Ficha técnica
Direção: Luiz Sergio Person
Assistente de direção: Pedro Rovai
Roteiro: Luiz Sergio Person
Produção: Socine Produções Cinematográficas
Elenco (ordem alfabética): Ana Esmeralda, Darlene Glória, Eva Wilma, Lenoir Bittencourt, Nadir Fernandes, Otelo Zeloni, Sergio Hingst, Walmor Chagas
Diretor de fotografia: Ricardo Aronovich
Montador: Glauco Mirko Laurelli
Câmera: Ricardo Aronovich
Assistente de câmera: Hugo Kusnetzoff
Seção de vídeo
Jogar na cara do público a sua vida
Acervo TV Cultura
Um filme atemporal
Por Fernanda Castello Branco
Um filme que não envelheceu. Praticamente todo mundo que fala de São Paulo Sociedade Anônima cai nessa frase. Em novembro de 2015, a importância da obra foi lembrada pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema): em levantamento para o livro Os 100 Melhores Filmes Brasileiros, a ser lançado em 2016, o primeiro longa-metragem de Luiz Sergio Person apareceu em sétimo lugar.
Lançado em 1965, o filme – também conhecido pelo “apelido” de São Paulo S.A. – conta a história de Carlos (Walmor Chagas), homem de pouco mais de 25 anos, vivendo angústias intimamente ligadas ao crescimento e à industrialização da capital paulista. Mesmo com esse cenário histórico marcante, se trouxermos a história para hoje, milhões de Carlos obedientes às exigências da metrópole seguem com as mesmas questões, em meio ao caos urbano: trabalhar em uma fábrica, tornar-se aspirante a industrial, casar, ter filhos, aprender inglês, melhorar o currículo, chegar à felicidade, o que e como viver?
“Recomeçar, mil vezes recomeçar”, frase repetida pelo protagonista, é a tradução perfeita do roteiro de São Paulo Sociedade Anônima. Cheio de idas e vindas – linguagem ainda inovadora para a época – percorre cerca de cinco anos como se mostrasse apenas um dia.
A montagem de Glauco Mirko Laurelli, sócio de Person na Lauper Films, aliás, é fundamental para que o filme sustente a importância que tem até hoje, assim como a fotografia do argentino Ricardo Aranovich.
No livro Radiografia de um Filme: São Paulo Sociedade Anônima, de Ninho Moraes, há depoimentos de Laurelli sobre a montagem tão específica, nos quais ele, indiretamente, atribui a Person uma parceria. “Não lembro se li o roteiro. Posso até ter lido, mas eu seguia o material que vinha das filmagens. Eu seguia apenas a numeração. Não me lembro de ter invertido ordem, sequência, coisas assim”, disse.
Sobre a presença de Aranovich, Renato Magalhães Gouvêa, produtor do longa, é categórico: “Se fosse outro cinegrafista, podia ser que esse filme não tivesse saído como saiu. A beleza desse filme é aquele branco e preto maravilhoso. É um filme que mereceu a posição que tem ainda hoje. Ele tem características de novidade até hoje.”
Alter ego pavoroso
Person trouxe o roteiro pronto para o Brasil, no final de 1963. Ele foi escrito durante a temporada de estudos no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma (Itália).
Marina Person, cineasta e filha mais velha, conta que Carlos, apontado por muitos como um alter ego do diretor, era, na verdade, o seu maior pavor. “O grande terror da vida dele era virar Carlos, o empresário que tem de cumprir expectativas sociais e da família. O fato de ele ter se tornado cineasta foi uma ruptura com a família. Não era o que a família esperava dele. São Paulo S.A. nasceu nessa inquietação, é uma espécie de exorcismo dos terrores que ele tinha na vida. Tanto que, antes, o filme se chamava Agonia. Imagina o tanto dele que estava nesse filme!”, analisa.
A mudança de nome aconteceu exatamente quando entrou em cena Renato Magalhães Gouvêa. Empresário do ramo da construção civil convidado por Person para ser o produtor do filme. Apesar de “não fazer ideia do que um produtor de cinema fazia”, Gouvêa sugeriu de cara que o nome Agonia fosse alterado, alegando que ele não atrairia o público em busca de entretenimento. Sempre preocupado em fazer filmes para grandes plateias, Person acatou, iniciando ali uma parceria inovadora e bem-sucedida.
Captando recursos de forma inovadora
Renato Magalhães Gouvêa criou uma empresa – Socine – apenas para viabilizar São Paulo Sociedade Anônima. Nunca mais fez outro. Por meio da empresa criada, inovou na forma de captar recursos para o filme. “O momento era péssimo, não se encontrava patrocinador. O roteiro era apresentado, o banco emprestava dinheiro e, na metade da produção, o dinheiro acabava. Porque os orçamentos eram malfeitos. Person disse que não íamos conseguir dinheiro em banco nenhum. Na época, não tinha apoio do governo para fazer cinema. Daí eu pensei que se a gente convencesse pessoas a ser sócias do projeto – desde que se comprometessem a fornecer o dinheiro – atingiríamos o valor necessário”, conta.
O valor – atualizado para a moeda atual – não chegou a 10 milhões de reais. Os investidores, segundo Renato Magalhães Gouvêa, não tiveram lucro, mas também não tiveram prejuízo. O pagamento dos atores era feito semanalmente, durante os dois meses que duraram as filmagens.
São Paulo Sociedade Anônima inovou também na forma de se promover. Pela primeira vez na história do cinema brasileiro foi levantado um balão anunciando um filme. Ele permaneceu montado por 15 dias no Largo do Paissandu, em frente ao Cine Olido, onde o longa estreou. Pela primeira vez, também, artistas internacionais que estavam em visita ao Rio de Janeiro ‒ como Denny Miller (famoso por fazer o Tarzan na época) e Nancy Kovack ‒ compareceram à estreia em São Paulo.
Mesmo que o próprio diretor afirmasse que seu melhor trabalho no cinema era O Caso dos Irmãos Naves (1967), mais de 50 anos após o badalado lançamento esse clássico, que não envelhece, segue como o filme de Person preferido por muitas pessoas. O amigo Sérgio Mamberti diz, sem vacilar. “Meu filme favorito dele, isso é inevitável. O Person não teve tempo de poder criar uma obra grande e São Paulo S.A. é uma marca forte.”
Marina Person também não tem dúvida. “São Paulo S.A. é muito incrível. É um filme que fala tantas coisas, você pode analisar sob tantos pontos de vista. É muito ousado, mesmo para a década de 1960, que era mais ousada que hoje em dia. O filme fala muito sobre o ser humano, sobre a questão existencial, sobre o seu lugar no mundo, sobre o quanto você é oprimido por uma realidade exterior à sua própria vida.”
Fernanda Castello Branco é jornalista e trabalha como editora do site do Itaú Cultural.
Um clássico
Protagonistas
Seção de vídeo
Um homem que sabia o que queria
Eva Wilma (1933) começou a carreira artística como bailarina clássica e, com mais de 60 anos de carreira, é uma das mais consagradas atrizes brasileiras. Nos anos 1950, foi uma das fundadoras do Teatro de Arena, em São Paulo (SP).
Dirigindo
Dirigindo [2]
Dirigindo [3]
Seção de vídeo
Um produtor novato
Renato Magalhães Gouvêa (1929) atuou como produtor do filme São Paulo Sociedade Anônima (1965), seu único trabalho no cinema. Após a experiência, chegou a ser diretor do MASP e até hoje atua no mercado de arte por meio de um escritório dedicado a avaliações e curadoria de obras de arte.
Fábrica
Seção de vídeo
Pitacos de produtor
Renato Magalhães Gouvêa (1929) atuou como produtor do filme São Paulo Sociedade Anônima (1965), seu único trabalho no cinema. Após a experiência, chegou a ser diretor do MASP e até hoje atua no mercado de arte por meio de um escritório dedicado a avaliações e curadoria de obras de arte.
Conversa
Conceito
Conceito [2]
Conceito [3]
Estrela
Seção de vídeo
Do lado do Tarzan
Renato Magalhães Gouvêa (1929) atuou como produtor do filme São Paulo Sociedade Anônima (1965), seu único trabalho no cinema. Após a experiência, chegou a ser diretor do MASP e até hoje atua no mercado de arte por meio de um escritório dedicado a avaliações e curadoria de obras de arte.
Divulgação no exterior
Contrato
Cenas externas
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Filmagem de cena externa | Acervo da família Person
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Câmera montada na janela de um automóvel para filmar cena | Acervo da família Person
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Protagonistas de São Paulo Sociedade Anônima, Walmor Chagas e Eva Wilma em filmagem de cena externa com Person | Acervo da família Person
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Equipe filma cena em frente à vitrine da loja de departamentos Mappin, no centro de São Paulo | Acervo da família Person
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Observado por transeuntes, Person orienta Eva Wilma durante filmagem de cena externa | Acervo da família Person
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As filmagens foram feitas em 1964 e o filme foi lançado no ano seguinte | Acervo da família Person
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Walmor Chagas e Eva Wilma em filmagem na Praça da República, em São Paulo (SP) | Acervo da família Person
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