Leda em 1978, período em que cursava o mestrado em artes pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos | Acervo pessoal
Entre espirais e telas
A força motriz da ancestralidade: a obra de Leda Maria Martins
por Icaro Mello
A produção teórica de Leda Maria Martins é vasta, diversa em relação a seus objetos de estudo e profundamente marcada por conceitos como memória, performance, tradição cultural, resistência e temporalidade. Nos livros O moderno teatro de Qorpo-Santo (1991), A cena em sombras (1995), Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá (1997) e Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela (2021) é possível perceber uma convergência na reflexão teórica e crítica, apesar de abordarem temas e objetos distintos. Dada a relevância de seu trabalho, a riqueza e complexidade de sua pesquisa e a urgência de compartilharmos suas reflexões nos campos de estudos de performance e estudos culturais e literários, preparamos uma pequena apresentação desses quatro livros, oferecendo a você, leitor, um panorama dos temas tratados e um pequeno guia para conhecer a indispensável obra de Leda Maria Martins.
Todas as publicações citadas dão destaque a um elemento essencial na compreensão das práticas culturais marginalizadas e da resistência cultural: a memória.
O moderno teatro de Qorpo-Santo (1991)
O primeiro livro de Leda Maria Martins, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 1981, resgata e apresenta a obra do dramaturgo e poeta gaúcho Qorpo-Santo. Desafiando as convenções sociais, e do próprio teatro, no século XIX, sua produção é marcada pela fragmentação narrativa e pela subversão da linearidade temporal, expressando narrativamente a desordem social – e existencial – da sociedade brasileira do período.
José Joaquim de Campos Leão (1829-1883), Qorpo-Santo, foi um dramaturgo gaúcho cuja obra não foi completamente compreendida em sua própria época, em grande parte pelo isolamento e pelo preconceito que sofreu em razão de sua excentricidade e de seu diagnóstico de “loucura”. Sua obra, cuja qualidade foi questionada e relegada ao esquecimento por décadas, antecipa elementos do teatro do absurdo, diálogos desconexos e o questionamento de convenções sociais e artísticas.
Em seu livro, Leda analisa a relação entre a produção teatral de Qorpo-Santo e sua condição de saúde mental, recusando interpretações reducionistas que associam sua escrita a uma suposta “loucura”. Para a autora, a obra do dramaturgo está, na realidade, inserida em um contexto de resistência e inovação cultural, e sua experimentação com a linguagem é uma crítica à previsibilidade da comunicação humana.
O moderno teatro de Qorpo-Santo é uma obra fundamental para o seu reconhecimento como um autor inovador e relevante para a história do teatro. Ao valorizar sua originalidade e ousadia estética, Leda questiona os critérios de exclusão cultural sofridos pelo dramaturgo e nos convida a revisitar a produção de Qorpo-Santo com um novo olhar, mais atento às rupturas que ele propõe.
A cena em sombras (1995)
Fruto da tese de doutorado de Leda (uma pesquisa sobre a trajetória do Teatro
Experimental do Negro e a formação do Teatro Negro nos Estados Unidos), A cena em sombras é uma obra profunda e complexa sobre as práticas culturais afro-brasileiras. Contestando a marginalização e a invisibilização de tais práticas na história da cultura do país, ela oferece uma base teórica que valoriza as epistemologias africanas e suas diásporas e desafia o racismo estrutural brasileiro. Em sua tese, Leda
A autora se debruça sobre diferentes práticas da cultura negra brasileira, do Teatro Experimental do Negro (TEN), criado por Abdias Nascimento, ao Reinado e o Congado, redefinindo o conceito de performance para além do pensamento teatral clássico, compreendendo-a como um fenômeno cultural que articula corporeidade, oralidade e ancestralidade. O Congado e o Reinado, por exemplo, são apresentados como tradições culturais marcadas pela resistência frente a uma cultura hegemônica eurocêntrica.
É a partir dessa obra que muitos dos temas e conceitos que marcam a produção de Leda aparecem de maneira mais evidente. A performance, por exemplo, é entendida como uma maneira de reinscrever a memória africana no contexto brasileiro, reconstruindo identidades que foram violentamente rompidas pelo processo colonial. Para Leda, a performance não apenas preserva a história, mas cria narrativas contemporâneas de pertencimento e de luta.
É também em A cena em sombras que a autora apresenta um questionamento muito importante: a dicotomia entre oralidade e escrita. A tradição colonial europeia, em seu processo de dominação e imposição cultural, privilegiou a escrita como produtora e disseminadora de conhecimento, em detrimento da tradição da oralidade, presente sobremaneira nas culturas africanas e afrodiaspóricas. Para Leda, a oralidade não é uma etapa primitiva subordinada à escrita ou menos importante que ela, mas uma tecnologia cultural igualmente sofisticada, cuja coexistência permite o enriquecimento mútuo.
A obra é não apenas uma análise acadêmica como também uma celebração das culturas afrodescendentes e um chamado à ação contra o apagamento dessas tradições. É uma leitura essencial para todos aqueles interessados em analisar e valorizar as contribuições das culturas africanas e afro-brasileiras na formação do Brasil.
Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá (1997)
Em 1993, o capitão-mor do Reinado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, João Lopes, atribuiu uma tarefa a Leda Maria Martins: escrever a história do Reinado do Jatobá, com seus rituais sagrados, suas origens e seus cantos. Integrante da Guarda de Congo da Irmandade do Jatobá – na época como Rainha Conga e, atualmente, como Rainha de Nossa Senhora das Mercês –, a autora pesquisou e escreveu a partir de um lugar de pertencimento, mas também a partir de arquivos e testemunhos orais de congadeiras e congadeiros.
Afrografias da memória é uma das mais importantes contribuições para o estudo das culturas afro-brasileiras. Ao investigar a manifestação cultural e religiosa afro-brasileira do Reinado, Leda destaca suas dimensões simbólicas, históricas e políticas. A exemplo de A cena em sombras, o livro apresenta uma perspectiva inovadora sobre a memória, a oralidade e a resistência cultural das práticas afro-brasileiras.
O conceito de afrografia foi cunhado por Leda para representar a ideia de que as culturas afrodescendentes escrevem sua memória e história por meio de práticas corporais e ritualísticas, de cantos e danças, compondo um arquivo vivo de memória coletiva. Como na obra anterior, Leda também mobiliza o conceito de oralitura, que contesta a hegemonia da escrita, reconhecendo como as histórias e os saberes ancestrais são passados não só pela literatura, mas também por manifestações performáticas (como o corpo e a voz).
A autora nos convida a refletir sobre como os rituais e as práticas do Reinado mantêm viva a memória coletiva de povos africanos escravizados e conectam o presente às tradições ancestrais. Seus corpos em dança e seus cantos rituais são um veículo de transmissão cultural que resiste ao apagamento histórico e ao epistemicídio causados pelo colonialismo.
Afrografias da memória, além de resgatar o valor do Reinado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, oferece um arcabouço teórico inovador para o estudo das culturas afrodescendentes no Brasil.
Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela (2021)
Uma das obras mais complexas e inovadoras de Leda, Performances do tempo espiralar apresenta uma reflexão profunda sobre a relação entre memória, ancestralidade e performance nas culturas afrodescendentes por meio de uma perspectiva central: a temporalidade.
Aprofundando noções trabalhadas nas obras anteriores, a autora propõe o conceito de tempo espiralar para descrever uma temporalidade não linear, intrínseca às culturas afrodescendentes. Esse tempo, fortemente enraizado na cosmologia africana, não se apresenta como uma linha reta, que avança continuamente para o futuro, mas como um movimento circular e contínuo, no qual o passado, o presente e o futuro se entrelaçam, e os ancestrais permanecem presentes e ativos no cotidiano das comunidades, influenciando a vida e a identidade de seus descendentes.
Outro conceito trabalhado na obra é o de corpo-tela. Para Leda, o corpo é uma tela em que histórias, memórias e ancestralidades são performadas por meio de danças, cantos, rituais e vestimentas, conectando os indivíduos aos seus ancestrais e realizando uma mediação entre o mundo material e o espiritual.
Ao defender que arte e política são indissociáveis, Leda explora como as performances revitalizam e ressignificam os laços ancestrais, criando novas formas de resistência e pertencimento, preservando e transmitindo a memória, especialmente em contextos de apagamento e opressão. O corpo negro é visto como um espaço de disputa, em que as marcas da violência colonial são transformadas em símbolos de resistência e afirmação identitária.
Ao reinterpretar práticas culturais afrodescendentes à luz de cosmologias africanas, a autora desafia paradigmas eurocêntricos, investiga interseções entre escrita, oralidade e corporeidade e dá destaque à sofisticação estética e política das manifestações culturais afro-brasileiras. Densa e marcada pelo rigor teórico, a obra é essencial para compreender as dimensões culturais, políticas e estéticas das culturas afrodescendentes.
As quatro obras que destacamos aqui formam um conjunto coeso que questiona as perspectivas hegemônicas da história, da memória e da performance. Mesmo que versem sobre diferentes temas, todas elas analisam e evidenciam o potencial e a força transformadora das práticas culturais africanas, afrodiaspóricas e afro-brasileiras, ao mesmo tempo que fornecem um arcabouço teórico rigoroso para interpretá-las.
“Primeiro, eu a conheci pela obra dela, principalmente por "A cena em sombras", que, para mim, é uma Bíblia. Levo-a para tudo e é um norte para a minha construção de interpretação, de compreender a construção de personagem de um sujeito negro em cena, que é diferente e carrega elementos diferentes em todos os sentidos”.
Tatiana Tiburcio
As obras de Leda Maria Martins
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Livro "O moderno teatro de Qorpo-Santo"(1991)
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Primeira edição do livro "A cena em sombras" (1995)
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Primeira edição do livro "Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá" (1997)
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Segunda edição do livro "Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá" (2021)
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Livro "Performances do tempo espiralar – poéticas do corpo-tela" (2021)
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Leda autografando exemplares do livro “O moderno teatro de Qorpo Santo” durante evento de lançamento, 1991. | Acervo pessoal
"A Leda sempre gosta muito de falar de movimento. Então, para movimentar tudo que está parado, ela gosta de falar de trânsito e de usar exemplos que são extremamente corriqueiros, ou mundanos, ou ordinários, ou simples para ilustrar conceitos sofisticadíssimos de filosofia que ela traz para a gente. De novo, entra esse didatismo, essa generosidade que ela tem de se abaixar para chegar até a gente, olhar no olho e explicar."
Ana Maria Gonçalves
Sobre deuses e rainhas: a filosofia de Leda Maria Martins
por Eduardo Oliveira*
O carioca de cidadania mineira Milton Nascimento, imortalizado cidadão do mundo, numa de suas canções mais contundentes, “Promessas do Sol”¹, com sua voz afro-pindorâmica², faz a pergunta mais urgente: “Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?”. Elis Regina disse um dia que, se Deus cantasse, cantaria com a voz de Milton. Sua voz maviosa e telúrica, ao som de flautas, piano e violão, ecoa a pungente indagação para o nosso tempo. Não é a pergunta para um deus responder, mas a indignação divina diante de um acontecimento trágico: a violência sistemática contra os povos africanos no continente e na diáspora, e a violência igualmente perversa contra os povos originários da Ameríndia.
O rapto de milhões de africanos de seus territórios de origem, o genocídio que desgraçou sua dinâmica cultural, a escravidão que lhes roubou sua história de liberdade e criação; a destruição cumulativa e cruel das instituições políticas, das línguas e seus falares, das linguagens e seus fazeres, dos corpos e seus saberes, da espiritualidade e sua profusão de deuses e deusas, a povoar de sentido o mundo, agora sem sentido pela devastação a que foram submetidos por povos pretensamente superiores, com lei, fé e poder, a oferecer luz para os povos indígenas, do lado de lá e de cá do Atlântico, que viviam na escuridão. Que trágica ironia: em nome da Justiça, da religião e do Estado, julgavam que viriam “salvar os povos primitivos”, atados que estavam aos grilhões da ignorância e da selvageria!
Em nome de Deus, mataram mulheres, anciãos e crianças na tresloucada aventura da “civilização”. Em nome da Justiça, dizimaram não apenas um povo, mas gerações e gerações de culturas sapienciais, que criaram a matemática, a música, a física, a astrofísica, a filosofia, o teatro, a dança, o canto, o deus tambor e sua comunicação ancestral… Foi em nome do bem que produziram o maior mal na face da Terra. Não falo somente dos corpos mutilados pelo trabalho escravo e pela guerra colonial, não me refiro apenas à maior tristeza do mundo que é ser alijado, a fórceps, de seu território de alacridade; de ser arrancado, com atroz violência, do convívio dinâmico e respeitoso de seus antepassados, de seus ancestrais. A violência colonial foi também um epistemicídio. Mais! Um semioticídio! Tentou aniquilar saberes e práticas vividos e difundidos há milênios por etnias que demoraram muito tempo para falar a língua dos corpos, da natureza, dos animais, dos minerais e dos espíritos. Culturas que produziram, por séculos a fio, signos e símbolos que povoam o imaginário da humanidade. A fundação da humanidade, agora separada de sua sabedoria (signos e práticas, símbolos e trocas, saberes, sabores, linguagens…), foi ferida “à faca sem terminar, me deixando vivo, sem sangue, apodrecer”. O sangue escorre do punhal colonial há mais de 500 anos. A metralhadora do sexismo, do patriarcalismo, do etarismo, da LGBTfobia, do classismo segue fazendo suas vítimas. Um mar de sangue banha nossos pés. “Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?”
A carioca Leda Maria Martins, sagrada Rainha de Nossa Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, em Belo Horizonte, igualmente cidadã do mundo, não nega a tragédia, pois conhece muito bem o sortilégio da cor e o racismo que impera na outrora Ilha de Santa Cruz, mas canta, toca e dança³, na altura de sua majestade, sobre os despojos do colonialismo.
Sá Rainha Leda Maria Martins nos faz lembrar, como uma feiticeira sabe fazer, que não perdemos nem a guerra nem a memória. Todas as vezes que testemunhei Sá Rainha em público, popular e/ou acadêmico, eu a vi cantando as ladainhas do Reinado, marcando com os pés e as mãos o ritmo compassado e sedutor dos tambores do Jatobá, deixando seu corpo bailarino dançar ao sabor da música e da história. Acompanhei seus escritos seminais, desde A cena em sombras, passando por Afrografias da memória, até o inspiradíssimo Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela⁴. Leda não apenas acompanha a história da educação das relações étnico-raciais no Brasil, e a história e cultura africana e afrobrasileira, mas também contribui, com sua pena precisa e encantada, para os estudos sobre populações africanas no Brasil e na diáspora. Leda Maria Martins finca os fundamentos de uma guinada epistemológica muito antes de os decoloniais estarem na moda. Ela inaugura um campo de saber muito antes de as leis 10.639 e 11.645 estarem em voga. Sá Rainha é, incontornavelmente, um marco na produção de conhecimento sobre e na cultura africana e brasileira.
Como poucos, e raríssima entre seus contemporâneos, nossa doutora em letras soube aliar a maior pujança epistemológica com o maior alcance estético. Não se contentou com a análise dos fragmentos de cultura africana recriados e ressignificados no Brasil, pois, de maneira íntegra e integral, captou a ancestralidade africana em seu devir de cultura e nos fortaleceu com a produção de conceitos que se tornaram régua e compasso para compreender – e vivenciar – as culturas afro-brasileiras. Performance, encruzilhada, oralitura, afrografia, tempo espiralar, corpo-tela, tempo-bailarina são alguns dos mais lindos e potentes conceitos que constituem o campo de saber das africanidades no território afro-pindorâmico que habitamos. Ela nos fez habitar nosso território ancestral sem fragmentar o que foi mutilado pela indústria colonial, restituindo, pelo saber e pela sensibilidade, a dignidade – que jamais foi perdida, mas talvez tenha sido esquecida – de nosso povo, seus fazeres e saberes, vivos em cada corpo de um capoeira, um jongueiro, um brincante de maracatu, cavalo-marinho, samba de roda. Tudo vivo e atualizado no corpo e na verve de Sá Rainha.
Que tragédia é essa que nos faz surdos às perguntas dos deuses e insensíveis ante a majestade das rainhas? Leda Maria Martins é, sem dúvida, uma de nossas referências mais agudas da filosofia brasileira! Sim, a Rainha do Reinado do Jatobá, a doutora em letras e literatura comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a ensaísta de sucesso, a escritora de livros fulcrais no cenário brasileiro (diria mesmo no cenário americano), a exímia pensadora e criadora do teatro nacional, a inspiradora do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras, a reconhecida pesquisadora em terras norte-americanas e europeias, a responsável por inaugurar, digamos assim, os saberes e fazeres da performance entre nós, a criadora de categorias do pensamento que se tornaram a base para o conhecimento afrorreferenciado, como a encruzilhada, a ancestralidade, a oralitura, a afrografia, o tempo espiralar, se converte, quiçá, ao lado de Helena Theodoro e Sueli Carneiro (apenas para citar algumas mulheres-ícones da produção do conhecimento no Brasil), numa das maiores expressões da filosofia brasileira do nosso tempo.
Aliando arte e história, antropologia e literatura, letras e música, música e canto, canto e epistemologia, epistemologia e estética, Leda, no ofício de sua maestria, desvendou não apenas um mundo de possibilidades de pensar a cultura e a memória afro-brasileiras, mas também o reconhecimento de um mundo ancestral sempre e sempre diante de nossos olhos, mas cujo deslumbre de culturas, saberes e fazeres, por efeito do racismo, não conseguimos ver – aliás, da mesma maneira, o Brasil não conseguiu ver o brilho muito bem definido de Sá Rainha, que durante mais de duas décadas viveu recôndita, apesar de sua produção constante, apesar de sua presença contundente, apesar de seu carisma irresistível, apesar de sua luta inexorável, e por ela se tornou imprescindível e, ainda assim, vítima das mazelas do racismo e do sexismo que nos assolam. Quiçá com esta exposição do Itaú Cultural sobre Leda Maria Martins possamos voltar a escutar os deuses e reverenciar as rainhas.
* Eduardo Oliveira é filósofo africano-brasileiro, poeta, ensaísta e babalawô.
Notas
1 – “Promessas do Sol”, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, foi lançada no álbum Geraes, em 1976.
2 – “Afro-Pindorama” é como nosso ancestral mais recente, Nego Bispo, denomina o território brasileiro.
3 – Tocar-cantar-dançar é uma das proposições do congolês Bunseki Fu-Kiau, uma das referências mais importantes para Leda.
4 – Leda é autora de outros tantos livros e muitos artigos acadêmicos, bem como ensaios e textos dramatúrgicos, numa diversidade impressionante de temas, experiências e conceitos.
Para sentir os conceitos no corpo: o pensamento de Leda e o Reinado
Leda e Abdias Nascimento, s.d. O autor fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), denunciando a falta de representatividade e dignidade do negro nas artes cênicas nacionais. Com a encenação de textos nacionais e internacionais de destaque, o TEN foi responsável por formar uma geração de atores negros, propiciando a criação de uma dramaturgia própria afro-brasileira. O grupo também organizava cursos de cultura geral e alfabetização para seus integrantes| Acervo pessoal
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Corpo-tela | Videoguia em Libras
O pioneirismo de Leda Maria Martins: uma entrevista com Diana Taylor
por Icaro Mello
Falar de Leda Maria Martins é aprender a olhar para a multiplicidade do mundo sem fragmentá-lo. Para uma sociedade construída sobre os alicerces cientificistas da tradição europeia, esse pode ser um exercício incomum. Leda, no entanto, nos convida a romper os limites dessa herança colonial e investigar as conexões e ressonâncias entre sujeitos, territórios, memórias e tradições. Ela faz questão de nos lembrar dessa perspectiva inclusive ao nos debruçarmos sobre o seu trabalho: no processo de construção da Ocupação, nossa homenageada lembrou: “Onde eu estou, onde eu sou, eu sou tudo que me constitui: a poeta, a doutora, a pós-doutora, a reinadeira, a que foi princesa e hoje é rainha, a mãe, a filha”.
Estudar sua produção acadêmica é também entrar em contato com sua experiência no Reinado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá e mergulhar em sua poesia e dramaturgia. Em toda Leda, está a Leda toda.
Buscando entender essa interconexão entre atuações tão diversas, a equipe do Itaú Cultural (IC) conheceu a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, estudou seus trabalhos poéticos e dramatúrgicos e conversou com figuras importantes na vida de Leda. Nesta entrevista, conversamos com a professora e pesquisadora Diana Taylor, grande amiga e parceira profissional de nossa homenageada. Falamos sobre a sua amizade, sobre a importância do trabalho de Leda e sobre alguns dos inúmeros projetos em que trabalharam juntas.
Como e quando você conheceu Leda?
Eu conheci Leda em 1998, em Belo Horizonte (MG). Eu estava dando uma palestra no Encontro Mundial das Artes Cênicas (Ecum), ela estava presente e queria muito me conhecer e conversar comigo. Depois da palestra, eu estava pegando um táxi para voltar ao hotel (ou aonde quer que eu estivesse indo) e ela entrou no carro comigo. Disse que era Leda Maria Martins e que queria me conhecer. Eu respondi: “Ótimo”. Nós conversamos e nos tornamos amigas. E já somos amigas há 25 anos. Amigas próximas e colegas acadêmicas.
Ela estava interessada, naquela época, em uma ideia que eu estava discutindo – e que desenvolvi, mais tarde, no meu livro The Archive and the Repertoire: Performing Cultural Memory in the Americas (2003) –, segundo a qual formas de cultura, memória e identidade social são transmitidas por movimentos corporificados, através do corpo. Isso inclui danças, rituais e todas as coisas que a Leda estuda. Para ela, foi útil pensar por essa perspectiva. E, para mim, foi ótimo conhecer e pensar sobre o trabalho dela, porque ela estava focada no Reinado, no Congado e, até certo ponto, em práticas indígenas no Brasil. Essas questões sempre estiveram interconectadas para ela, mesmo que a maior parte de seus escritos e pensamentos seja sobre o Congado.
Desde cedo, conheci sua mãe, Alzira, e seu filho, Rodrigo, e soube um pouco sobre sua vida pessoal. Por volta daquela época, no ano anterior, eu havia fundado o Hemispheric Institute of Performance and Politics [Instituto Hemisférico de Performance e Política], em Nova York (EUA), mas ele estava apenas começando. Fizemos na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) o nosso primeiro encontro no Brasil, do qual Leda participou. Ela se juntou ao instituto e sempre foi uma voz muito importante, porque, em todas as nossas reuniões, a maioria das conversas era em espanhol ou inglês, e ela sempre insistia que falássemos em português, dizendo que a palavra com a qual a identificávamos naquela época era inclusão. Ela sempre nos lembrava disso.
Eu comecei a ir com frequência a Belo Horizonte. Fui ao Reinado dela, à festa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá. Em 2005, realizamos um encontro na cidade que foi basicamente sobre as questões indígenas nas Américas. Foi extraordinário. Fizemos uma chamada para pessoas que trabalhavam com performance e política vindas de comunidades indígenas de todas as regiões das Américas.
O encontro recebeu 25 indígenas Caiapó e Maxacali. Eles nunca haviam se encontrado antes. Era por volta de 4 horas da manhã quando os Caiapó chegaram a Belo Horizonte e formalmente nos disseram: “Faremos uma dança. Vocês podem tirar uma foto e só”. Nós aceitamos suas condições sem problema nenhum.
Naquela manhã, reunimos todos no local onde o encontro seria realizado. Pedimos que as pessoas se apresentassem e, se fosse o caso, identificassem de qual comunidade vinham. Cada uma delas começou a falar – havia cerca de 400 pessoas lá. Eram de comunidades indígenas do Canadá, comunidades nativas dos Estados Unidos, do México, de todo o continente americano.
Os Caiapó ficaram sem palavras. Eles não podiam acreditar. Acabaram por nos dizer: “Vamos dançar o quanto vocês quiserem. Podem tirar todas as fotos que quiserem”. Eles ficaram muito interessados uns nos outros. Começaram a tirar fotos, gravar as histórias e realizar performances. Foi absolutamente incrível. E Leda foi a grande força por trás desse encontro. Ela já estava trabalhando na sua ideia de tempo espiralar, e havia realizado a conferência principal de um dos nossos encontros. Eu sabia que ela era brilhante. Sabia que ela era uma acadêmica muito, muito importante.
Conversávamos muito, e eu sempre aprendi muito com ela. Eu dirigi o Instituto Hemisférico desde a fundação, em 1998, até 2020. E ela sempre fez parte do conselho. Sempre esteve envolvida em todas as decisões importantes. Compartilhávamos muitos trabalhos, leituras, escritos. Ela foi responsável pela publicação em português dos meus livros O Arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas (2013) e ¡Presente! The Politics of Presence (no prelo), ambos pela Editora UFMG, além de ter escrito o prólogo do meu livro Performance (2023), que saiu pela Perspectiva. E eu me sinto feliz de ter sido responsável pela publicação de Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela pela Duke University Press, aqui em Nova York.
Sempre fomos ótimas colegas e amigas e, acima de tudo, confiamos uma na outra, tanto no trabalho quanto nas nossas vidas. Ela tem sido uma das minhas colegas mais importantes e uma das minhas amigas mais próximas.
O que você aprendeu com Leda que moldou suas perspectivas acadêmicas ou suas práticas de ensino?
Eu não sabia quase nada sobre o Congado ou sobre a inter-relação entre as populações indígenas e negras no Brasil quando a conheci. Minha experiência vinha principalmente do México, que tem uma população muito mestiça. Há uma forte presença indígena lá, mas a população negra, que nos séculos XVII e XVIII era a segunda maior do país, de repente “desapareceu”. E a gente se pergunta: o que aconteceu?
O que aconteceu foi que o México adotou a teoria da mestizaje – o que, de alguma maneira, também aconteceu no Brasil –, promovendo a eliminação e o esquecimento da questão racial, uma tentativa de apagar a raça. De repente, todos eram mestiços. Agora, nos últimos dez anos, as pessoas finalmente passaram a se identificar como afro-mexicanas. Mas isso é algo inédito na história. É absolutamente notável.
Eu aprendi muito com Leda sobre essas relações e tensões. Além disso, ela tem um entendimento teórico muito sólido, não apenas de herança cultural, mas também de como as práticas rituais transmitem conhecimento e memória. Eu entendia isso teoricamente, mas nunca havia entendido na prática. Nunca tinha visto isso de perto. Passei a dar muito mais atenção a essa questão, em meu próprio trabalho, depois que conheci Leda. Obviamente, não posso escrever sobre as coisas que ela escreve. Essa não é minha área de especialização, mas aprendi muito com a área dela.
Entendi também que ela atribui um peso muito especial aos objetos, que eles têm vida para ela. Eu não havia compreendido a “vivacidade” dos objetos do jeito que Leda compreende até começarmos a trabalhar juntas.
Ao ter contato com o Reinado e o Congado, muitos desses conceitos ficam mais evidentes, não é? Por meio da experiência, conseguimos ter outro entendimento.
É exatamente isso. E tive de fazer essa jornada por mim mesma, sabe? Aprender sobre os Congados, observar as práticas e compreender, por exemplo, o mastro no centro, onde todas as pessoas se reúnem. Esse mastro está vivo, ele é o centro daquela comunidade.
Uma palavra que as pessoas estão usando muito é entrelaçamento. A forma como todos esses fatores estão entrelaçados. É o espaço, o tempo, os objetos, as pessoas. Mas essas pessoas estão em um estado específico, preparado, diferente daquele do cotidiano. E é assim que essas tradições são transmitidas: os reis, as rainhas e essa maneira de encenar a história de um modo que empodera, que afirma a vida e dá a ela continuidade e, de certa forma, direção. É como as pessoas constroem seus mundos.
Isso é fundamental para entendermos os diferentes mundos em que vivemos, e a forma como Leda explora isso é fascinante.
Qual é o impacto do trabalho de Leda no campo dos estudos de performance, tanto em termos de teoria quanto de prática?
Acho que é muito, muito significativo. Porque é por meio da performance – ou seja, de práticas corporificadas – que ocorre essa construção de sentido da qual acabei de falar. O espaço, o tempo e as pessoas em certo estado de preparação. São os objetos rituais que dão significado a tudo. São também os papéis: o rei, a rainha… É isso que transmite a história. Esse é o poder que os humanos têm e que conseguem transmitir por meio dessas práticas.
Acho que ela deixa isso muito claro pela experiência vivida – que é algo que a maioria das pessoas não entende realmente, porque acha que, no mundo das redes sociais, a vida é mediada de outras formas, não pelo nosso próprio corpo. As pessoas não entendem que nossos corpos fazem parte do sistema de transmissão. E acho que a Leda é muito poderosa nesse aspecto. Muito clara e muito poderosa, uma pensadora muito importante.
Acho que ela vai causar um grande impacto com esse livro sendo publicado em inglês. Ela está causando um impacto enorme no Brasil e acredito que terá o mesmo nos Estados Unidos. Imagino que alguns descendentes afro-americanos vão encontrar muito poder e prazer ao ler sobre como os rituais do Congado têm sido fundamentais para a sua existência contínua como afrodescendentes. Não apenas brasileiros, estadunidenses, mexicanos, mas afrodescendentes. E a força que surge disso é muito empoderadora.
E como você acha que a produção da Leda enriqueceu o discurso, predominantemente ocidental, nos estudos da performance?
É algo enorme, porque não basta pensar em termos de produção de conhecimento. Não é suficiente pensar no que vem de livros e teorias. Quando entrei no campo dos estudos de performance, a maioria dos livros estava em inglês, eram dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Austrália. Foi por isso que fundei o Instituto Hemisférico, porque pensei: “O continente americano tem muito a contribuir. Vamos começar a reunir pessoas”.
E a voz de Leda tem sido uma das mais poderosas, focadas e rigorosas na área. Ela é muito eloquente ao falar sobre o papel das performances, principalmente as afrodescendentes, em tornar e manter vivas as comunidades, de modo que se reconheçam como afrodescendentes. Há essa força, essa visão que ainda anima esse senso de identidade e que eu acho que ela tem se concentrado muito em fortalecer, porque é uma afirmação da vida. As produções de Leda são sobre a vida.
Em sua opinião, o que tem de mais inovador no trabalho de Leda?
Acho que é o tempo espiralar. Lembro quando ouvi ela falar sobre isso pela primeira vez, sobre o passado, o presente e o futuro estarem constantemente se reencontrando. Sobre não haver tempo linear. Essa sensação de repetição, com uma diferença e uma transformação constante, que nos permite viver com nossos ancestrais. E nossos ancestrais também fazerem parte do nosso futuro, porque nos ajudam a encontrar o caminho a seguir. É uma maneira de entender que enriqueceu o cenário intelectual para mim, assim como a minha compreensão dessa interconexão da existência, algo que estamos começando a discutir só agora na academia.
Agora, todos dizem: “Estamos interconectados, entrelaçados e tentando pensar juntos sobre o humano, o animal, a natureza e o cosmos”. Mas ela já falava sobre isso há 25 anos. Acho que Leda é uma pioneira. Além disso, é incrivelmente focada, tem raízes muito profundas, um compromisso muito profundo. Ela está desenvolvendo o que sabe, a sua herança cultural, e fazendo disso uma parte de um discurso maior. Realmente, é inclusão, ela está intervindo no modo como entendemos memória, história, identidade – a vida, como eu disse antes.
O que você pensa sobre as relações entre arte, ativismo e política no trabalho de Leda?
Acredito que podemos dizer que, para ela, não há diferença. Porque ativismo, arte e prática cultural estão juntos, são uma coisa só. E isso é muito poderoso. Ela é muito poderosa.
De tudo que vocês já viveram juntas, como amigas e colegas de trabalho, o que você levará para o resto da vida como aprendizado?
Acho que a força dela, a perseverança, o compromisso com suas crenças. Ela é inabalável. Não cede nem um centímetro, mesmo quando discutimos. Eu admiro isso, admiro muito. E o amor dela: pela mãe, pelo filho, pelo mundo. Ela tem uma força que parece quase irreal, sabe? É como algo que a mantém em movimento.
E como é a Leda como amiga?
Tenho uma história maravilhosa sobre ela. Leda esteve aqui em Nova York em 2018, nos 20 anos do Instituto Hemisférico. Como ela sempre fez parte disso, obviamente veio. Eu estava andando pela rua, a caminho do Instituto Hemisférico, e Nova York é uma cidade grande. Há duas ou três quadras do instituto, tem uma praça chamada Astor Place. De repente, vejo a Leda parada ali. Nós ainda não tínhamos nos encontrado, ela havia acabado de chegar do Brasil. Eu disse: “Leda, o que você está fazendo aqui?”. E ela respondeu: “Eu estava esperando você!”. Perguntei: “Mas como você parou aqui para me esperar se nem me avisou?”. E ela disse: “Eu sabia que você ia aparecer”. E eu apareci.
Leda tem outro poder. E isso diz muito sobre ela, sobre como ela entende a vida, a experiência, o tempo. É realmente uma bênção poder conversar com ela, compartilhar um tempo com ela. Leda é maravilhosa.
O que você acha que a próxima geração de pesquisadores e acadêmicos pode aprender com Leda?
Espero que eles aprendam algumas dessas coisas que falamos: o compromisso, a perseverança, a honestidade, a busca pelas raízes profundas e pelos lugares de cada um. E a estar com os pés no chão em relação aos seus trabalhos. Acho que, se conseguirem isso, seria um grande presente. Acho que muitas pessoas sentem que não estão com os pés no chão atualmente. Elas sentem que não sabem para onde ir, no que acreditar ou com o que se comprometer. E ela sabe tudo isso. Ela é um exemplo extraordinário.
E o trabalho de Leda é uma manifestação dessa convicção e dessa perseverança. Eu espero que seja isso que eles levem consigo, porque acho que isso é o que compõe todo trabalho realmente grandioso.
Por que você acha que as pessoas não estão conseguindo “manter os pés no chão”?
Acho que porque, por exemplo, a história do Brasil sempre foi trágica. Da mesma forma que a história do México e dos Estados Unidos sempre foi violenta. Em nossos países, as violências – o racismo, a misoginia, a homofobia e todas essas coisas – são tão profundas e poderosas que fazem com que as pessoas sintam que não têm valor, que não têm nada com que contribuir. As diferentes populações que compõem esses territórios estão sendo ouvidas de outra maneira agora. E a Leda é uma dessas acadêmicas incríveis que está falando e sendo ouvida e reconhecida. Acho que isso ajuda a dar às pessoas uma sensação de pertencimento, de que fazem parte de um movimento muito, muito importante.
Ao mesmo tempo, há pessoas horríveis dizendo que você é um problema, uma ameaça, que não tem valor. Então é preciso ter convicção para fazer o seu trabalho, ser honesto, corajoso e colocar tudo isso no mundo da maneira que a Leda e outros artistas estão fazendo no Brasil.
É isto que a gente quer que as pessoas consigam fazer: colocar os pés no chão, se enraizar, trabalhar do modo que desejam e que precisam – não só para elas mesmas, mas para todos nós.
Diana Taylor é professora dos departamentos de Estudos da Performance e Espanhol & Português da Universidade de Nova York. É fundadora do Instituto Hemisférico de Performance e Política, uma rede de acadêmicos, artistas e ativistas que trabalham por justiça social nas Américas. Referência em estudos de performance, ela é autora de Theatre of Crisis: Drama and Politics in Latin America (1991); Disappearing Acts: Spectacles of Gender and Nationalism in Argentina’s “Dirty War” (1997); O Arquivo e o Repertório: Performance e Memória Cultural nas Américas (2003); Performance (2012); Acciones de Memoria: Performance, Historia y Trauma (2012); e ¡Presente! The Politics of Presence (2020), entre outros.
Carta de Diana Taylor, 1999
Carta de Diana Taylor, professora da Universidade de Nova York, comunicando que ela apoiava a nomeação de Leda como acadêmica visitante do Departamento de Estudos da Performance, 1999. Confira abaixo a tradução de seu conteúdo.
Carta de Diana Taylor, 1999 (em portugês)
[Universidade Nova Iorque]
[Uma universidade privada a serviço do público]
[Tisch Escola de Artes]
[Departamento de Estudos da Performance]
[Broadway, 721, 6º andar]
[Nova Iorque, NY 10003-6807]
[Telefone: (212) 998-1620]
[Facsimile: (212) 995-4571]
27 de maio de 1999
Professora Leda Maria Martins
Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil
Av. Olegário Maciel, 1727
Apto. 502
BH – Brasil CEP 30.180-111
Prezada Professora Martins,
É com grande satisfação que escrevo para confirmar que serei a patrocinadora de sua nomeação como pesquisadora visitante em setembro de 1999 no Departamento de Estudos da Performance, para o desenvolvimento de seu projeto de pesquisa sobre a performance afro-brasileira. Estou empolgada com o potencial de sua pesquisa e será um prazer colaborar com você. Espero que esta carta a auxilie na obtenção do financiamento externo necessário para viabilizar sua estadia em Nova Iorque.
Por favor, entre em contato com o Departamento de Habitação da Universidade de Nova Iorque pelo telefone (212) 998-4600 ou pelo fax (212) 995-4099 para obter informações sobre acomodações próximas à universidade. O Departamento de Habitação poderá oferecer suporte que nosso departamento não tem recursos para fornecer. Caso eles não possam ajudá-la completamente, entre também em contato com a International House of New York pelo telefone (212) 316-6300.
Como mencionei em minha última carta, a NYU não pode assumir nenhuma responsabilidade financeira durante o período de sua estadia como pesquisadora visitante. Estamos ansiosos por sua chegada.
Mais uma vez, agradeço por sua candidatura.
Atenciosamente,
Diana Taylor
Chefe de departamento