Estudo elaborado por Mario Pedrosa e Lívio Xavier e publicado em 1931.
O NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO NO BRASIL
O modo de produção capitalista e a acumulação — e, portanto, a propriedade privada capitalista — foram diretamente exportados das metrópoles para o Novo Mundo. A base do sistema capitalista é a expropriação da massa do povo; mas, nas colônias em geral, o excesso de terra pode ser transformado em propriedade privada e em meio individual de produção. O colono livre sempre teve a possibilidade de se tornar proprietário de seu meio de produção, ou seja, podendo o trabalhador acumular para si mesmo, torna-se impossível a acumulação e o modo de produção capitalista. Essa foi a contradição que a burguesia da metrópole teve que resolver, “o segredo de seu florescimento e o de sua gangrena” (Marx). A dependência do trabalhador em relação ao capitalista, proprietário dos meios de produção, teve de ser criada por meios artificiais: a apropriação da terra pelo Estado, que a converteu em propriedade privada, e a introdução da escravidão indígena e negra; em resumo, a colonização sistemática.
No Brasil, a acumulação primitiva de capital ocorreu de maneira direta: a transformação da economia escravagista em assalariada nos campos e o fluxo imigratório, que já havia começado antes da abolição da escravidão, tinha como objetivo fornecer mão de obra para a grande cultura cafeeira [1]. O que ocorreu aqui foi o que Marx chama de “uma simples mudança de forma”. O Brasil nunca foi, desde sua primeira colonização, nada mais do que uma vasta exploração agrícola. Seu caráter de exploração rural colonial precedeu historicamente sua organização como Estado. Não havia terra livre aqui; não se conheceu o colono livre, dono de seus meios de produção, mas sim o aventureiro da metrópole, o nobre português, o comerciante holandês, o missionário jesuíta — que não tinham qualquer outra base senão o monopólio das terras. Sob uma forma peculiar de feudalismo, todos vinham explorar a força de trabalho do indígena adaptado e do negro importado [2].
A classe dos pequenos proprietários, um fator da pequena produção, geralmente anterior ao regime capitalista e cuja expropriação é um fator determinante deste, não pôde se desenvolver na formação econômica do Brasil. O Estado brasileiro sempre se caracterizou por um rígido esquematismo de classe. A sociedade monárquica se baseava na exploração do trabalho escravizado por uma minoria de senhores de terra, e a monarquia durou dois terços de século em meio à turbulência dos vizinhos do continente, prolongando, através da passividade burocrática, a vida de um regime político já caduco. Trabalho escravo, latifundium, produção dirigida pelos senhores de terra com sua clientela, burguesia urbana e uma camada insignificante de trabalhadores livres, tanto na cidade quanto no campo — essas foram as particularidades que marcaram a formação econômica e política do Brasil na América Latina, onde, em geral, a falta de uma agricultura organizada resultou na luta pela terra contra o indígena, e a luta contra o monopólio do comércio mantido pela coroa da Espanha. Nas colônias espanholas, o colono vivia de criação de gado e contrabando.
A destruição do regime escravista, que foi determinada pelas necessidades do desenvolvimento capitalista no Brasil, abriu ao mesmo tempo novas oportunidades para a indústria inglesa, que então monopolizava o mercado mundial. A burguesia brasileira nasceu no campo, não na cidade. A produção agrícola colonial foi desde o início destinada aos mercados externos. No século XVII, o Brasil foi o principal produtor de açúcar do mundo. Dos dois eixos de colonização: Bahia-Pernambuco e São Paulo-Rio de Janeiro, o primeiro obteve uma vantagem considerável sobre o segundo. Nas capitanias do norte, o braço africano construiu em vastas propriedades a prosperidade da aristocracia rural. No entanto, a produção de açúcar no Brasil foi gradualmente vencida, pouco a pouco, pela concorrência externa e tendeu a se restringir às necessidades do mercado interno. Com a descoberta das minas de ouro, o centro da atividade econômica da colônia se deslocou para o interior dos estados de Minas Gerais e da Bahia [3]. O trabalho foi atraído para essas regiões e o movimento agrícola diminuiu. A prospecção mineralógica tornou-se a indústria principal, cujo desenvolvimento caracteriza o século XVIII. A decadência das minas, porém, exploradas por métodos rudimentares, rapidamente começou. A pobreza do minerador, a falta de escravizados e a pressão fiscal se uniram. Voltou-se à exploração agrícola (cereais, cana-de-açúcar, tabaco, algodão).
A cultura do café começou relativamente tarde, nas regiões montanhosas vizinhas ao Rio de Janeiro. Desde esse momento, assumiu as características particulares que conserva até hoje [4].
A República foi imposta no Brasil pela burguesia cafeeira do estado de São Paulo, que não podia se contentar com uma forma de produção reacionária e patriarcal [5]. Com o advento da república, esse estado impôs sua hegemonia à Federação. Para que o desenvolvimento capitalista pudesse ocorrer nas antigas províncias sem graves choques, unidas por laços puramente políticos mas, em compensação, separadas por uma quase incomparável diversidade de possibilidades econômicas, os legisladores da constituinte conferiram à República uma forma federativa.
O notável desenvolvimento da cultura do café é, tipicamente, um desenvolvimento capitalista. Todas as condições necessárias para uma grande exploração estavam presentes: terras virgens, ausência de rendas fundiárias, possibilidades de aprimoramento na produção, em resumo, possibilidades de monocultura. Assim, o cafeicultor faz convergir simultaneamente todos os seus meios de produção para um único objetivo e, consequentemente, obtém lucros até então desconhecidos. Esse tipo de exploração determinou uma prosperidade favorável ao desenvolvimento do capitalismo sob todas as suas formas. Desse modo, o sistema de crédito, o desenvolvimento da dívida hipotecária, o comércio nos portos de exportação, tudo isso preparou uma base capitalista nacional. A mão de obra que faltava foi importada. A imigração assumiu então um caráter de empreendimento industrial.
A BURGUESIA E O PODER
As lutas políticas que a República tem enfrentado até agora, geralmente, durante as eleições presidenciais, se desenrolam ao redor dos grupos políticos dominantes no estado de São Paulo. A diferenciação econômica entre os Estados da Federação está se acentuando cada vez mais. A burguesia de São Paulo, aliada à de Minas Gerais, tomou conta do governo federal. As representações parlamentares dos estados secundários tornaram-se representantes do poder central nos estados, em vez de — de acordo com a ficção constitucional — representar os estados junto ao poder central. Mas o processo econômico gradualmente se estendeu por todo o território brasileiro, e, à medida que o capitalismo penetrou em todo o Brasil, transformando as bases econômicas mais atrasadas. Conforme o Brasil avança economicamente, integra-se cada vez mais à economia mundial e entra na esfera de influência imperialista [6]. Com a Grande Guerra e o protecionismo, o impulso industrial se intensificou, complicando as relações de classe e os problemas decorrentes delas. Até então, a política da burguesia era direcionada para manter o monopólio da produção cafeeira no mercado mundial. Com o advento da indústria e de uma maior penetração capitalista, o problema principal se complicou com a necessidade de criar mercados internos. A política interna está cada vez mais subordinada a essa questão fundamental: o recente desenvolvimento de estradas, a política financeira de estabilização, a intervenção direta do governo federal nos assuntos dos estados não têm outra explicação. A urgência e a escassez dos mercados internos são um dos pontos nevrálgicos da instabilidade econômica e política do Brasil.
Para o desenvolvimento dos mercados internos, todos os meios são utilizados, e um governo forte e centralizado é a condição essencial. O avanço imperialista é um irritante agente que acelera e agrava as contradições econômicas e de classes. O imperialismo altera constantemente a estrutura econômica dos países coloniais e das regiões submetidas à sua influência, impedindo o desenvolvimento capitalista de seguir um curso normal, não permitindo que esse desenvolvimento ocorra de maneira formal dentro dos limites do Estado. Por essa razão, a burguesia nacional não tem bases econômicas estáveis que lhe permitam construir uma superestrutura política e social progressista. O imperialismo não lhe dá tempo para respirar, e o fantasma da luta de classes proletária retira dela o prazer de uma digestão tranquila e feliz. Ela deve lutar em meio ao turbilhão imperialista, subordinando sua própria defesa à defesa do capitalismo. Daí sua incapacidade política, sua reacionarismo cego e vil e — em todos os aspectos — sua covardia. Nos países novos, diretamente subordinados ao imperialismo, a burguesia nacional, ao aparecer na arena histórica, já era velha e reacionária, com ideais democráticos corrompidos. A contradição que faz com que o imperialismo, — ao revolucionar de forma permanente a economia dos países submissos a ele —, atue como fator reacionário na política, encontre sua expressão em governos fortes, na subordinação da sociedade ao poder executivo. É assim que se repete na fase imperialista por um processo análogo, a subordinação da sociedade ao poder executivo, na qual Marx via a expressão da influência política dos camponeses parcelares. Além disso, as necessidades do desenvolvimento industrial têm, como condição essencial, o apoio direto do Estado: a indústria nasce ligada ao Estado por um cordão umbilical. O fortalecimento gradual do poder executivo é, além disso, um processo regular e sistemático do desenvolvimento industrial em países politicamente secundários, como demonstrado por Trotsky para a Rússia czarista. Esse processo se intensificou aqui [Brasil] desde a Grande Guerra, coincidindo com a predominância do imperialismo americano no cenário mundial, especialmente na América Latina. Ou seja, desde o governo do presidente Epitácio Pessoa. Foi então que a reação se tornou sistemática e assumiu um caráter de classe muito claro. A apologia dos governos fortes, a divinização da ordem, o ataque à democracia e ao liberalismo foram os principais pontos da ideologia reacionária que surgiram da fumaça das chaminés das fábricas e dos dreadnoughts [7] americanos. O governo de Epitácio Pessoa (1920-1922) marcou o auge da onda do constitucionalismo e do fetichismo da autoridade constituída. Durante os mandatos seguintes, o governo foi tomado pela obsessão histérica pela ordem e o regime social. Washington Luís, o presidente cujo mandato se encerrou em 15 de novembro de 1930, representa a hipertrofia do poder executivo, já separado dos interesses imediatos da fração da burguesia que o elevou ao poder. Aqui, mais uma vez, é confirmado o que Trotsky disse sobre a relação entre as classes burguesas e o czarismo, ou seja, que não era a força dessas classes que determinava o poder da monarquia russa, mas sua fraqueza. No Brasil, todas as classes são subordinadas ao executivo, e os slogans liberais mais banais têm um caráter subversivo para o governo. A conversa fiada de Maurício de Lacerda, seu frenesi pequeno-burguês, assume para o governo a aparência de declarações comunistas. Tais liberais aplaudem a repressão policial quando esta é exercida sobre as organizações proletárias. Marx disse que na véspera do golpe de Estado de Napoleão III, a burguesia francesa rotulou de heresia “socialista” o que antes celebrava como “liberal”, reconhecendo assim que, para conservar intacta sua força social, ela precisava romper com seu poder político, que a burguesia não pode continuar a explorar as outras classes e desfrutar tranquilamente de propriedade, família, religião e ordem, a menos que sua classe seja condenada à mesma nulidade política que as outras classes, declarando assim que sua dominação política é incompatível com sua segurança e própria existência.
CENTRALIZAÇÃO E FEDERAÇÃO
A burguesia de São Paulo sacrificou seus interesses gerais de classe e seu interesse político em prol de interesses particulares mais limitados, mais imediatamente materiais, sem considerar qualquer solidariedade de classe de caráter coletivo. Daí surge a luta de parte da burguesia nacional contra o “Partido Republicano Paulista”. Sob o regime burguês, o aparato estatal tende naturalmente a evoluir para uma centralização crescente. No Brasil, certas causas específicas definem e aceleram esse processo: a extensão territorial, a baixa densidade populacional, sua agricultura industrializada devido ao caráter especial da produção, a ausência de renda fundiária que faz o proprietário da terra se confundir com o proprietário da exploração agrícola; o desenvolvimento desigual do capitalismo, a divisão política que legaliza a supremacia dos estados mais fortes sobre os mais fracos; o impulso industrial progressivo e a pressão imperialista. Essa centralização se intensificou com o desenvolvimento industrial e a intervenção do capital americano, isto é, assim se mostrou a necessidade de criação de mercados internos. O poder federal se fortaleceu e a constituição foi reformada para facilitar a intervenção da União nos estados. Conforme a centralização da máquina governamental avança, a burguesia, sentindo-se protegida dos perigos e incômodos do governo, tende a se identificar com seus interesses gerais. O aparato do Estado federal se adapta cada vez melhor aos interesses econômicos da burguesia, diretamente devido à sua centralização. Se, atualmente, serve imediatamente aos interesses dos partidos dominantes de São Paulo, amanhã pode servir aos interesses dos partidos dominantes da burguesia de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. A atual revolta desses dois estados, que por motivos circunstanciais arrastam a Paraíba, é feita em nome da autonomia dos estados, pela defesa da Federação. Assim, os políticos desses estados defendem suas próprias posições. Se eles se resignarem a sofrer as violências do governo federal, isso significaria a conclusão no Brasil do processo centralizador do aparato estatal, consagrando a hegemonia definitiva de São Paulo sobre os demais estados da Federação. A revolta atual indica o contrário: a fórmula definitiva ainda não foi encontrada. A contradição entre a necessidade premente de centralização e a forma política federativa é evidente. O processo econômico exige centralização, enquanto a formação histórica dos estados exige a Federação como condição para a unidade nacional. Com o desenvolvimento capitalista dos outros estados do Brasil, é natural que os partidos dominantes nesses estados queiram participar cada vez mais — em pé de igualdade — na gestão do aparato do governo central. Assim, o poder executivo se tornou, na sociedade brasileira, a força decisiva que permite à oligarquia do partido que o exerce uma dominação quase completa. A burguesia nacional vê o poder do Estado escapar de suas mãos e é obrigada a ceder o controle político à ação internacional imperialista, devido à sua incapacidade histórica de agir coletivamente como classe. Suas diferentes frações não têm tradições políticas comuns, não se formaram com a consciência de seus interesses comuns de classe e não foram obrigadas a expropriar uma classe de pequenos proprietários de terra. Suas tradições históricas são principalmente nacionalistas, eles lutam contra invasores estrangeiros, mas essa foi uma luta episódica que nunca se estendeu a todo o país, mas, ao contrário, conservou um caráter regional e, por isso, foi rapidamente esquecida durante o longo desenvolvimento histórico posterior. A burguesia só começa a adquirir sua consciência de classe graças ao seu medo da revolução social. No Brasil, os partidos políticos, expressão das oligarquias políticas, não podem ter caráter nacional ou tradições políticas a defender. Essas oligarquias têm cada vez mais necessidade do poder federal à medida que o Estado se fortalece e se centraliza e o capitalismo transforma a base econômica sobre a qual repousam. Daí a luta constante pela Presidência da República. A revolta atual marca um momento desse processo. Os estados revoltados estão tentando resolver por meio das armas a violenta contradição entre a forma política federativa e o desenvolvimento pacífico das forças produtivas. A burguesia brasileira busca uma forma conciliatória entre a tendência centralizadora do governo e a forma federativa, garantia da unidade política do Brasil.
UNIDADE NACIONAL
A unidade nacional tem sido mais uma conquista política do que uma consequência econômica. Chegou a hora de colocá-la à prova. A burguesia nacional está tentando consolidá-la por meio das armas, o que é aparentemente paradoxal, mas, no fundo, obedece à dialética do processo econômico. O desenvolvimento das forças produtivas no âmbito nacional obriga a uma luta por uma fórmula política adequada para o equilíbrio dos estados prestes a iniciar seu avanço capitalista. Se a indústria de São Paulo carece de mercados, a indústria nascente e o caráter da policultura do Rio Grande do Sul desejam uma proteção mais atenta do governo central. A produção diversificada de Minas Gerais e suas perspectivas de desenvolvimento da indústria pesada exigem uma maior participação no poder central, além dos motivos políticos de seu levante, resumidos em repercussões: a quebra da aliança tradicional com São Paulo para o exercício do governo federal. O Nordeste exige uma intervenção menos precária da União, a fim de resolver de forma mais sistemática os problemas fundamentais de sua economia, possibilitando um desenvolvimento mais regular de suas forças produtivas. Os interesses dos imperialistas agravam ainda mais as contradições, pesando excessivamente sobre o Estado. O balanço de pagamentos tem sido constantemente deficitário, de modo que o Estado não teve outra opção senão pedir empréstimos a Londres e Nova York. Essa necessidade de recorrer constantemente ao crédito para cobrir a dívida anterior — um processo clássico de acumulação imperialista — teve, como consequência natural, o aumento progressivo dos impostos e, consequentemente, a expropriação das classes rurais e proletárias. O empobrecimento dessas classes torna difícil, por um lado, o desenvolvimento dos mercados internos existentes e ainda mais difícil a formação de novos. Ao mesmo tempo, — devido à crise atual do café, que favorece para uma maior racionalização da cultura —, a tendência à diferenciação das classes no campo continua como um fator favorável à criação de novos mercados internos. A concentração da propriedade e sua divisão são a base contraditória do processo, ainda favorecido pelo desenvolvimento da luta armada, pela formação de uma classe média de pequenos proprietários. Por si só, um agrupamento aparece na arena política do Brasil como uma formação estranha à tradição histórica e econômica do país. Tem sua origem muito mais nos fluxos migratórios estrangeiros do que nas antigas populações rurais brasileiras e, por sua própria natureza, seus interesses são regionais. Por outro lado, sua economia fornece a base regional para um sentimento patriótico que não ultrapassa as fronteiras de um estado. Por necessidades de autodefesa, pode buscar impor sua vontade de classe sobre a base provincial, mas, na atual fase histórica do imperialismo, está irremediavelmente condenada, pois sua ascensão como classe no Estado tem como consequência a penetração ainda maior e mais constante de capitais estrangeiros, submetendo-a assim mais diretamente à dominação imperialista. Assim, a independência nacional se torna ainda mais precária, e a conservação da unidade política do país se torna mais difícil, já que a pequena propriedade não tem qualquer interesse específico na questão da unidade nacional.
Mas, independentemente do resultado da luta atual, a unidade do Brasil mantida pelo domínio da burguesia será garantida na razão direta da exploração crescente das classes oprimidas e do rebaixamento sistemático das condições de vida do proletariado. O grau mais ou menos elevado de sua consciência de classe, o tempo mais ou menos longo que levará para se formar, decidirão o destino dessa unidade, neste momento impossível nos estreitos limites capitalistas do Estado burguês nacional.
Em pleno turbilhão revolucionário, em 1917, Lênin deu como palavra de ordem primordial a necessidade de organização do proletariado. No Brasil, nas condições atuais, o trabalho mais urgente do proletariado é a criação de um verdadeiro partido comunista de massas, capaz de orientá-lo para sua tarefa histórica: a instauração da ditadura proletária e a preservação da unidade nacional pela organização do Estado soviético.
- CAMBOA. [Mario Pedrosa]
- LYON. [Lívio Xavier]
Outubro de 1930.
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NOTAS
[1] Os dois fatores contrários ao estabelecimento de uma grande corrente imigratória, o regime de latifundium, o monopólio dos grandes senhores da terra, de fato e de jure, e a força do trabalho escravo, que criaram ambientes pouco propício ao desenvolvimento rápido do trabalho livre na exploração agrícola, sofreram um primeiro golpe com a abolição da escravatura, expressão jurídica de um processo econômico de que podemos compreender claramente a evolução, a partir de 1884, época em que a imigração aumentou progressivamente, apoiada em abundantes subsídios dados pelo Império.
Na província de São Paulo, a progressão foi a seguinte:
1884 — 4.879 imigrantes
1885 — 6.500
1886 — 9.356
1887 — 32.112
1888 — 92.086
(Dioclécio D. Duarte. Estudos de economia brasileira, p. 72).
[2] A coroa portuguesa distribuiu as terras do Brasil, repartidas em capitanias, a seus nobres e serviçais. O capitão-geral (governantes da capitania), não conseguindo ocupar as terras, teve de recorrer ao braço escravo. Enquanto a exploração das terras tinha caráter extensivo, o indígena servia; mas desde que o trabalho se tornou intensivo, foi mister importar negros da África. Em 1857 a capitania da Bahia já contava, para fazer face às demandas da cultura açucareira, além de 6.000 indígenas, 4.000 escravizados africanos.
[3] Humboldt diz que o Brasil forneceu metade do ouro da produção americana. As “bandeiras” (expedições) de São Paulo para a caça dos indígenas transformaram-se, pouco a pouco, em empresas de prospecção.
[4] “Perto do fim do século XVIII, certas culturas do Pará foram introduzidas na província do Rio de Janeiro. O vale do Paraíba prosperou, as plantações ganharam, pouco a pouco, a província de São Paulo. Foi a partir de 1835 que o desenvolvimento dos cafezais paulistas tornou-se considerável.” (Delgado de Carvalho: O Brasil Meridional.)
A progressão da porcentagem paulista na produção brasileira foi a seguinte:
1840 — 2,8 %
1860 — 10,5 %
1870 — 15,1 %
1880 — 27,5 %
1890 — 50 %
O Partido Republicano Paulista foi fundado em 1873, em Itu.
[5] Desde o período colonial, a metrópole instituiu a colonização livre. Em 1746, 4.000 famílias foram transportadas da Ilha da Madeira e das Açores ao Brasil. As primeiras concessões de terras aos estrangeiros residentes no Brasil foram efetuadas em 1808, mas a colonização oficial só foi tentada em 1818, com o estabelecimento de uma colônia de suíços e alemães. As tentativas oficiais de colonização livre, com a institucionalização da pequena propriedade, chocavam-se com o regime geral de grande propriedade rural e com o caráter industrial da produção agrícola no Brasil, dependente, desde o começo, do mercado mundial. O proprietário do latifundium viu-se obrigado a importar a força de trabalho, mas não lhe convinha importá-lo como pequeno proprietário isolado. Com a decadência do tráfico africano, a substituição do escravo pelo trabalhador assalariado tornou-se preocupação constante dos senhores da terra. O relatório da missão Abrantes, enviado em 1848 pelo Império à Alemanha, é edificante. Com o objetivo de prevenir a crise iminente – o tráfico tendia a cessar – o marquês de Abrantes propunha, entre outras coisas, as seguintes medidas: “Instituir a colonização, atraindo braços livres e capitais; provocar a separação da agricultura e da usina, na grande cultura cafeeira e açucareira; organizar por meio de regulamentos e pela ação da polícia local, o trabalho entre os libertos, obrigando-os a ´alugarem-se´ junto aos fazendeiros”.
A introdução sistemática do trabalhador assalariado pela agricultura paulista (imigração mantida financeiramente pelo Estado ou explorada por grandes companhias particulares), começou sob o ministério Cotegipe (1886). Antes disso, os fazendeiros paulistas deveriam importar de outras províncias grupos de escravos, sobretudo das províncias do Norte.
[6] Média anual, por período de 5 anos, da diferença entre exportação e importação:
Saldo favorável à exportação (em milhares de L.)
1901-1905………14.681
1906-1910………16.794
1911-1915………11.743
1916-1920………15.478
1921-1925………17.179
1926-1930………9.773
Dívida externa do Brasil (União, Estados e Municípios):
L.: 244.700.770 (aproximadamente).
Serviço da dívida:
Dívida do Estado, L.: 500.000 (aproximadamente).
Dívida privada, L.: 16.000.000.
Capital estrangeiro empregado no Brasil (Estimativa do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro).
Capital inglês (1929):
Indústrias………L. 122.000.000
Empréstimos………L. 180.436.000
Total………L. 302.436.000
Capital francês (1929):
Indústrias………frs. 1.500.000.000
Empréstimos………frs. 717.000.000
Total………frs. 2.217.000.000
Capital americano (1929):
Indústrias………$ 125.000.000
Empréstimos………$ 355.200.000
Total………$ 480.200.000
Capital alemão, italiano, português, holandês e outros.
Estimativa: $350.000.000.
[7] Nota do tradutor: Dreadnought foi um tipo de navio de guerra couraçado no início do século XX.