Identidades
O teatro de João das Neves se abre para as múltiplas vozes que formam a cultura brasileira. O artista se embebe de outras identidades para contar as tradições, as lutas e as alegrias de tantos brasileiros, sejam do asfalto, sejam da floresta ou do sertão.
O Último Carro, de 1964, se inspira nos passageiros da Central do Brasil, estação carioca; com base no cotidiano, constrói-se uma metáfora do Brasil à época: um “trem desgovernado”. O espaço urbano ambienta outra vez uma peça de João em 2015: Madame Satã, que aborda a cultura marginal, o racismo e a homofobia.
Durante a estada no Acre, de 1986 a 1991, o artista criou espetáculos baseados na cultura indígena e no dia a dia dos seringueiros. Yuraiá – o Rio do Nosso Corpo, texto de 1990, ainda sem montagem, é representativo nesse sentido. Segundo a dramaturgia, deve ser encenado em uma habitação típica dos Kaxinawás e por um elenco formado de índios e trabalhadores dos seringais.
O sertão mineiro, por sua vez, é a fonte de Maria Lira, de 2007, que traz a história da artesã, educadora e pesquisadora Maria Lira Marques Borges, representante dos saberes sertanejos; e de A Santinha e os Congadeiros, de 2008, que conta uma fábula tradicional do Congado – manifestação cultural e religiosa afro-brasileira – com atuação dos próprios congadeiros, integrantes de várias “irmandades”.
Dos contatos com a alteridade, também se destaca a trilogia de temática negra, que estreou em 2014 e marcou os 80 anos do dramaturgo. Zumbi, Galanga Chico Rei e Besouro Cordão de Ouro tratam das biografias de três personagens centrais para a história da presença africana no Brasil.
Para João, a riqueza são os outros.