário”: “A reação a tudo o que não presta, na minha opinião”.

Contundente, polêmico, combativo – suas peças desagradaram à esquerda e à direita. Aos primeiros, por não se propor causas sociais; aos segundos, por serem “obscenas”. Ainda: de um lado, por perturbar o conservadorismo; de outro, por criticar o marxismo. E a ambos por apontar contradições na moral convencional.

Esta seção tenta explorar essa questão: qual seria a posição política de Nelson?

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Entrevista

Nelson Rodrigues em entrevista no Teatro Popular do Sesi, 1979
Nelson Rodrigues em entrevista no Teatro Popular do Sesi, 1979 | imagem: Silvestre Silva

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Nossos libertários

Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade. Dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura. (…) Em nome da liberdade, agredimos a liberdade.


Nelson, na crônica “Os Abnegados”, em Cabra Vadia

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O posicionamento político de Nelson

Eduardo Tolentino é diretor e fundador do Grupo Tapa. Encenou três peças de Nelson: Viúva, Porém Honesta (1983), Vestido de Noiva (1990, 2000) e A Serpente (1999). Conheça o site do Tapa: www.grupotapa.com.br

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A liberdade é mais importante que o pão

Marco Antônio Braz é diretor. Fundou e lidera o Círculo de Comediantes. Ganhou projeção por suas montagens de Nelson, iniciadas em 1990: até o período da entrevista, foram 11 montagens de 9 obras rodrigueanas.

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Inteligência Desumanizada

É óbvio que a inteligência passa, em nossa época, por um processo de desumanização. Ninguém era mais humano do que o poeta, o romancista, o pintor, o escultor. O artista era o seu povo. E, hoje, nós vemos o nosso intelectual dando vivas a Cuba, outros que se esgoelam pelo Vietnã. (…) Dane-se nossa mortalidade infantil! Artistas plásticos, poetas, romancistas escrevem “muerte” em seus cartazes. Traem sua língua. Traem seu povo. Sim, podemos falar numa inteligência desumana, tão pouco brasileira e de uma abjeta alienação.

 

Nelson, na crônica “O Guarda-Chuva no Municipal”, em Cabra Vadia

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Pela Arte

Zé Celso é diretor, autor e ator. Líder do Teatro Oficina, foi ícone da Tropicália e realizou montagens antológicas, como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade — cujo impacto é comparável ao da primeira encenação de Vestido de Noiva. De Nelson, montou Boca de Ouro. Zé Celso também foi homenageado do Ocupação.

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Reacionário e Progressista

Roberto Motta é antropólogo. Conheceu os Rodrigues que ficaram no Recife.

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O ser humano é de classe média

Arnaldo Jabor é cineasta e cronista. Conheceu Nelson pessoalmente e adaptou uma peça (Toda Nudez Será Castigada) e um romance (O Casamento) seus para o cinema. Segundo o jornalista Ely Azevedo, esses são dois dos três “títulos-chave” da filmografia baseada no autor. Nas crônicas de Jabor, Nelson também aparece — como tema, personagem e influência.

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O mundo é dos jovens

Começo a ler e paro nesta frase: — “O mundo é dos jovens”. A gloriosa atriz dá o mundo, de graça, de mão beijada. O sujeito tem dezessete, dezoito, vinte. Pronto. Toma o mundo. Mas vejam como, numa simples frase, está todo um crime, ou seja, o crime de dar razão a quem não a tem. O mundo só pode ser dos que têm razão. Mas a razão é todo um maravilhoso esforço, toda uma dilacerada paciência, toda uma santidade conquistada, toda uma desesperada lucidez. (…)

Nelson, na crônica “Da Linha Chinesa”, em Cabra Vadia

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Difícil achar o eixo desse homem de tantos lados

Berta Waldman é pesquisadora de literatura, livre-docente pela USP. Trabalhou com os romances folhetinescos de Nelson. É coautora do livro Nelson Rodrigues, escrito com Carlos Vogt.

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Toda nudez será castigada e patrulhismo político

Arnaldo Jabor é cineasta e cronista. Conheceu Nelson pessoalmente e adaptou uma peça (Toda Nudez Será Castigada) e um romance (O Casamento) seus para o cinema. Segundo o jornalista Ely Azevedo, esses são dois dos três “títulos-chave” da filmografia baseada no autor. Nas crônicas de Jabor, Nelson também aparece — como tema, personagem e influência.

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Anti-ideologias

Arnaldo Jabor é cineasta e cronista. Conheceu Nelson pessoalmente e adaptou uma peça (Toda Nudez Será Castigada) e um romance (O Casamento) seus para o cinema. Segundo o jornalista Ely Azevedo, esses são dois dos três “títulos-chave” da filmografia baseada no autor. Nas crônicas de Jabor, Nelson também aparece — como tema, personagem e influência.