por Nilson Xavier
A trajetória de Laura Cardoso se confunde com a história da TV no Brasil. Antes do advento da televisão, Laura já era radioatriz e naturalmente migrou para o novo veículo quando ele surgiu. Profissional incansável, é uma das atrizes mais constantes na telinha, uma das recordistas em novelas: em mais de 60 anos na televisão, soma quase 80 títulos, entre novelas, minisséries, séries e teleteatros.
Durante a década de 1950, atuou em teleteatros e novelas não diárias, os principais produtos de dramaturgia da TV na época. A primeira novela diária foi Quando o Amor É Mais Forte, na Tupi, em 1964. Ficou na emissora até 1967, tendo atuado em mais seis títulos. Entre 1968 e 1973, foi atriz da TV Record, período em que participou de oito novelas, entre elas As Pupilas do Senhor Reitor e Os Deuses Estão Mortos.
Em 1974, Laura Cardoso retornou à Tupi e ficou lá até o canal fechar as portas, em 1980. Em sete anos, participou de seis novelas, com destaque para sua atuação em Ídolo de Pano, Os Apóstolos de Judas, João Brasileiro, o Bom Baiano e Gaivotas. Em 1981 foi convidada pelo diretor Daniel Filho, da Rede Globo, para participar da novela Brilhante, de Gilberto Braga. Foi a estreia de Laura na emissora carioca.
A atriz foi finalmente contratada pela Rede Globo em 1983, por meio de Walther Negrão, seu amigo dos tempos da Tupi, que a chamou para viver a personagem Donana na novela Pão Pão, Beijo Beijo, uma migrante nordestina arretada. Com exceção de um hiato em 2000 (em que esteve na Record, na novela Vidas Cruzadas), a atriz não se desligou mais da Rede Globo. Foram 20 novelas e muitas participações especiais em vários programas da casa.
A parceria de Laura com Negrão é antiga. Ela já havia atuado em suas novelas Os Miseráveis (Bandeirantes, 1967) e Ovelha Negra (Tupi, 1975). Depois de Pão Pão, Beijo Beijo, a parceria rendeu mais sete títulos na Rede Globo: Livre para Voar (1984-1985), Fera Radical (1988), Vila Madalena (1999-2000), Como uma Onda (2004-2005), Araguaia (2010-2011), Flor do Caribe (2013) e a atual Sol Nascente, em que vive a “vovozinha do mal” Dona Sinhá.
Tantos anos de carreira renderam a Laura Cardoso uma galeria de personagens inesquecíveis e marcantes, lembradas por gerações de telespectadores. Como Marta, a amiga e confidente de Malu Mader na novela Fera Radical (1988); Dona Cândida, mãe de Tony Ramos em Felicidade (1991-1992); e a simpática Dona Lila, vizinha da família Silva e Silva do seriado Mundo da Lua, da TV Cultura (1991-1992).
Entre 1993 e 1994, Laura atuou em duas das novelas de maior sucesso daquela década, remakes de tramas de Ivani Ribeiro. Em Mulheres de Areia foi Dona Isaura, a mãe das gêmeas Ruth e Raquel (Glória Pires) – lembra que Isaura tinha predileção por Raquel, a “gêmea má”? E na novela espírita A Viagem foi Dona Guiomar, que incorporava o espírito vingativo de Alexandre (Guilherme Fontes) e mudava completamente de humor.
Dos últimos 20 anos, destacam-se personagens dos mais variados tipos e perfis, que atestam a versatilidade da atriz: a matriarca cigana Soraya de Explode Coração; a vigarista Tia Ruth de Salsa e Merengue; a simplória caipira Dona Carmem de Chocolate com Pimenta; a rabugenta indiana Laksmi de Caminho das Índias; e a falsa carola Dorotheia do remake de Gabriela.
A presença de Laura Cardoso por décadas nos lares de gerações de brasileiros faz dela uma das mais lembradas e queridas atrizes do público, reverenciada pelo talento, independentemente do tamanho do papel, e pela memória afetiva do povo, que a reconhece como uma das maiores figuras das artes em nosso país.