Sandra Peres e Paulo Tatit | imagem: André Seiti/Itaú Cultural
“O público pode ter mudado no sentido de como percebe a música, porque hoje em dia ele tem muitas opções, mas não vejo uma mudança muito grande na Palavra Cantada, porque a gente continua a ter as famílias, as crianças, os professores, os cuidadores.”
Sandra Peres em entrevista para o Itaú Cultural
Seção de vídeo
Um público de gerações
Integrantes, ex-integrantes e responsáveis pelas crianças do Coral da Palavra Cantada, incluindo pais e filhos de diferentes gerações, falam sobre a conexão afetiva que têm com as músicas da dupla.
“Elas não cantam em uma voz só, cantam em várias vozes. Então, é uma forma de essas crianças introjetarem a música da Palavra Cantada nelas e fazerem esse caminho do aprendizado musical, também para sensibilização, percepção da vida e inspiração.”
Sandra Peres em entrevista para o Itaú Cultural
Seção de vídeo
O coral
Relatos emocionantes das crianças que participam e de ex-integrantes do Coral Palavra Cantada, que compartilham como essa experiência marcou suas vidas. Eles falam sobre suas músicas favoritas, como se inspiraram no grupo e como ainda hoje escutam essas canções com carinho. Os depoimentos revelam o impacto duradouro da vivência no coral e o que cada um leva dessa experiência para a vida.
O vídeo também traz a perspectiva dos pais das crianças, da maestrina do coral e do monitor da Palavra Cantada, destacando a importância do projeto e sua contribuição para o desenvolvimento artístico e emocional dos participantes.
A ratinha que ainda habita em mim
por Stefany Santos
Lembro como se fosse hoje, eu devia ter ou 8 anos. Terceira série do ensino fundamental, cabelos claros, cheios de cachinhos e sonhos tão grandes que não cabiam na mochila de rodinhas que eu arrastava pelos corredores do colégio. Foi nessa época que ouvi dizer que haveria um curso de teatro ali mesmo, na escola. Quando eu soube que poderia participar, meu coração disparou: fiquei tão entusiasmada que, ao chegar em casa, perguntei à minha mãe se poderia entrar no curso, já que as aulas seriam à tarde, fora do horário regular.
Comecei a frequentar o curso com muita energia. Cada encontro era uma nova descoberta, um aprendizado diferente. Até que veio a notícia: montaríamos uma peça inspirada na música “Rato”, da Palavra Cantada. Na hora, meu peito se encheu de alegria. Pensei: “Quero ser a ratinha!”. Não tive dúvidas. Aquela dupla já morava em mim desde o 2º ano, quando ganhei um CD na escola. As canções grudaram na minha mente e na minha alma, como “Criança não trabalha”, “Sopa”, “Ora bolas”, “Pindorama” e, claro, a famosa “Rato”. Eu cantava todas até decorar – e ainda canto.
Quando anunciaram oficialmente que a peça seria sobre a canção “Rato”, meus olhos brilharam. Eu era uma menina decidida, de coração saltitante, que se identificava muito com a ratinha da composição – ela tinha cachinhos, assim como eu. E eu vivia assistindo ao clipe dessa música na TV Cultura.
Decorei cada linha, cada gesto, cada sílaba. Ensaiava todos os dias, no quintal ou diante do espelho. Pedia à professora, quase como um mantra: “Me deixa ser a ratinha?”, afinal, tínhamos o mesmo cabelo enroladinho. E minha mãe fazia os cachos com capricho, um a um com o dedo, como só ela sabia fazer.
Até que, em algum momento, a professora cedeu e eu ganhei o papel. No dia da apresentação, tremia de nervoso. Achava que, talvez, ninguém da minha família fosse aparecer. Mas, quando a peça começou, tudo fez sentido. Meus colegas no palco, cada um em seu papel, e lá estavam elas: minhas irmãs, sempre presentes. Vê-las ali me deu força e abrigo. Um conforto de amor de família.
Aquela apresentação foi apenas um capítulo da minha infância, mas ficou gravada em mim como uma memória especial. Porque ali, naquele palco, eu fui a ratinha. Entendi que a arte pode nos vestir, nos abraçar e nos representar. Descobri que minha infância foi feita desses momentos mágicos, embalados por Paulo Tatit e Sandra Peres, que, de alguma forma, seguem presentes na minha vida.
Ainda hoje, quando ouço as músicas da dupla, volto no tempo. Acabo me lembrando daquela garotinha que acreditava que podia ser tudo o que quisesse, até mesmo uma ratinha dentuça. E foi assim que a Palavra Cantada me marcou. E ainda me marca.
No fundo, aquela menininha ainda mora em mim.
Stefany Santos é estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). No Itaú Cultural (IC), atua como estagiária da equipe de Criação e Plataformas desde 2023. Já participou de projetos como a Ocupação Artacho Jurado, a Ocupação Oswald de Andrade e a Ocupação Palavra Cantada, da qual este texto faz parte.