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Alcides Villaça, professor-sênior de literatura brasileira da Universidade de São Paulo (USP), dá uma aula sobre o conto “O caso da vara”, de Machado de Assis, para estudantes do ensino médio, na E.E. Maria Trujilo Torloni, em São Caetano do Sul (SP). A partir da leitura do texto, busca-se aproximar os alunos na escrita machadiana.
“Damião não teve remédio senão obedecer. Malgrado o anúncio e a expectação, que serviam a diminuir o chiste e o efeito, a anedota acabou entre risadas das moças. Damião, contente de si, não esqueceu Lucrécia e olhou para ela, a ver se rira também. Viu-a com a cabeça metida na almofada para acabar a tarefa. Não ria; ou teria rido para dentro, como tossia” – “O caso da vara”, de Machado de Assis
Estudantes do ensino médio da E.E. Maria Trujilo Torloni (São Caetano do Sul/SP) tecem comentários sobre o conto “O caso da vara”, de Machado de Assis. O exercício reflexivo acontece após uma aula sobre o texto em foco, dada por Alcides Villaça, professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo (USP).
por Diana Migliorini
Participar da Ocupação Machado de Assis foi uma experiência desafiadora e que revelou conexões profundas entre a obra do escritor e a minha vivência pessoal. A minha participação nesse projeto ganhou vida nas aulas ministradas por Alcides Villaça, professor da Universidade de São Paulo (USP), cujo conhecimento ampliou o meu horizonte.
No início da minha trajetória leitora, o meu contato predominante com filmes e livros estrangeiros gerou um pequeno preconceito em relação à literatura brasileira. Na escola, as lições que envolviam autores nacionais nunca pareciam tão cativantes quanto as obras internacionais que já me fascinavam. Foi somente por meio da participação na aula sobre o Bruxo do Cosme Velho que percebi a riqueza e a relevância da literatura brasileira. A profundidade das análises construídas deixou evidente a capacidade de nossos autores (Machado e outros) em abordar questões universais e complexas. Essa experiência não apenas quebrou o meu preconceito inicial, como também me mostrou que a nossa ficção pode enriquecer o nosso entendimento do cotidiano, oferecendo perspectivas únicas e valiosas que transcendem fronteiras culturais.
O texto escolhido para análise, “O caso da vara”, apresenta-se como um portal para compreender a essência humana, algo que transcende as páginas e se entrelaça com filosofias que explorei anteriormente. De modo surpreendente, percebi paralelos entre os pensamentos de Machado de Assis e as reflexões do filósofo Schopenhauer, que estudei um pouco.
O conto abordado é instigante. Ao lê-lo sozinha, tive a impressão de que a narrativa explora o tema da covardia. No entanto, à medida que a análise se aprofundava, tornou-se perceptível um dilema moral envolvendo a decisão de honrar ou não uma promessa direcionada à própria consciência. Nesse sentido, a trama desafia o imperativo categórico proposto por Kant, dando espaço a uma consideração que se alinha mais com a perspectiva de Schopenhauer. Este argumenta que, devido à natureza caótica do mundo, a realização de atos morais é impossível, questionando a viabilidade de seguir estritamente princípios éticos. Durante a aula, descobri que Machado de Assis acompanhava as ideias de Schopenhauer, fato que me deixou perplexa e curiosa para saber mais a respeito do nosso autor.
O escrito machadiano é uma lente através da qual pude vislumbrar as complexidades da natureza do ser humano e as nuances ocultas da psique. A aula ministrada pelo professor Villaça correspondeu a uma porta de entrada para inspirar os alunos. O método ativo de análise de texto não apenas me cativou, mas também proporcionou uma abordagem envolvente, despertando o interesse pela leitura. Em razão dessa abordagem dinâmica, a sala de aula tornou-se um espaço onde a apreciação da literatura é uma jornada cativante, incentivando os estudantes a explorar mais o vasto mundo das obras literárias nacionais.
O projeto Ocupação Machado de Assis ampliou o meu repertório literário e me proporcionou uma transformação pessoal significativa. A interseção entre literatura e filosofia me dá outras percepções sobre mim mesma e o mundo ao meu redor.
Diana Migliorini é, em 2023, estudante da E.E. Maria Trujilo Torloni.
De 30 de janeiro a 2 de fevereiro de 2024, das 10h às 18h30, acontece um seminário ligado à Ocupação Machado de Assis. O evento traz mesas sobre aspectos diversos da obra e da trajetória do mestre da palavra. As conversas acontecem no Itaú Cultural, são transmitidas pelo YouTube do IC e dialogam com a temporada da peça Nem todo filho vinga, inspirada no conto machadiano “Pai contra mãe”.
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 1 – Eterno e contemporâneo
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 2 – Quantas imagens de Machado cabem na história?
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 3 – Adaptações e outras poéticas
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 4 – Recursos gráficos e tipográficos da coleção
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 5 – O traço e o ritmo na coleção machadiana
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 6 – Machado além da prova
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 7 – Para além de Capitu
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 8 – Machado de Assis e sua(s) história(s)
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 9 – A recepção global da obra machadiana
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 10 – Recepção da crítica negra contemporânea
Seminário Ocupação Machado de Assis – Mesa 11 – Influências machadianas: leitores que escrevem
Seminário Ocupação Machado de Assis | imagem: Agência Ophelia