Painel dos personagens

Personagens

Nos meus filmes os atores contribuem com novo estilo de interpretação, de desincorporação, uma nova técnica de reinvenção.

Rogério Sganzerla

ilustrações: João Pinheiro

Compartilhe

Helena Ignez

Atua em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando inicia um dueto histórico com Rogério Sganzerla. Inaugura uma forma de interpretar autoral, antinaturalista, a partir de Mulher de Todos (1969), protagonizando Angela Carne e Osso, a inimiga número 1 dos homens. Em 1970, funda com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora independente que realiza seis longas-metragens em sete meses, atuando em Sem Essa, Aranha e Copacabana, Mon Amour, no papel de Sonia Silk, a fera oxigenada, e Carnaval na Lama (1975), como Betty Bomba, a exibicionista. Participa como atriz em outros filmes de Rogério, como Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e Signo do Caos (2003), passando à direção no mesmo ano, com Reinvenção da Rua (montado por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz nas Trevas (2010), que traz roteiro inédito de Sganzerla. Foi casada com Rogério Sganzerla por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla.

Compartilhe

Paulo Villaça

Rogério Sganzerla encontra em Paulo Villaça o tipo ideal para viver O Bandido da Luz Vermelha nas telas: “Ele tinha uma voz grave e a face de um Humphrey Bogart acaboclado e lembrava muito o próprio bandido”. Atua logo em seguida em A Mulher de Todos (1969), agora na pele de um impagável toureiro gay e em Copacabana, Mon Amour (1970), como Doutor Grillo.

Compartilhe

Pagano Sobrinho

Em O Bandido da Luz Vermelha, encarna o personagem JB da Silva, político corrupto, gângster e populista que propaga soluções cínicas para as mazelas do povo. Desta forma, JB da Silva transforma-se no Rei da Boca, defensor da miséria como forma de salvaguardar o folclore.

Compartilhe

Jô Soares

Interpreta um hilário proprietário de um truste de história em quadrinhos, casado com a insaciável Angela Carne e Osso, (Helena Ignez), em A Mulher de Todos (1969). As figuras do filme parecem saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio Doktor Plitz, que traz um componente nazista no figurino e na postura, vigiando e enredando a mulher em jogos eróticos extravagantes.

Compartilhe

Otávio Terceiro

Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla, Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme, Signo do Caos (2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no Brasil. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de agente do caos e cujo modus operandi é o espírito de transação.

Compartilhe

Antonio Pitanga

Rogério Sganzerla propõe a Antonio Pitanga viver um milionário negro que é seduzido por Angela Carne e Osso em A Mulher de Todos (1969). Pitanga atua novamente em Nem Tudo É Verdade, e interpreta Justino, personagem do último roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas (2010), dirigido por Helena Ignez e Ícaro Martins, em fase de finalização.

Compartilhe

Guará

Figura emblemática, integra a Belair como ator em Copacabana, Mon Amour (1970) e como assistente e tecnico de som de Sem Essa, Aranha (1970). Participa de Perigo Negro (1993) e brilha como anti-ator em Signo do Caos. Em Copacabana, Mon Amour Guará é um malandro que tenta a todo custo ser o cafetão de Sonia Silk, cercando turistas e gringos na Avenida Atlântica. Aos pulos diante de dois marinheiros na orla de Copacabana, Guará grita: “Money please, money please… american friends… O que estamos fazendo aqui na terra? Qual é o destino do homem?”.

Compartilhe

Maria Gladys

Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta uma personagem histérica, que desce a ladeira do Vidigal, vestida de verde e amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo filme, em um plano-sequência antológico, canta desvairadamente a canção Babalu, antigo sucesso de Angela Maria. Com Rogério Sganzerla, fez ainda Carnaval na Lama (1970).

Compartilhe

Norma Bengell

Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma das personagens mais interessantes de Rogério Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva vaporosa, fumando um enorme charuto, tornou-se ícone do cinema brasileiro dos anos 1970.

Compartilhe

Otoniel Serra

“Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir dopado de sol, de cachaça e de magia.” Otoniel Serra interpreta Vidimar, o irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana, Mon Amour (1970). Tresloucado, era uma espécie de médium esfarrapado. Segundo o argumento do filme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo Villaça), a quem mata com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”.

Compartilhe

Wilson Grey

Ator de mais de mais de 150 filmes, na maior parte como coadjuvante, Wilson Grey interpreta em Abismu (1977), filme com viés expressionista, o papel de secretário de Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado de José Mojica Marins, que faz o papel de Doutor Pierson, persegue um egiptólogo que detém um manuscrito com pistas de um antigo tesouro.

Compartilhe

Moreira da Silva

Em Sem Essa, Aranha (1970), Moreira da Silva, o rei da malandragem, aparece em uma única sequência, cantando e sambando. Sua presença enquadra-se incrivelmente na mise-en-scène delirante do filme, no qual Zé Bonitinho dá as cartas, constatando:“Essa é a pior das épocas!”. Essa é uma alusão ao fantasma da ditadura, que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez. 

Compartilhe

Luiz Gonzaga

Em travelling circular e vertiginoso, a câmera acompanha Luiz Gonzaga e sua sanfona. O ambiente é suburbano, o quintal de uma casa de chão de terra batida. Ao som do baião, Sônia Silk, interpretada por Helena Ignez, recita um dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho metido à besta!”.

Compartilhe

José Mojica Marins

Em Abismu (1977), José Mojica Marins faz o “elogio à boçalidade” na pele do Doutor Pierson. Personagem caracterizado como Zé do Caixão, está envolvido numa trama arqueológica, perseguindo um egiptólogo com um supertelescópio, na busca de tesouros e elos perdidos de civilizações ancestrais. Autor de mais de 40 filmes e ator em cerca de 20, José Mojica Marins manteve um diálogo criativo com Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti e Neville de Almeida.

Compartilhe

Zé Bonitinho

Personagem marcante em Sem Essa, Aranha (1970), no qual vive Aranha, o último capitalista do país, e no filme Abismu (1977), como Medium Um, Jorge Loredo é convidado por Rogério após a consagração de seu personagem Zé Bonitinho na televisão brasileira. Nesses filmes Zé Bonitinho ocupou um espaço central, recitando monólogos quase metafísicos, conferindo relevo à sua figura, que se transforma por vezes em alter-ego do próprio Rogério Sganzerla.

Compartilhe

Grande Otelo

Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1995), o ator Grande Otelo é a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil. Interpretando Sebastião Prata, pode ser visto como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, a representação de Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, e de Othelo, o único protagonista negro de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo.