Ocupação

 

A voz de Ailton Krenak é um chamado que nasce da terra e chega ao nosso tempo como um convite urgente à escuta ativa. O líder indígena, ambientalista e pensador transformou sua trajetória em um impulso coletivo para reimaginar o mundo. Percebeu, desde cedo, a força do pertencimento, além de sentir os impactos de uma nação que insiste em apagar seus povos originários. 

Ao longo dos anos, firmou-se como um dos representantes da causa indígena no Brasil e no exterior, trazendo à tona reflexões sobre humanidade, natureza, espiritualidade e futuro. Em 1987, por exemplo, ao pintar o rosto com jenipapo durante um discurso na Assembleia Constituinte, gravou na memória do país um gesto que segue ecoando: os povos indígenas existem, resistem e têm muito a dizer. 

A Ocupação Ailton Krenak celebra esse percurso. Nascido em 1953, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, ele é autor de livros que se tornaram faróis em tempos de crise, como Ideias para adiar o fim do mundo, A vida não é útil e Futuro ancestral – manifestos de reconexão com o planeta e com nós mesmos. Além disso, contribuiu para a criação do Programa de Índio, do Jornal Indígena e do Núcleo de Cultura Indígena (NCI), iniciativas fundamentais para fortalecer a voz dos povos originários.

Com curadoria do Itaú Cultural (IC), a mostra preenche o piso térreo com depoimentos, manuscritos e registros de uma vida dedicada a pensar caminhos fora da lógica do consumo e da destruição. O projeto conta com uma publicação impressa (disponível on-line) e apresenta este site com conteúdos exclusivos.

Além da dimensão de homenagem, esta Ocupação – palavra que na língua Krenak se traduz como Men am-ním – é, ainda, um convite para desacelerar, conceber outros horizontes e descolonizar o olhar. Ailton nos lembra que o amanhã só floresce se houver cuidado agora e que sonhar também representa um modo de resistir. Talvez seja por aí o nosso caminho de volta à floresta. Que esta exposição não se encerre neste espaço, mas aconteça no mundo. Porque ocupar, aqui, é reencantar. 

Itaú Cultural