Foi no Carnaval de 2019, vestida à la Moana, que Stella Valentina virou notícia e viral: então com 6 anos, a menina pôs o coração na boca e, com os braços em direção às nuvens, sentiu cada canção do repertório apresentado por Alceu Valença no bloco Bicho Maluco Beleza. Diversos celulares a registraram, em foto e vídeo, no ombro do pai, Uberlan Garcia, cantando, cantando, cantando. O jeito livre e apaixonado de Stella conquistou tanto quem, como ela, era público a ocupar as ruas de São Paulo quanto o próprio artista e sua equipe. Em dada etapa do percurso, Yanê Montenegro, esposa e empresária do cantor, segurou o olhar na pequena e, sem demora, solicitou que levassem a fã mirim para o trio. E, desse modo, no tempo de um assobio, ele e ela, Alceu e Stella Valentina, fizeram de “La Belle de Jour” um dueto de carinho. A beleza daquela tarde, afinal, veio dessa união.
Da parte de Stella, esse laço, é certo, chegou como herança. Da mãe, Fernanda Garcia, vem a raiz de Pernambuco, o mesmo estado do mestre de São Bento do Una. Do lado paterno, as origens se voltam para terras paraibanas: Uberlan muito se orgulha de ser conterrâneo dos Ramalhos – Elba e Zé – e, à filha, faz questão de transmitir o gosto pela música. A arte do som ganha essa família por meio de um mundo de gente: na sala da casa, no centro do rack, um box de Frank Sinatra; no carro, o CD d’O Grande Encontro; na playlist escolhida pela garota há de Nina Simone a Teresa Cristina. E claro: Alceu, bastante Alceu.
Aos 3 anos, Stella viu e ouviu ao vivo, pela primeira vez, o ídolo. Em algum momento desse show, o brincante Valença convidou crianças da plateia para o palco, e a menina ligeira não se fez de rogada. “Ela escapa como peixe ensaboado e sai correndo”, brinca Uberlan. E foi justamente assim, peixinha com sabão, que ela não parou mais de acompanhar o compositor querido. Quando tinha 5 anos, adicionou à sua lista o segundo espetáculo de Alceu – que, de novo, quis colocá-la sob os holofotes. Nesse dia, porém, a pequena estava rouca e guardou a exibição para depois.
O depois veio, veio ainda maior e atingiu o ápice no bloco carnavalesco. Além de ter dividido o microfone com o intérprete de “Morena Tropicana”, Stella Valentina passou a ser, desde então, próxima do artista. No camarim, a dupla deu um abraço demorado, gesto de uns 20 minutos, e se reconheceu na disponibilidade para a conversa (igualmente longa). Com ele, ela aprende exercícios vocais, os “bá bá bá bá bá bá”, e é incentivada a fazer aulas de canto. “Valentina está cantando bem, mas tem que ensaiar”, repete Alceu. Verdade seja dita, os pais de Stella também a estimulam a descobrir as artes, leque que inclui não só o universo da voz. Ela fez balé clássico, mas Fernanda a via engessada e a desmatriculou. No lugar, hoje, está o treino de coreografias de dança afro. Para fechar, por enquanto, a relação de atividades, aparece a prática do teclado. No fundo, experienciar esses e demais campos criativos alimenta a sensibilidade da garota, que, tão nova, deseja um futuro repleto de manifestações artísticas. “Sonho em cantar, dançar, tocar, essas coisas”, diz Stella – espirituosa, risonha.
Tamanha é a vontade da menina em se expressar que ela mantém um canal no YouTube: por lá, cantarola Noel Rosa, homenageia Conceição Evaristo e compartilha um recado que Alceu lhe enviou após o encontro durante o Carnaval. Os vídeos publicados, assim como as redes sociais da pequena, possuem o crivo de Fernanda e Uberlan, que se preocupam com os conteúdos produzidos pela filha. Assuntos que alegrem, ensinem e empoderem Stella e outras crianças são preferidos. E o cuidado não para por aí: a mãe enfatiza que a youtuber infantil é conhecida – não famosa. “Acho importante diferenciar isso para que ela não fique deslumbrada”, pontua Fernanda. Todo esse amparo possibilita que a infância de Stella continue sendo, de fato, infância.
Meninice inquieta, curiosa, de pés no chão, de quem decora com o pai as letras de “Anunciação” e “Eu Vou Fazer Você Voar”. Toda entregue ao afeto por Alceu Valença, Stella Valentina presenteou o artista em um show no Auditório Ibirapuera, em novembro de 2019, com girassóis, posto que ele, gira gira gira girando, revelou para ela que flor é música e música é flor. E ela, por seu turno, realçou para ele que sua música-flor revive a cada geração e não deixa de acolher idade alguma. Amiga do ídolo de abraço grande, Stella carrega, vida afora, um amor grande, também grande, por Alceu, aquele que a conduz antes mesmo de ela vir à vida.