A biblioteca pessoal de Machado de Assis pertence à Academia Brasileira de Letras e tem o perfil enciclopédico comum ao século XIX. “A biblioteca dos letrados brasileiros daquele período é marcada por muitos títulos em francês, assim como por um interesse pelas ciências em geral”, afirma Luciana Antonini Schoeps – pesquisadora com pós-doutorado na área de literatura brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) e que estudou a biblioteca particular de Machado de Assis. “O interesse pelas ciências também é uma característica. Ele tinha livros dos primórdios da psicanálise e também coisas sobre evolucionismo e demais correntes filosóficas da época”, completa.
Os clássicos da literatura mundial também estão presentes na coleção de Machado de Assis. A partir deles, foi possível notar que o maior escritor brasileiro tinha uma biblioteca “limpa”, com raras interferências. “Não vemos marginálias, grifos, anotações. São poucos os livros que têm esse tipo de intervenção do leitor Machado de Assis no objeto livro”, diz Luciana Schoeps.
Os grifados, portanto, chamaram a atenção da pesquisadora. E um dos livros com mais anotações é A divina comédia, de Dante Alighieri, aqui na versão italiana original e que aparece em romances e contos da obra machadiana. Machado de Assis, inclusive, a traduziu para o português. Outras anotações podem ser encontradas nas revistas do Instituto Histórico e Geográfico, cuja coleção ele tinha quase completa.
As literaturas brasileira e portuguesa não aparecem no acervo de Machado. Um dos motivos dessa lacuna se deve ao fato de que ele lia bastante no Real Gabinete Português de Leitura.