65 anos de TV

Na década de 1950, numa iniciativa de Assis Chateaubriand, foi ao ar a Tupi-Difusora de São Paulo. Na época, Laura Cardoso atuava em radionovelas na Tupi e com a chegada da nova mídia encontrou-se, assim como outros colegas, ansiosa pela oportunidade de participação.

Com a transição, alguns talentos do rádio ficaram para trás – a própria atriz conta que a adaptação era difícil para alguns, que sofriam para decorar longas falas ou apresentar-se em frente às câmeras. Outra questão que veio à tona na ocasião foi que, alguns atores e atrizes que faziam papel de estrelas no rádio, não conseguiram manter esse tipo de papel na televisão, por não se adequarem aos padrões da época.

Laura Cardoso e Fernando Balleroni integraram o grupo que se adaptou bem às mudanças – com outros grandes nomes, como Vida Alves, Lima Duarte, Walter Foster e Lia de Aguiar. Para Laura, a carreira na televisão teve início em 1954 com um convite da já amiga Vida Alves para participar do programa que Vida produzia, Tribunal do Coração. Desde então, Laura não parou mais – participou de programas de teleteatro como TV de Vanguarda, TV de Comédia e Grande Teatro Tupi, integrou o elenco de novelas e programas de diferentes emissoras, Rede Globo, Bandeirantes, Cultura e Record, e imortalizou personagens.

“Quando nos contaram que viria uma televisão e que iria mostrar tudo nós ficamos espantados! Éramos jovens, 18/17 (anos), por aí. ‘Onde tem essa bendita câmera?’, ‘Em que lugar, o que é isso?’, ‘Eu tenho medo que tenha no banheiro, então não vou ao banheiro, vou ao banheiro da minha casa’, que era a 500 metros de lá, ou então ao banheiro da esquina, que era no bar, mas dentro da privadinha da televisão não queríamos ir, de medo que lá tivesse uma câmera”

Vida Alves em entrevista concedida ao Itaú Cultural

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O programa Almoço com as Estrelas ia ao ar todos os sábados na hora do almoço pela TV Tupi. Na imagem, Laura Cardoso recebe do jornalista Roberto de Almeida Rodrigues a caricatura do Hall da Fama – 7 Dias na TV, em 1958. Ao lado de Roberto aparecem Airton Rodrigues (em pé) e Lolita Rodrigues, que juntos comandavam a atração | reprodução/acervo Museu Pró-TV

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O jornalista Roberto de Almeida Rodrigues entrega a Laura Cardoso uma caricatura da atriz no programa Clube dos Artistas, transmitido em 1961, pela TV Tupi | reprodução/acervo Museu Pró-TV

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Em frente à torre do SBT, no bairro Sumaré, estão (da esquerda para a direita): o jornalista Telé Cardim, a garota-propaganda Ana Maria Neumann, o coordenador de programação Mauro Gianfrancesco, as atrizes Yara Lins, Lia de Aguiar e Laura Cardoso, o diretor Luis Gallon, o ator Dante Ruy e o autor Chico e Assis. Atrás desse grupo estão (da esquerda para direita): jornalista Julio Lerner, o contrarregra Sivuca, o ator Walter Forster, o jornalista Walter Abraão e o ator José Parisi. A foto foi feita em abril de 1990 | reprodução/acervo Museu Pró-TV

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Televisão

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A versatilidade e a onipresença de Laura Cardoso na TV fazem dela uma das atrizes mais queridas do público

por Nilson Xavier

A trajetória de Laura Cardoso se confunde com a história da TV no Brasil. Antes do advento da televisão, Laura já era radioatriz e naturalmente migrou para o novo veículo quando ele surgiu. Profissional incansável, é uma das atrizes mais constantes na telinha, uma das recordistas em novelas: em mais de 60 anos na televisão, soma quase 80 títulos, entre novelas, minisséries, séries e teleteatros.

Durante a década de 1950, atuou em teleteatros e novelas não diárias, os principais produtos de dramaturgia da TV na época. A primeira novela diária foi Quando o Amor É Mais Forte, na Tupi, em 1964. Ficou na emissora até 1967, tendo atuado em mais seis títulos. Entre 1968 e 1973, foi atriz da TV Record, período em que participou de oito novelas, entre elas As Pupilas do Senhor Reitor e Os Deuses Estão Mortos.

Em 1974, Laura Cardoso retornou à Tupi e ficou lá até o canal fechar as portas, em 1980. Em sete anos, participou de seis novelas, com destaque para sua atuação em Ídolo de Pano, Os Apóstolos de Judas, João Brasileiro, o Bom Baiano e Gaivotas. Em 1981 foi convidada pelo diretor Daniel Filho, da Rede Globo, para participar da novela Brilhante, de Gilberto Braga. Foi a estreia de Laura na emissora carioca.

A atriz foi finalmente contratada pela Rede Globo em 1983, por meio de Walther Negrão, seu amigo dos tempos da Tupi, que a chamou para viver a personagem Donana na novela Pão Pão, Beijo Beijo, uma migrante nordestina arretada. Com exceção de um hiato em 2000 (em que esteve na Record, na novela Vidas Cruzadas), a atriz não se desligou mais da Rede Globo. Foram 20 novelas e muitas participações especiais em vários programas da casa.

A parceria de Laura com Negrão é antiga. Ela já havia atuado em suas novelas Os Miseráveis (Bandeirantes, 1967) e Ovelha Negra (Tupi, 1975). Depois de Pão Pão, Beijo Beijo, a parceria rendeu mais sete títulos na Rede Globo: Livre para Voar (1984-1985), Fera Radical (1988), Vila Madalena (1999-2000), Como uma Onda (2004-2005), Araguaia (2010-2011), Flor do Caribe (2013) e a atual Sol Nascente, em que vive a “vovozinha do mal” Dona Sinhá.

Tantos anos de carreira renderam a Laura Cardoso uma galeria de personagens inesquecíveis e marcantes, lembradas por gerações de telespectadores. Como Marta, a amiga e confidente de Malu Mader na novela Fera Radical (1988); Dona Cândida, mãe de Tony Ramos em Felicidade (1991-1992); e a simpática Dona Lila, vizinha da família Silva e Silva do seriado Mundo da Lua, da TV Cultura (1991-1992).

Entre 1993 e 1994, Laura atuou em duas das novelas de maior sucesso daquela década, remakes de tramas de Ivani Ribeiro. Em Mulheres de Areia foi Dona Isaura, a mãe das gêmeas Ruth e Raquel (Glória Pires) – lembra que Isaura tinha predileção por Raquel, a “gêmea má”? E na novela espírita A Viagem foi Dona Guiomar, que incorporava o espírito vingativo de Alexandre (Guilherme Fontes) e mudava completamente de humor.

Dos últimos 20 anos, destacam-se personagens dos mais variados tipos e perfis, que atestam a versatilidade da atriz: a matriarca cigana Soraya de Explode Coração; a vigarista Tia Ruth de Salsa e Merengue; a simplória caipira Dona Carmem de Chocolate com Pimenta; a rabugenta indiana Laksmi de Caminho das Índias; e a falsa carola Dorotheia do remake de Gabriela.

A presença de Laura Cardoso por décadas nos lares de gerações de brasileiros faz dela uma das mais lembradas e queridas atrizes do público, reverenciada pelo talento, independentemente do tamanho do papel, e pela memória afetiva do povo, que a reconhece como uma das maiores figuras das artes em nosso país.

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Laura na TV Tupi

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Lima Duarte

O ator Lima Duarte mostra uma foto icônica feita em frente à sede da Rádio Tupi, com as atrizes Laura Cardoso e Vida Alves, entre outras personalidades. Fala do surgimento da televisão no Brasil e de como o talento da equipe da Tupi foi responsável pela sua solidificação e sucesso. Fala ainda de algumas lembranças com Laura, de trabalhos que fizeram juntos e da vitalidade e dedicação da colega.