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TBC, CTCA e mais palcos

Tônia Carrero

Canto superior direito da tela: foto de Milton Guran. 1976 | foto: acervo da família/autoria desconhecida

Seção de vídeo

Tônia e o Teatro – Ocupação Tônia Carrero (2022)

Para Tônia Carrero, o teatro sempre vinha com letra maiúscula: o Teatro. Luisa e Carlos Thiré, netos da homenageada e também atores, falam sobre a trajetória de Tônia nos palcos. Depoimento gravado em maio de 2022.

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Uma certa cabana

Tônia em foto de divulgação de Uma certa cabana (1953) | foto: acervo pessoal/autoria desconhecida

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Tônia Carrero: atriz e empresária por decisão própria

por Heloisa Pontes

Atriz de beleza incomum, Tônia Carrero destacou-se nos palcos e fora deles, no papel também de dona de companhia. O tino empresarial incidia na escolha do repertório e na desenvoltura com que transitava nos círculos da elite carioca, na imprensa e no colunismo social. Nessa empreitada, Tônia não esteve sozinha. Contou com o apoio entusiasmado do público e com a colaboração empenhada de alguns parceiros ao longo de sua exitosa trajetória profissional.

O primeiro deles foi o marido, Carlos Thiré, publicitário, produtor de teatro e pai de seu único filho, o ator Cecil Thiré. Ele foi responsável pela montagem da companhia que viabilizou a inserção de Tônia na cena carioca no final dos anos 1940, ao lado de Paulo Autran. Entusiasmada com a performance de Paulo Autran como intérprete amador e vendo nele o ator ideal para contracenar, Tônia encarregou o sócio do marido, Fernando de Barros, de intermediar a negociação para que ele integrasse a companhia. De início, Paulo Autran recusou o convite, alegando, segundo a atriz, “que ganhava 1 conto de réis, como advogado, e nós perguntamos quanto ele queria ganhar para trabalhar conosco. O bandido, para fechar a questão achando que íamos desistir, deu o xeque-mate: ‘Quero 11 contos de réis para abandonar tudo e me dedicar ao teatro’. […] Era uma fábula de dinheiro. Mas nós topamos a parada. Foi um instante de loucura nossa. Meu, do Carlos Thiré e do Fernando de Barros. […] Arriscamos tudo que tínhamos em cima de um talento enorme e o Paulo capitulou. Perdeu-se talvez um bom advogado, mas ganhamos o maior ator brasileiro de todos tempos”.1

A versão de Paulo Autran é ligeiramente diferente e faz parte do anedotário sobre a conversão do advogado – formado em 1945 pela prestigiosa Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – em ator profissional aos 27 anos de idade. Alimentado pelos fãs e pelas entrevistas publicadas na imprensa, tal anedotário foi disseminado pelo próprio ator, que não se cansava de contar o incidente no registro das comédias de boulevard, nas quais, para usar palavras dele, “as noções de ‘leveza’, de ‘economia de expressão’, de ‘ritmo’, de ‘equilíbrio’ são indispensáveis”.2 Era com esse espírito de comédia fina – na qual menos é sempre melhor que o excessivo mais da chanchada – que o ator, ao relembrar o convite de Tônia e a proposta feita por Fernando de Barros em 1949, afirmava que a atriz “só foi saber que eu ganhava mais que ela muito tempo depois”.3

Integrados à companhia, um ano depois, Tônia e Paulo foram convidados pelo empresário Franco Zampari para participar dos dois empreendimentos que ele idealizara em São Paulo: o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Com a transferência deles para a capital paulista, a companhia carioca se dissolveu. Fernando de Barros foi contratado como diretor e produtor da Vera Cruz e Tônia como sua atriz principal. O casamento dela com Carlos Thiré, se ainda não havia acabado, estava por um fio. Em 1951, enquanto Paulo Autran estreava no TBC com a peça Ralé, de Maksim Górki, contracenando com Maria Della Costa, Tônia filmava Tico-tico no fubá em meio ao início do seu romance com o diretor italiano Adolfo Celi, envolvido com o TBC e também com a atriz Cacilda Becker. Tônia sabia disso; Cacilda, não. O triângulo amoroso teria consequências importantes na vida dos três e nos rumos que tomaram profissionalmente. Cacilda foi preterida por Tônia e permaneceu no TBC, antes de fundar a própria companhia. Tônia voltou ao Rio de Janeiro e levou consigo Adolfo Celi e Paulo Autran. Os três saíram juntos do TBC em 1955, e no ano seguinte lançaram a Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA).

Paulo Autran foi o grande parceiro de trabalho de Tônia Carrero. Adolfo Celi, por sua vez, foi o mentor e o diretor que a formou como atriz. Mestre, marido e mentor, ele colaborou com intensidade para projetá-la nacionalmente como atriz de teatro depois da repercussão que tivera como estrela de cinema na Vera Cruz. Em suas palavras, “o que eu aprendi com ele refletiu em tudo o que eu fiz depois […] a relação com os companheiros do palco, a disciplina em cena e nos bastidores, a observância dos contratos, o respeito pelos autores… Tudo isso foi um longo aprendizado que se iniciou no TBC e continuou em nossa companhia. Tirando meu filho, tudo ficou secundário em favor do teatro”.

Na década de 1950, havia espaço e demanda na então capital federal para a instalação de uma companhia como a deles, afinada com as linhas de força do TBC, sobretudo porque seus idealizadores eram o diretor italiano que consolidou a companhia paulista, o ator que melhor soube traduzir o espírito de renovação, de autoridade cultural e de apuro técnico do empreendimento, e a atriz de beleza incomum e apelo popular. Carioca de nascimento e com talento para o métier, Tônia já provara que, com trabalho aplicado, bom repertório e boa direção, poderia se ombrear com as grandes intérpretes de sua geração. Acertadíssima, a decisão de se transferirem para o Rio tinha como ingrediente adicional a concorrência acirrada em São Paulo. Além do Teatro Maria Della Costa e da proeminência que o Teatro de Arena estava em vias de ganhar, é preciso lembrar que, em 1956, os sinais da crise que se abateria sobre o TBC eram visíveis e só seriam parcialmente resolvidos com a entrada dos diretores brasileiros – Antunes Filho e Flávio Rangel, especialmente – e com a montagem de um repertório mais envolvido com as questões sociais e políticas do período.

A CTCA estreou com Otelo, de Shakespeare, na presença do recém-empossado presidente Juscelino Kubitschek e da primeira-dama, Sarah, ganhando destaque na imprensa. Paulo Autran fez o personagem principal e Tônia interpretou Desdêmona. Na companhia, Autran assegurou a posição de primeiro ator, ao lado do diretor que mais admirava e da atriz com quem mais se identificava e que mais lhe oferecia oportunidade para brilhar em cena. Entre 1956 e 1962, eles montaram 25 peças: 20 de autores estrangeiros e 5 de dramaturgos brasileiros. Tônia participou de 17, nem sempre como protagonista, por decisão própria. Na escolha do repertório, pesavam o seu tino empresarial, a visão de conjunto do marido e diretor Adolfo Celi, a qualidade e o senso de oportunidade para alternar peças de maior ousadia e impacto cultural com outras de maior apelo comercial. Assim, nos palcos cariocas, a companhia seguia a política de repertório adotada em São Paulo pelo TBC. Em 1958, com a transferência para o Teatro Mesbla, envolveu-se cada vez mais com “a chamada ‘society’ e a frívola crônica social, tornando menor a sua imagem cultural”, segundo Maria Inez Barros de Almeida, autora de um estudo monográfico sobre a companhia.5

Os poucos textos de dramaturgos brasileiros encenados pela CTCA passavam ao largo das questões políticas que mobilizavam o polo mais à esquerda e de maior legitimidade cultural do campo teatral – e por uma escolha deliberada de Adolfo Celi, que sempre dissociou a estética da política. Segundo Paulo Autran, “ele tinha pavor de política. Sempre teve. Lembro que, numa ocasião, fiz uma reunião com ele e Tônia e disse: ‘Celi, a gente tem que fazer uma peça política. O momento exige que se faça. Falando apenas em termos teatrais, você veja o sucesso do Arena, do Oficina, começando em São Paulo… Temos que fazer peças com ideias políticas!’. Ele respondeu: ‘Paulo, não me meto em política em hipótese nenhuma. Sofri muito com Mussolini, na Itália, e qualquer coisa que se refira à política, tenho pavor! Eu não quero’. Acho que errei totalmente por não ter insistido mais nessa atitude”.6

Essa política da recusa à política em um dos períodos de maior politização da cultura brasileira certamente teria consequências mais duras para a imagem da companhia caso ela não tivesse se dissolvido em 1962, com o fim da parceria amorosa de Tônia com Celi. Separado da atriz e sem companhia de teatro, o diretor retornou à Itália no mesmo ano, depois de 14 anos vivendo no país. Voltava, casado com uma mulher 20 anos mais nova que Tônia, para trocar a carreira de diretor pela de ator de cinema em filmes de importância cultural reduzida, embora de impacto comercial garantido, como uma série do James Bond na qual ele fazia um dos vilões. A partir de então, a carreira de Celi, se pensada à luz da autoridade cultural de que ele havia desfrutado no Brasil, sofreu um rebaixamento. Paulo Autran e Tônia Carrero, ao contrário, seguiram em ascensão.

Atriz de feitio realista, talhada como poucas pela beleza e pelo timing para a comédia requintada, Tônia aprimorou-se entre o início de sua primeira companhia, em 1949, e o final da segunda. Especialmente quando subiu no palco para interpretar, em 1967, a prostituta de Navalha na carne, de Plínio Marcos. Com esse papel, ela se despiu da personagem que encarnava há tanto tempo: a mulher elegante e sofisticada que, como atriz, era condenada aos infortúnios da beleza incomum. Pois, como é sabido, se na vida cotidiana a beleza é um trunfo e um chamariz, no teatro, ao contrário, pode ser um obstáculo ao exercício pleno do mecanismo de burla propiciado e exigido pela arte da representação. Quando colada demais à imagem de uma atriz, a beleza se converte em um empecilho para que seu corpo – suporte privilegiado para a reconversão de experiências alheias – consiga burlar os constrangimentos sociais de classe, gênero ou idade e, assim, infundir à personagem uma pletora de significados novos e inesperados. Felizmente, não foi isso que aconteceu com Tônia na peça de Plínio Marcos – um divisor de águas na dramaturgia nacional e na sua carreira. No papel de Neusa Sueli, a atriz ofuscou a beleza. Despojada e aguerrida, ela expôs no palco um lado até então desconhecido da prostituição, numa linguagem nada usual para época, e ganhou o reconhecimento unânime da crítica e do público.

1 KHOURY, Simon. Bastidores I. Rio de Janeiro: Leviatã, 1994. p. 33.
2 GUZIK, Alberto. Paulo Autran – um homem no palco. São Paulo: Boitempo, 1998. p. 116.
3 Ibid., p. 55.
4 KHOURY, op. cit., p. 69.
5 ALMEIDA, Maria Inez Barros de. Panorama visto do Rio: Companhia Tônia-Celi-Autran. Rio de Janeiro: Inacen, 1987. p. 53.
6 GUZIK, op. cit., p. 85.

Heloisa Pontes é professora titular do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista 1B de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mestra em antropologia e doutora em sociologia, trabalha com temas relacionados a produção cultural e gênero, veiculados em seus artigos e capítulos. Dois de seus livros (Destinos mistos e Intérpretes da metrópole) receberam o Prêmio Anpocs de Melhor Obra Científica, respectivamente em 2000 e 2011, e o segundo foi traduzido para o espanhol em 2016. Coorganizou, entre outros, Cultura e sociedade Brasil e Argentina e Casa-mundo.

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Santa Maria Fabril

Na peça Santa Marta fabril (1955) | foto: acervo da família/autoria desconhecida

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Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA)

crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

Manifesto da Cia. Tônia-Celi-Autran (CTCA), documento de 1956 | crédito: Biblioteca Jenny Klabin Segall/Museu Lasar Segall/Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)/Ministério do Turismo

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Manifesto lançado pela Cia. Tônia-Celi-Autran fixando as ambições estéticas do grupo e relacionando o projeto artístico por eles desenvolvido com as novas formas de encenação, composição de personagem, preparação física do ator e construção de repertório (variação entre autores clássicos e modernos). De acordo com Paulo Autran, Tônia é a espinha dorsal da companhia, sendo a mais ativa e decidida dos três fundadores e mobilizando todo o grupo com o seu entusiasmo pelos palcos.

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“Para tornar o palco um campo mágico, semeado de centeio, vida, suor, Tônia Carrero, sempre ao lado de sua perpétua e andarilha raça, se fez mutável, capaz de ser hoje os personagens que a terão abandonado amanhã, transitórios e perdidos, gerando, porém, um mundo que destila invenção, denúncia, emoção, maravilha, a mitologia humana” – Nélida Piñon, escritora, em homenagem a Tônia Carrero, 25 de novembro de 1974, trecho do livro “Amigos para sempre” (2019).

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Essa valsa é minha

Peça teatral Essa valsa é minha (1989) | foto: acervo da família/autoria desconhecida

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Quartett

Quartett (1986), espetáculo dirigido por Gerald Thomas. O trabalho rende a Tônia o seu segundo prêmio Molière de Melhor Atriz | foto: acervo da família/autoria desconhecida

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Vamos procurar o público

Jacqueline Laurence fala sobre a convivência e o trabalho com Tônia, em especial na peça “A amante inglesa” (1983). Ela relembra a aventura das atrizes para buscar público para a apresentação.

Depoimento gravado em maio de 2022.

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A divina Sarah

A divina Sarah (1984) | foto: acervo pessoal/autoria desconhecida

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Falando de rosas

Certidão da Censura Federal liberando a produção da peça Falando de rosas (1969), de Frank D. Gilroy | imagem: acervo da família

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Websérie se debruça sobre quatro peças montadas por Tônia Carrero

Entremeando as linguagens do teleteatro e a documental, a websérie Tônia, um corpo político trabalha com quatro peças que Tônia Carrero, homenageada da 56ª Ocupação Itaú Cultural, levou para os palcos. As obras, cada uma abordada em um episódio, são Frankel, de Antonio Callado; Um deus dormiu lá em casa, de Guilherme Figueiredo; Calúnia, de Lillian Hellman; e Quartett, de Heiner Müller. Todos os espetáculos, vale ressaltar, evidenciam escolhas políticas transgressoras de Tônia e é esse o viés que perpassa a série criada pelo diretor e roteirista Fabiano Dadado de Freitas.

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“Frankel” | Série “Tônia, um corpo político”

[classificação indicativa: 12 anos]

Escrita por Callado em 1957 especialmente para ser estrelada por Tônia, Frankel é um drama em três atos que se passa em uma cabana do Serviço de Proteção aos Índios no Alto Xingu. Na ficção, a atriz vivia uma antropóloga do Museu Nacional que se depara com a misteriosa morte de Frankel, um pesquisador inescrupuloso. Com uma atualidade impressionante, já no fim da década de 1950 a obra denuncia o genocídio indígena no Brasil e os conflitos com grileiros e extratores de madeira ilegal. Na cena escolhida, o indigenista João Camargo (Ronaldo Serruya) expõe a Estela (Tatiana Ribeiro) os duvidosos métodos de Frankel ao lidar com os povos originários.

 

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“Um deus dormiu lá em casa” | Série “Tônia, um corpo político”

[classificação indicativa: 12 anos]

Tônia e Paula Autran estrearam Um deus dormiu lá em casa em 1949, um dos maiores sucessos da carreira de ambos. Montada pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), a peça revisita a clássica história de Anfitrião e Alcmena. Na versão do século XX, Anfitrião se disfarça do deus Júpiter para testar a fidelidade de sua esposa. No entanto, ela percebe o estratagema e manipula a situação conjugal, em uma atitude reveladora da possibilidade da autonomia feminina. Na cena escolhida, Anfitrião (interpretado aqui por Gabriel Lodi), pateticamente disfarçado, inicia o teste de fidelidade. Rudá interpreta Alcmena.

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“Calúnia” | Série “Tônia, um corpo político”

[classificação indicativa: 10 anos]

Filmado em Hollywood com o título Infâmia (tendo Audrey Hepburn e Shirley MacLaine em tela), o clássico de Lilian Hellman fala sobre o amor entre duas mulheres, então proibido em uma cidade interiorana dos Estados Unidos. Com direção de Adolfo Celi e ao lado das atrizes Margarida Rey e Monah Delacy, Tônia Carrero protagonizou e traduziu a obra em questão. A cena selecionada é a que dá origem à calúnia sofrida pelo casal, quando Tia Lily revela a Marta que percebeu a paixão da sobrinha por uma amiga. No elenco da criação de agora, Camilla Flores faz Marta, a sobrinha, e Maura Ferreira tem o papel da tia.

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“Quartett” | Série “Tônia, um corpo político”

[classificação indicativa: 14 anos]

Levada à cena na década de 1980, Quartett representa um perigoso jogo de sedução. Com encenação assinada por Gerald Thomas e Sérgio Britto no elenco, a personagem de Tônia possibilitou à atriz explorar os meandros da paixão e da morte. A cena revivida em formato de teleteatro traz um recorte de alguns dos textos da peça original. Flavia dos Prazeres interpreta Merteuil e Leandro Vieira faz Valmont.

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Certidão da Censura Federal liberando a produção da peça Falando de rosas (1969), de Frank D. Gilroy | imagem: acervo da família

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“Teatro foi o berço, a casa,
a cama e a mesa, e vi
a imagem de corpo inteiro.
Onde o sonhado esplendor?
Que importa? Me reconheço.
Recomeço.
Minha vida. Minha morte.
Meu amor”

Tônia Carrero em “O mostro de olhos azuis” (1986)

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Doce pássaro da juventude

Ensaio fotográfico de Milton Guran, no camarim do espetáculo Doce pássaro da juventude (1976) | foto: Milton Guran

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