Método
As ideias de Regina são trabalhadas e retrabalhadas antes de chegar a sua forma final. Entre as ferramentas de Regina estão o mais simples rabisco, a fotografia (muitas vezes com desenhos ou aplicações gráficas na imagem), modelos virtuais, maquetes prévias, de material pouco resistente (papelão ou cartão, por exemplo) e maquetes mais elaboradas, em que se avalia a relação que o corpo do visitante terá com aquele espaço e a tridimensionalidade na qual os grafismos serão aplicados. Em um segundo estágio, depois da obra feita, também são produzidas maquetes, para que haja um documento da exposição realizada que é, naturalmente, efêmera.
Nesta seção, você mergulha no processo de criação e, digamos, documentação da artista: conhece as maquetes que integram a exposição física desta Ocupação e observa as obras nas suas raízes mais profundas: desenhos, plantas e projetos. Além disso, assiste a entrevistas nas quais a artista explora o surgimento e a aplicação de suas ideias, e a própria função da arte.
Modelos da série Desaparências (1)
Modelos da série Desaparências (2)
Modelos da série Desaparências (3)
Cavalete
Seção de vídeo
As etapas da criação de Regina
Sonho, rabisco, corpo-a-corpo com o espaço, maquetes e a execução – as etapas da criação de Regina
Projetos
Rabiscos
Árvore
Mundus Admirabilis
Sobre Mundus Admirabilis, Regina afirmou, em 2007:
“A ideia de usar imagens de insetos daninhos para comentar aspectos de deterioração e conflito pertence ao universo conceitual de trabalhos ainda inéditos que venho planejando e mesmo executando, pouco a pouco, em diversos meios, na tentativa de reatualizar, na contemporaneidade, as velhas pragas bíblicas, históricas e míticas. Operando na hipótese de sua possível transposição para outros territórios da significação, as pragas revisitadas seriam metáforas não lineares das pragas muito mais furiosas que hoje em dia nos assolam, a nível mundial e global, em diversas frentes: sociais, ambientais, culturais e ‘civilizadoras’, ameaçando um futuro que parece a cada dia mais inviável.”
Mundus Admirabilis
Desapariencia (Taller)
Em Desapariencia (Taller) e em outras obras de composição similar, Regina explora imagens de instrumentos comuns dos estúdios artísticos tradicionais, sintetizando, segundo ela, “reflexões recorrentes sobre a representação e o lugar da pintura”. Há duas características gráficas de destaque: a perspectiva e o tracejado descontínuo dos desenhos. Os objetos são desenhados de um ponto de vista praticamente inalcançável para o espectador — e surgem deformados, tornam-se paradoxos visuais. A perspectiva, que no Renascimento pretendia ser a técnica que proveria uma visão exata, científica mesmo, para a representação artística, é problematizada por Regina. As linhas interrompidas no tracejo, que são o código geométrico para o que está invisível no desenho, também participam dessa crítica da arte clássica. Como diz a crítica de arte Angélica de Moraes, no texto “Vestigios de una ausencia”:
“O que desaparece é o estúdio do artista, aquele estúdio tradicional equipado com cavalete, armário para tintas, torno para modelar, piso e paleta. Um estúdio que remonta a muitos séculos atrás, teve ressonâncias heróicas no Renascimento, burocratizou-se com a Academia, começou a desaparecer com as vanguardas artísticas do século XX e chega ao final do milênio como um simulacro cada vez mais distante da prática contemporânea”.
Desapariencia (Taller) [1]
Desapariencia (Taller) [2]
Narrativa visual
Em 2006, Regina afirmou sobre Observatório:
“A narrativa visual da instalação compreende duas esferas, uma delas gigante e aderida diretamente ao teto (…) e a outra muito menor, visível apenas para quem espia o fundo de um poço negro, objeto/enigma construído em madeira e assentado no meio do espaço arquitetônico, sobre o piso de mármore branco. As duas esferas remetem ao imaginário científico da representação de planetas: a maior se percebe como um planeta virtualmente suspenso no céu noturno, exatamente acima do poço; a menor é a sua réplica, mais além do fundo do poço. (…) A assunção poética maior implicada no Observatório é a de que tanto o lugar, quanto os que se assomam à borda do poço não estariam mais em terra firme, mas flutuando entre os dois planetas, totalmente à deriva…”
Observatório
Observatório (2)
Regina em seu ateliê
Ausência e Movimento
Duas séries de trabalhos comuns — Derrapagens, Derrapando, Frenazos, de um lado, e Irruption Series (Saga), Intro, Irruption, de outro — espalham padrões pelas paredes: rastros de pneus, pegadas de animais, marcas de pés humanos. Os museus são percorridos pelos animais ou pelos carros, que passam em alta velocidade, deixando vestígios por toda parte. São obras que trabalham com ausência — são o registro do que não está lá — e movimento, passando ideia de velocidade maior ou menor. As tendências ganham significados distintos em cada uma das suas manifestações. Nas que trazem as pegadas de animais, Regina destaca o inesperado, o fora de contexto, o alucinatório. As marcas de automóveis trazem a experiência cotidiana de transitar pelas cidades explodindo nas paredes.
Algumas obras que não aparecem na exposição trazem ainda outros diálogos. Em Gone Wild (1996), Regina imprime nas paredes do Museu de Arte Contemporânea La Jolla, em San Diego, nos Estados Unidos, marcas de pegadas de coiote. A artista, com isso, trabalha com o político da imigração: o museu está na região de fronteira com o México, e “coyotes” são pessoas que atravessam ilegalmente imigrantes para dentro dos EUA [veja vídeo Política e Arte, em Método]. Já em Tropel (1998), para a Bienal de São Paulo, Regina reproduz pegadas de uma variedade enorme de bichos para dialogar com o tema proposto pelos curadores: antropofagia.
Frenazos
Frenazos (2)
Derrapando
Derrapagens
Irruption
Irruption (2)
Irruption Series (Saga) [1]
Irruption Series (Saga) [2]
Intro
Descendo a Escada
Texto de Marcos Cuzziol, gerente do Itaulab, laboratório de mídias interativas do Itaú Cultural. Ele participou do processo de criação de uma obra de Regina.
“Fazer parte da equipe que, com Regina Silveira, realizou o desenvolvimento técnico de Descendo a Escada (2002) foi uma experiência de reflexão e descoberta. Criar uma versão interativa de A Escada Inexplicável II (1999) exigiu o estudo detalhado das regras da perspectiva peculiar criada por Regina para aquela obra.
Tive, então, contato com os estudos que deram origem ao trabalho de 1999. A foto da escadaria no centro do papel, os traços que se encontravam em diversos pontos de fuga, a dinâmica de suas posições relativas, a projeção da imagem nos três planos a partir de um ponto de vista preestabelecido, enfim, todas as etapas constituíam um processo único de recriação matemática de perspectiva. Obviamente, aquela não era a perspectiva que eu já conhecia de ambientes virtuais em 3D, ela mesma uma simplificação matemática das propriedades de projeção da luz. Tratava-se de uma perspectiva nova, com regras igualmente precisas, suficientemente familiar para que a imagem final fosse compreendida, mas diferente a ponto de estimular novos olhares para objetos conhecidos.
Em Descendo a Escada, foi preciso recriar virtualmente a perspectiva única de Regina – e fazê-lo vinte vezes por segundo – para todo o percurso de descida. Mas a chave para vencer o desafio técnico provou ser a agradável tarefa de compreender as regras criadas por ela para a construção das imagens individuais. Entender esse processo também revela detalhes sobre o olhar de Regina, que não se limita a questionar o estabelecido, mas que propõe, inovadora, suas próprias regras.”
Estudo: Escada Inexplicável II
Estudo: Escada Inexplicável II
Escada Inexplicável II, 1999
Seção de vídeo