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Pensamento e militância política

A atuação de Mario Pedrosa se mistura com seu pensamento político e a militância exercida durante toda a sua vida. Coerente com seus ideais, acabou participando de diferentes movimentos: foi comunista, abandonou o trotskismo, adotou o socialismo democrático e manteve-se sempre engajado na luta contra injustiças sociais e pelas liberdades.

Aos 26 anos, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo e entrosado com personagens do meio artístico e intelectual progressista, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo enviado para Moscou, na Rússia, um ano depois. Adoecido durante a viagem, instalou-se em Berlim, na Alemanha, e passou a frequentar cursos de filosofia e sociologia na universidade.

Após uma viagem a Paris, na França, onde conheceu o grupo surrealista – entre os integrantes estava o escritor e teórico francês André Breton –, Mario se aproximou das ideias de León Trótski e da oposição ao regime stalinista, o que o levou a participar da formação da Quarta Internacional, organização dissidente trotskista. Em 1929, foi expulso do PCB por discordar da linha do partido, stalinista.

De volta ao Brasil, nesse mesmo ano, tentou arregimentar militantes e lançou o jornal A Luta de Classe. Foi nele que Pedrosa e Lívio Xavier escreveram a primeira análise econômica marxista sobre o Brasil, em 1931: o estudo “Esboço de uma análise da situação econômica e social do Brasil”.

Em 1931, participou da Liga Comunista do Brasil (LCB) e, dois anos depois, coligou-se à Frente Única Antifascista (FUA), que uniu vertentes de esquerda contra o movimento integralista que havia surgido no Brasil, uma versão local do fascismo que se desenvolvia na Europa. Um enfrentamento histórico entre as duas correntes aconteceu em 7 de outubro de 1934, na chamada Batalha da Sé, em que a FUA foi às vias de fato contra os integralistas. Pedrosa foi baleado no confronto. O acontecimento foi um dos responsáveis por minar o crescimento do integralismo, logo considerado irrelevante no jogo político nacional.

Em 1938, ele passou a compor o Secretariado Internacional (SI) do movimento pela Quarta Internacional. A proximidade com Trótski foi interrompida no início da década de 1940, quando Pedrosa foi acusado publicamente de desertor e traidor do movimento.

Em 1945, participou da fundação da União Socialista Popular (USP) e da organização do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 1956, ele atuou na criação da Ação Democrática (AD) e, dez anos após, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tendo sido candidato a deputado federal em 1966, mas não se elegeu.

Depois de retornar de seu último exílio, em 1977, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980.

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Trajetória na militância

Avesso a dogmas, contrário a doutrinas rígidas, Mario se engajou desde a juventude na política de esquerda, mantendo sempre uma posição crítica e sua liberdade intelectual. Influenciado pelo marxismo, atuou na linha trotskista e, mesmo não sendo “um homem de partido”, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Em entrevista ao Itaú Cultural, a fotógrafa Bel Pedrosa, o músico e artista visual Quito Pedrosa e o escritor e jornalista Luiz Antônio Araujo comentam essa trajetória na militância.

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Mario Pedrosa, s.d. imagem: autoria desconhecida Centro de Estudos do Movimento Operário Mario Pedrosa (Cemap) – Acervo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem/Unesp)

Mario Pedrosa, s.d.
imagem: autoria desconhecida
Centro de Estudos do Movimento Operário Mario Pedrosa (Cemap) – Acervo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem/Unesp)

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"Dividido entre o entusiasmo militante – inspirado na revolução que derrubou uma das mais potentes e cruéis monarquias do planeta – e sua vibrante e avassaladora capacidade crítica e de formulação intelectual, Pedrosa jamais aquietou-se no conforto de posições políticas oportunistas. Ao contrário, até o fim de sua vida, sempre optou pela agudeza da crítica e pela permanência de sua inteligência autônoma, inquieta e criativa a serviço do que entendia como mais justo e certeiro para o triunfo das ideias socialistas e a emancipação dos trabalhadores."

José Castilho Marques Neto em texto para a publicação desta mostra

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Esboço de uma análise da situação econômica e social do Brasil

Trechos do estudo elaborado por Mario Pedrosa e Lívio Xavier e publicado em 1931.

“O formidável desenvolvimento da cultura cafeeira é, tipicamente, um desenvolvimento capitalista. Todas as condições necessárias para a grande exploração estavam reunidas: terras virgens, ausência de rendas fundiárias, possibilidades de maior especialização na produção, numa palavra, possibilidades de monocultura. Assim, o cafeicultor faz convergir simultaneamente todos os seus meios de produção para um único objetivo e, por conseguinte, obtém benefícios até então desconhecidos. O tipo da exploração determinou, portanto, prosperidade favorável ao desenvolvimento do capitalismo sob todas as suas formas. Desse modo, o sistema de crédito, o crescimento da dívida hipotecária, o comércio nos portos de exportação, tudo ajudava a preparar uma base capitalista nacional. Os braços que faltavam foram importados. A imigração adquiriu, a partir daí, caráter de empresa industrial.”

“[…] o processo econômico estendeu-se pouco a pouco a todo o território brasileiro e o capitalismo penetrou todo o Brasil, transformando as bases econômicas mais retardatárias. À medida que progride economicamente, o Brasil integra-se cada vez mais à economia mundial e entra na esfera de atração imperialista. Com a Grande Guerra e o protecionismo, o crescimento industrial acentuou-se, complicando as relações de classe e os problemas decorrentes. A política da burguesia orientava-se, até então, no sentido da manutenção do monopólio da produção cafeeira no mercado mundial. Com o surto da indústria e da maior penetração capitalista, o problema principal complicou-se com a necessidade da criação de mercados internos. A política interna encontra-se cada vez mais subordinada às seguintes questões: o recente desenvolvimento das rodovias, a política financeira de estabilização, a intervenção direta do governo federal nos negócios dos estados não têm outra explicação. A urgência e penúria do mercado interno constitui [sic] um dos pontos nevrálgicos da instabilidade econômica e política do Brasil.”

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Mario Pedrosa e seu grande amigo e interlocutor, Livio Xavier. Além deles, em sentido horário estão o bancário Mario Xavier, Mary Houston e a tradutora Berenice Xavier. A data é 1933 Centro de Estudos do Movimento Operário Mario Pedrosa (Cemap) – Acervo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem/Unesp)

Mario Pedrosa e seu grande amigo e interlocutor, Livio Xavier. Além deles, em sentido horário estão o bancário Mario Xavier, Mary Houston e a tradutora Berenice Xavier. A data é 1933
Centro de Estudos do Movimento Operário Mario Pedrosa (Cemap) – Acervo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem/Unesp)

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Carta aberta a um líder operário

Durante a ditadura militar no Brasil, Mario Pedrosa manteve sua intensa atividade nos terrenos da crítica de arte e do debate político com a publicação de artigos e livros. Após a promulgação do Ato Institucional no 5 (AI-5), em dezembro de 1968, participou de diversos embates contra a censura e as perseguições impostas pelo regime. Dois anos depois, foi processado pelo governo militar por denunciar torturas. Com sua prisão decretada, exilou-se no Chile. Após a queda do então presidente chileno, Salvador Allende, foi ao México e depois a Paris, onde passou o restante de seu longo exílio.

Em 1978, em meio à eclosão de greves e protestos operários e estudantis no Brasil, escreveu uma carta ao líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, saudando sua atuação. Mario foi um entusiasta da criação de um partido da classe trabalhadora, ideia que levou a Lula. Foi personagem central na organização do PT, fundado em 1980, um ano antes de sua morte. Em reconhecimento a sua liderança nesse processo, foi contemplado com a ficha de primeiro filiado da agremiação.

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Mario Pedrosa em seu apartamento no Rio de Janeiro, em 1959. Espaço sempre aberto a amigos e artistas, o lugar também era habitado por muitas obras de arte imagem: Luciano Martins acervo Família Pedrosa

Mario Pedrosa em seu apartamento no Rio de Janeiro, em 1959. Espaço sempre aberto a amigos e artistas, o lugar também era habitado por muitas obras de arte
imagem: Luciano Martins
acervo Família Pedrosa

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